Empresas de catering põem a mão na massa
25-05-2020
Apesar do impacto avassalador da pandemia nas empresas de catering, há uma garantia que nos foi deixada nesta reportagem: “Não vamos cruzar os braços”. As palavras são da diretora comercial da Casa do Marquês, mas a vontade de tudo fazer, dentro do possível, para ultrapassar este lume brando em que o setor se encontra é semelhante também à dos responsáveis da Casa da Comida e da Grão de Bico Catering. E é dentro deste espírito que todas elas se têm vindo a reinventar e a pôr a mão na massa, a criar novos produtos – alguns até vão passar a fazer parte da oferta quando tudo voltar ao normal – e a manter o contacto com os clientes, que têm dado um feedback positivo às novas propostas. Em tempo de incertezas e cautelas, fomos saber como as empresas de Catering estão a digerir o impacto da pandemia e conhecer as suas expectativas para o futuro.
“As empresas de eventos e de restauração estão, como nós, a reinventar-se”
O impacto da pandemia na Casa da Comida – Eventos & Catering “foi, como para todas as empresas da nossa área, enorme, perturbador e desafiante”, contam Salomé Alcântara e Rogério Alcântara, responsáveis da empresa. Centenas de eventos foram cancelados e todas as atividades de restauração e serviços de catering, que existiam numa base diária, foram interrompidos, sem se saber quando vai ser possível retomar nos mesmos moldes. “A nossa estrutura estava programada para a realização de eventos de média e grande dimensão, sendo que os custos da estrutura são sempre pesados”, pelo que “o facto de não ser possível fazer eventos nos próximos meses deixa-nos numa situação financeira complicada”.
Rogério Alcântara e Salomé Alcântara, Casa da Comida
Mas para fazer face a todos estes novos desafios, a Casa da Comida conta com a unidade de takeaway, que já está aberta desde o ano passado. O serviço de entrega de refeições, em casa ou na empresa, permitiu que a Casa da Comida iniciasse a atividade “de forma rápida e eficiente”. O feedback a este serviço já era positivo, mas houve uma “acentuada procura” com o confinamento e, desta forma, a empresa aumentou a base de clientes desta área de negócio. “Neste momento, todas as empresas de eventos e de restauração estão, como nós, a reinventar-se”, afirmam Salomé e Rogério Alcântara, acrescentando que este serviço vai continuar depois da pandemia, apesar de estarem a ser programados para o futuro outros serviços e outras áreas de negócio.
Casa da Comida
Ainda assim, é preciso ter em atenção que “o futuro é imprevisível” e as expectativas são cautelosas. “Alguém disse, e bem, que qualquer previsão ao dia de hoje deve ser feita a lápis e com borracha. Os hábitos do ser humano estão a mudar, os governos estão a legislar em função do que acontece dia após dia, por isso enquanto não conseguirmos controlar a doença não conseguiremos fazer previsões”, sublinham os responsáveis.
Esperar sair da crise mais fortes e unidos
Em três décadas, a Casa do Marquês – Catering e Eventos já passou por várias crises e tempos de incerteza, e de todas elas saiu fortalecida. “A pandemia, e tudo o que nos trouxe, mostrou-se a mãe de todas as crises e o resultado é tão forte que, pela primeira vez, tivemos de enviar para casa os nossos colaboradores, esvaziar frigoríficos (da maior cozinha industrial do país), sair pelos portões sem saber quando voltar”, refere Inês Oliveira, diretora comercial da Casa do Marquês, que fala ainda de consequências “avassaladoras a nível económico e muito duras a nível emocional”. Mas, apesar do cenário cinzento, adianta: “Somos uma empresa que lutou muito para conquistar o primeiro lugar e não vamos cruzar braços.”
Inês Oliveira, Casa do Marquês
E prova disso está a utilização dos recursos da empresa para a reinvenção. Novas necessidades podem trazer oportunidades e, depois de estudadas as limitações impostas neste contexto, a Casa do Marquês está “a fazer chegar a casa e escritórios das pessoas o que melhor sabemos fazer: a nossa comida que aviva as melhores memórias”. A empresa apresenta novos serviços, como o ‘Home delivery’ ou o ‘New Office Kits’, e ainda conta com os espaços com restaurantes, que vão voltar a entrar a funcionamento: o Arriba Beach Club e o Pateo Alfacinha. “Basicamente, seguimos as tendências dos nossos clientes, garantindo a segurança a que sempre foram acostumados e, bem assim, cumprindo as normas sanitárias da Direção-Geral da Saúde que nos permitem exibir o Selo ‘Estabelecimento Saudável & Seguro’”, frisa Inês Oliveira.
Casa do Marquês
O retorno está a ser bastante positivo. A diretora comercial da Casa do Marquês explica que, “mais do que uma aceitação geral e satisfação dos nossos clientes por estarem a receber os nossos produtos e a nossa qualidade”, o ingrediente que mais força deu à equipa foram as “palavras de apoio e orgulho por estarmos a lutar para sobreviver num setor de negócio que está de luto há mais de dois meses – catering e eventos”. E isso “traz-nos uma vontade de não parar, pelos nossos clientes, colaboradores, fornecedores e parceiros, amigos de 30 anos e sobretudo por uma marca que cremos já ter marcado Portugal”. E, como “há tendências que vêm para ficar”, a Casa do Marquês assegura que vai continuar a dar resposta ao que for pedido.
Sobre o futuro, Inês Oliveira refere que, sem querer ou poder ignorar o embate financeiro causado pela pandemia, a empresa espera sair da crise “mais forte e unida” do que entrou, como já aconteceu no passado. “O mundo está ávido por festejar com família e amigos, e nós estamos ansiosos por lhes proporcionar esses momentos!”, conclui.
“Há uma grande incerteza quanto ao futuro”
À semelhança das restantes empresas, o impacto da pandemia por Covid-19 na Grão de Bico Catering & Eventos foi enorme. “Em apenas uma semana, desmarcaram-nos o equivalente a 3.500 refeições. Todos os casamentos que tínhamos marcados foram também cancelados. Tivemos uma quebra de 80% da nossa faturação”, conta Patrícia Veiga, CEO da empresa. Depois de reduzida a equipa de trabalho ao mínimo, estando parte dela em ‘lay-off’, a Grão de Bico Catering colocou o avental e avançou com um serviço de ‘delivery’, com entregas diárias de refeições e mercearia. “Criámos um novo produto, o conceito box, onde levamos até ao cliente boxes de pequeno-almoço, almoço, brunch, praia e festas de aniversário. O serviço de catering para pequeno número de pessoas dentro da caixa”, explica Patrícia Veiga.
Patrícia Veiga, Grão de Bico Catering
O feedback ao novo serviço foi muito positivo e a empresa sentiu “uma grande aceitação e vontade de ajuda à empresa” por parte do cliente. No entanto, esta solução “não é suficiente para manter a estrutura que temos”, sendo “um complemento”. De qualquer forma, quando tudo voltar ao normal no setor dos eventos, o novo produto das boxes vai ser para manter; já relativamente ao ‘delivery’, tudo vai depender da retoma.
Grão de Bico Catering
E por causa desta caldeirada de incertezas torna-se difícil responder à questão que se prende com as expectativas para o que aí vem. “Há uma grande incerteza quanto ao futuro. Acredito que enquanto não houver uma vacina será difícil planear esta área. Por mais que sejam cumpridas todas as normas de higiene e segurança, dependemos também da confiança dos nossos clientes na realização de eventos”, frisa Patrícia Veiga.
Maria João Leite
Fotografia de abertura:
©Casa do Marquês