A pandemia e os desafios do setor
28-04-2021
Estamos em abril de 2021 e é importante refletir sobre o futuro.
Em tempos de crise, provocada pela pandemia da Covid‑19, temos que abordar os mesmos temas, discutir como vamos sobreviver e, depois, como desenvolver um setor que tem problemas de definição, enquadramento, estratégia, concertação e visibilidade política.
A pandemia colocou todo o setor em profunda crise há mais de um ano, com grandes diminuições de faturação (acima dos 80%), com muitas das empresas a não conseguirem chegar aos apoios (pelos mais diversos motivos) e obrigadas a ter um confinamento que limita o exercício da atividade.
Por muitas vitórias que se tenham alcançado e trabalhando a reabertura, a crise mantém‑se e a situação não irá melhorar nos tempos mais próximos.
No entanto, é importante refletir e partilhar alguns ensinamentos sobre toda a situação.
O futuro dos eventos e da animação turística não será o mesmo. A opção dos eventos virtuais e mistos veio para ficar, os eventos corporativos têm novas dimensões, a fruição das experiências de animação turística serão diferentes, a massificação tenderá a regredir, a sustentabilidade a aumentar. O setor vai evoluir e reajustar‑se, sendo expectável que apareçam novos modelos de organizar e avaliar eventos, assim como de vivenciar programas de animação turística.
Não podemos deixar de pensar que temos de continuar a estruturação do setor para o adequar melhor aos desafios. A animação turística e os eventos têm uma existência jovem e ainda não tiveram tempo para estarem refletidos em todos os modelos organizacionais da sociedade portuguesa. Em muitos dos organismos do Estado ainda não têm a presença e estatuto natural, que a atual sociedade lhes dá, provocando um desfasamento entre o que existe na vida económica, sóciocultural e nas tendências do futuro, com o que está explícito na estrutura e na cultura organizacional do Estado e do funcionamento do mesmo.
No caminho da afirmação do setor feito pelas empresas com o seu trabalho, e pela APECATE com o seu trabalho, entre outros, cedo se perspetivou a importância da união de esforços para conseguir ter representatividade e capacidade funcional que responda aos desafios e exigências. Durante muitos anos, a APECATE foi uma das poucas vozes ativas, num percurso moroso e difícil, principalmente quando se tem inúmeras frentes em que trabalhar (12 tutelas, 308 câmaras, 32 CIM, 2 Governos Regionais, entre outros), com excesso de burocracia, falta de estruturas, muita legislação dispersa e um elevado número de taxas, o que sempre dificultou a defesa dos interesses dos empresários. Ao longo da existência da APECATE, muitas empresas aderiram ao projeto (outras não o fizeram, ou saíram), de acordo com a sua estratégia. O movimento associativo é isso mesmo, um sinal de vitalidade e exercício de cidadania e democracia em relação à defesa dos interesses privados e coletivos.
A APECATE foi afirmando a vitalidade desta indústria e a sua importância, sendo reconhecida como parceiro através do seu trabalho, o que nos conduziu à direção da Confederação do Turismo de Portugal, CTP, garantindo uma representatividade ao mais alto nível.
Neste momento, foi lançada a ideia de criar uma nova estrutura para garantir a representatividade do setor dos eventos, que juntasse as várias associações que trabalham este subsetor de atividade. Na nossa análise não é a altura, nem a prioridade. Se é verdade que o setor necessita de mais representatividade, é importante conseguir unir o mesmo e criar estratégias duradouras que garantam um percurso consistente para o seu crescimento. Criar movimentos alternativos, fruto de perceções momentâneas, é uma ideia desagregadora e que irá dispersar um setor já de si com problemas de identidade, conteúdo e acerto quanto ao caminho a seguir.
Analisando a questão pelo prisma das ideias e fundamentos, podemos considerar como uma prioridade: acordo quanto à definição do que é o setor dos eventos; a importância de ser criado um enquadramento legal com tutela do Turismo – o Registo dos Eventos; o que é um organizador de eventos; interseção do setor dos eventos com a cultura e os eventos culturais que têm necessariamente uma tutela diferente, mas muitos atores em comum; entre muitos outros desafios...Pelo ponto de vista operacional, parece‑nos que estaremos a sustentar mais uma estrutura cuja única valorização será ser mais uma voz, que não invalida as que já existem. Contribuindo para que as associações já existentes percam espaço de intervenção ou, pior ainda, uma nova estrutura a trilhar o mesmo caminho (e quem sabe a atropelar) as que já estão a trabalhar. Ter mais estruturas redundantes não será certamente a solução.
É altura de voltar à discussão sobre as questões de fundo que nos unem, que deixe claro os pontos de acordo e os de desacordo entre as associações, os empresários e restantes intervenientes, para que se inicie uma luta concertada na defesa dos valores fundamentais.
Nós estamos disponíveis!
© António Marques Vidal Opinião
Presidente da APECATE e diretor da Margens