Dizer “sim” em Portugal

18-12-2019

Portugal é, cada vez mais, o destino escolhido por casais estrangeiros para a celebração do casamento.

A trilogia formada pelo clima, comida e bebida, que constitui a base do turismo nacional tem, no setor do casamento, variáveis especiais, mas cujo desempenho tem agradado a wedding planners e noivos.

Não residem em Portugal, conhecem o país por terem ouvido falar ou porque já foi destino de férias e foram seduzidos pela beleza da paisagem e pelo clima ameno. Afinal, o que atrai os turistas atrai também cada vez mais casais que, na hora de dizer sim, escolhem Portugal para um dos dias mais importantes das suas vidas. Do Douro ao Algarve, passando por Lisboa ou Açores, o número de casamentos está a aumentar, o que significa que este é também um negócio cada vez mais interessante não só para wedding planners, mas também para fornecedores, incluindo hotéis, quintas e outros locais, catering ou fotografia. Os últimos dados do Ministério da Justiça, relativos a 2018, confirmam esta tendência. Estes números, que dizem respeito só ao registo civil – não incluem, por isso, os casais que celebraram o casamento no seus país natal e que só fizeram o copo‑d’agua no nosso país – tem vindo a subir. Se no inicio da década o número de casamentos de cidadãos estrangeiros realizados em Portugal era de cerca de 500, em apenas oito anos esse número subiu para 1 235 celebrações. Uma tendência que acompanha também o aumento do número de turistas em Portugal, mas que tem particularidades bastante interessantes, como a duração da estadia, o número de convidados que acompanham os noivos e valor despendido neste tipo de eventos.

Embora esta seja uma área em crescimento, existem também alguns desafios, como lidar com a multiculturalidade, garantir a exclusividade e personalização do serviço ou fazer com que noivos e convidados se sintam numa cerimónia intíma, mesmo estando a milhares de quilómetros de casa. As três empresas com quem a Event Point falou estão já neste mercado há vários anos e mostram‑se otimistas quanto ao futuro deste setor, mas também alertam para a necessidade de preservar a qualidade na oferta. Como se explica o sucesso de Portugal como destino para casamentos de estrangeiros? Paula Grade, da White Impact, e Maria Luís Vaz Teixeira, da Mary Me, falam na hospitalidade e na qualidade da comida e do vinho, fatores que, todos os anos, atraem milhares de turistas a Portugal. Dyana Dessar Simmons, da Optimum Weddings, acrescenta “a beleza da paisagem e a enorme variedade de locais, com diferentes preços e características”. Sendo estrangeira, admite também que a simpatia das pessoas com quem se trabalha na organização de um evento é igualmente um fator decisivo. Se as expetativas são mais ou menos comuns, já a proveniência dos casais que escolhem Portugal para casar é bastante variada. À White Impact chegam sobretudo pedidos dos EUA, Reino Unido e Irlanda, enquanto a Mary Me trabalha sobretudo com casais vindos dos EUA e Brasil: “O nosso cliente tipo é estrangeiro, está na casa dos 30 e procura um destination wedding de qualidade, que possa permitir aos convidados viverem uma experiência durante um fim de semana”, revela a responsável. “A maioria dos casamentos que organizo é para casais indianos e judeus, por isso duram vários dias, incluindo eventos religiosos ou tradicionais. Assim, procuram sobretudo ter tudo o que precisam para realizar o seu casamento de sonho”, diz Dyana Dessar Simmons, sublinhando que, muitas vezes, é necessário recorrer a catering especializado para que estes eventos sejam bem‑sucedidos. Paula Grade revela que os casais que procuram a sua empresa preferem a zona do Algarve e, entre os pedidos mais frequentes, estão as festas ao ar livre, que possam prolongar‑se pela noite dentro. “Pretendem viver uma experiência, a experiência do casamento em ferias”, explica. Maria Luis Vaz Teixeira conta que os noivos “querem mostrar aos convidados, durante a sua estadia, o motivo que os fez casar em Portugal”. E este é mais um desejo que os wedding planners tem todo o prazer em satisfazer: “Organizamos atividades para os dias anteriores e posteriores ao casamento, como visitas as caves do Vinho do Porto, um passeio de barco, uma noite de fados, um dia numa vindima”. A boa relação entre a qualidade dos produtos e serviços e o preço é, para a responsável da Mary Me, um dos aspetos diferenciadores de Portugal enquanto destino de casamentos: “Garantimos bons preços, mas excelente qualidade. Para além disso, a maioria dos profissionais fala inglês, o que é raro em outros países da Europa”. Dyana Dessar Simmons traz a Portugal casais do Reino Unido, Estados Unidos e Canada que, para além de um acompanhamento personalizado e especializado, procuram “bom tempo, flexibilidade nos locais da cerimonia excelência no serviço e hotéis de luxo”.“Trabalhamos em toda a Europa e, para os nossos clientes, o que diferencia Portugal é a simpatia do serviço e a tradição. E, para muitos casais, existe a influência indiana devido a ligação com antigas colónias”.

eventpoint
© Hélder Couto Photo | Mary Me

Organizar um casamento é algo que traz sempre alguns desafios que, no caso de cerimónias envolvendo estrangeiros podem ser ainda maiores. Paula Grade garante que a experiência adquirida lhe permite ter uma equipa estruturada “de forma a tudo ser superado”, realçando que o seu principal cuidado e “o contacto constante com o cliente”. A comunicação com todos os convidados, garantindo que tem tudo o que precisam enquanto estão em Portugal é, para Maria Luís Vaz Teixeira, um desafio, mas também um ponto de honra. Já no que respeita a cuidados especiais, refere um profundo conhecimento das tradições, sobretudo no caso de casais indianos ou judeus. Algarve (sobretudo Vilamoura e Carvoeiro), Cascais, Sintra e, mais recentemente a zona do Porto, são os locais onde a Optimum Weddings tem organizado cerimonias. Para Dyana Dessar Simmons, o maior desafio que enfrenta, neste tipo de eventos, “é garantir alojamento suficiente para todos no mesmo local ou, pelo menos, o mais próximo possível do local da cerimónia”. Conta que nem sempre os hotéis facilitam o trabalho dos wedding planners e alerta: “Devemos trabalhar em equipa, de forma a que os casamentos e outros eventos sejam, para os noivos e para as famílias, o mais tranquilos que for possível”.



As exigências legais, o catering e o clima em alguns meses do ano são, na sua opinião, outros pontos que exigem sempre muitos cuidados. A qualidade da comida é, para Paula Grade, o que mais surpreende os noivos estrangeiros que casam em Portugal. Já Dyana Dessar Simmons diz que os seus clientes apreciam sobretudo a atitude amigável e a solicitude dos habitantes locais e dos fornecedores. E, claro, deixam‑se encantar pela beleza da costa portuguesa e pela forma como o tradicional e o moderno se conjugam. “Os nossos clientes ficam sempre fascinados com o ‘descanso’ que têm durante os dias que cá estão, principalmente no dia de casamento, pois certificamo‑nos que tudo corre como os clientes desejam. Ficam surpreendidos com o evento em si, em que tudo flui e nisso sei que temos um papel preponderante”, sublinha Maria Luís Vaz Teixeira.

eventpoint
© Algarve Weddings

Potenciar o turismo

A evolução do setor de organização de casamentos para estrangeiros tem sido acompanhada por um crescimento na qualidade e quantidade de empresas que trabalham de perto com os organizadores. Paula Grade sublinha que, desde que começou a trabalhar na área, “evoluíu muito a quantidade de bons fornecedores”. Revela ter boas expetativas para os próximos anos e considera que este setor pode potenciar o turismo em vários aspetos. Maria Luís Vaz Teixeira destaca a forma como as pessoas passaram a encarar a atividade de wedding planner: “Quando criei a minha empresa ninguém conhecia o conceito. Hoje podemos dizer que já toda a gente sabe o conceito e vê a necessidade deste serviço”. Ainda assim, pensa que, em Portugal há ainda muito trabalho para fazer. “Alguns espaços e outros fornecedores portugueses ainda não estão habituados a trabalhar connosco e acabam por não valorizar o nosso trabalho e o quanto os estamos a facilitar o seu trabalho”, lamenta. Dyana Dessar Simmons, habituada a organizar casamentos em vários países, realça o crescimento de Portugal como destino escolhido para este tipo de evento, bem como o crescimento no número de fornecedores especializados. “Tudo isso faz com que Portugal seja o destino perfeito e um local fácil de sugerir. A variedade no tipo de locais disponíveis faz com que possamos criar uma experiência diferente em cada casamento que planeamos”. A responsável pela Optimum Weddings diz não ter sentido dificuldades em trabalhar em Portugal. “Até agora tem correspondido às nossas expetativas e às dos nossos clientes. Desde que começamos a promover este destino que tem corrido bem e todos os anos conhecemos mais fornecedores e locais excelentes e descobrimos novas surpresas para oferecer aos nossos clientes”. Esta satisfação com o que Portugal tem oferecido é, para Dyana Dessar Simmons, motivo para que encare com otimismo o futuro deste setor para Portugal, afirmando que todo este processo está ainda no início. Sublinha, no entanto, que é importante que se mantenha uma ligação forte entre os operadores turísticos e os wedding planners. “Devemos ser convidados para conhecer e experimentar locais e serviços e esta é a forma de trabalharmos juntos e de pessoas como eu poderem promover Portugal como um destino que é como a nossa casa”. Os fatores que diferenciam Portugal de outros destinos são, para Maria Luís Vaz Teixeira, um dos segredos que é preciso explorar: “Estamos a competir com Itália e Grécia, que ainda lideram os destination weddings, mas temos vantagens que estão a ser descobertas, como os preços e o acesso fácil a partir de qualquer aeroporto”. A responsável pela Mary Me reforça também o peso económico deste setor, de forma a alertar para a sua importância e para a importância de manter a boa relação qualidade/preço, evitando assim afastar potenciais clientes. “Cada casamento que organizamos não é apenas um casamento. São, pelo menos, três dias de eventos, com jantares em restaurantes ou espaços de eventos e atividades lúdicas. Sem falar em transportes e deslocações”. Na sua opinião, “o turismo só tem a ganhar, porque falamos de clientes com elevado poder de compra, que acabam por vir mais cedo, visitar outras cidades e ficam alojados em unidades hoteleiras de luxo”.

O Turismo de Portugal tem estado atento a este crescente interesse dos estrangeiros em casar em Portugal, estando a trabalhar para promover Portugal como wedding destination.

eventpoint
© Algarve Weddings

As empresas

White Impact / Algarve Wedding Planners

Há 12 anos que Paula Grade e Karina Sousa planeiam casamentos de cidadãos estrangeiros e, se inicialmente este era um pequeno negócio a quatro mãos em part‑time, hoje cresceu para uma empresa formada por uma equipa de especialistas internacionais e especializada em casamentos de luxo.

Optimum Weddings

Portugal é um dos destinos onde a Optimum Weddings, com escritórios na Costa do Sol e Londres, tem organizado casamentos de luxo. Das Maldivas à Grécia, passando pelas Seychelles ou Disneylândia, a empresa faz da multiculturalidade uma bandeira, organizando muitos casamentos para praticantes do Judaísmo e Hinduísmo.

Mary Me

Fundada em 2013 e sediada no Porto, a Mary Me começou por planear cerimónias no Norte de Portugal, mas já expandiu a sua atividade a todo o país, trabalhando com parceiros locais. Com uma grande experiência em celebrações na região do Vale do Douro, a empresa tem 90% de clientes estrangeiros, sobretudo brasileiros e norte‑americanos.

eventpoint
© Optimum Weddings

Olga Teixeira

Foto nº1: © Hélder Couto Photo | Mary Me