Liga NOS: Um evento que é uma bitola para o futuro
16-12-2020
2020/21 será uma temporada atípica e este ano a própria organização do evento foi, naturalmente, profundamente marcada pela necessidade de cumprir regras rigorosas.
Para Francisco Serzedello, diretor executivo da Desafio Global, e para a sua equipa, trouxe a alegria do regresso aos grandes eventos físicos, mas também muitos desafios e uma atenção ainda maior ao detalhe.
Nesta altura, a segurança é um ponto fulcral, obrigando a um esforço extra de todos os envolvidos. “A Liga, como organizador e promotor do evento, esteve em contacto direto com a DGS, porque, como é óbvio, pelo facto de ser o primeiro evento depois do confinamento há toda uma responsabilidade acrescida, não só para a própria DGS como para todos os organizadores de eventos”, explica.
E o próprio timing acabou por constituir um desafio: “A resolução do Conselho de Ministros saiu, se não me engano, uma semana ou uma semana e meia antes e por isso tivemos que adaptar o evento que vinha a ser planeado há muitos meses às novas orientações”, recorda. “Tínhamos que nos adaptar a esta nova realidade e queríamos adaptar‑nos da melhor forma”, diz, lembrando que foi preciso trabalhar com base em situações que tinham sido acabadas de regulamentar.
Ir além das regras
No entanto, a Desafio Global não se limitou a seguir as regras. Quis ir mais além, dando o seu contributo para que eventos como este se possam continuar a realizar de forma segura. “Para nós não era só importante cumprir as normas estabelecidas, porque entendemos que não é fácil legislar ou regulamentar nesta altura de incerteza e de adaptação a um momento que não é normal. Também sabemos que as autoridades competentes para fazer esta regulação e legislação não conhecem o setor de eventos tão em pormenor para conseguirem prever todas as necessidades e especificidades dos eventos, até porque eles são todos muito diferentes”, explica o responsável.
“Por isso, achámos que não só tínhamos de cumprir as regras como tínhamos de criar aquilo que achávamos que eram regras, o que fazia sentido e o que podíamos fazer para melhorar a segurança dos participantes”, diz, acrescentando que esta atitude reflete “um esforço que toda a população portuguesa e mundial faz nesta altura e que é: como é que as pessoas podem voltar à sua atividade normal sem correr riscos e sem pôr as outras pessoas em risco”.
“E foi exatamente isso que nós fizemos. Fomos muito mais além daquilo que são as obrigatoriedades”, prossegue.
Um exemplo deste cuidado foram os 60 testes de diagnóstico de Covid realizados “a todas as pessoas que necessitavam de contacto direto com oradores ou com outras pessoas que iam estar sem máscara”. Os resultados foram todos negativos e chegaram cerca de 24 horas antes do evento, garantindo assim que não existia risco de contágio. Além disso, foi criado um inquérito pré‑evento que teve de ser preenchido por convidados, staff da organização e empresas envolvidas, procurando despistar eventuais contactos com infetados e perceber se existia autorização da DGS para que pudessem estar presentes. “São tudo situações que têm de ser controladas e temos que averiguar que não temos ninguém em situação de risco no evento”, reforça.
Foram ainda adotados os procedimentos normais, como uma câmara de controlo de temperaturas à entrada, antecedida da medição de temperatura no portão, garantindo assim “dois momentos de triagem, até porque os valores podiam ter alguma falha”.
A utilização de máscara, o distanciamento, a escolha de um espaço com uma lotação muito superior ao número de pessoas presentes e a permanência no local só durante o tempo necessário foram igualmente formas de garantir a máxima segurança e o mínimo risco. A forma como os layouts foram pensados, fazendo, por exemplo, com que secretárias destinadas à imprensa ficassem viradas para a parede, assim como a limitação de pessoas presentes nesses locais são outros exemplos de situações acauteladas.
“Há coisas que as pessoas nem se lembram, mas um staff com tantas pessoas necessita de refeições e essa foi uma questão que tivemos de acautelar. No fundo, temos que conseguir alimentar todas estas pessoas durante três dias sem os pôr em risco, sem poderem ir a restaurantes e minimizando o contacto. Todos tendo oportunidade para almoçar sem terem contacto direto com ninguém, porque nessa altura temos de tirar as máscaras”, exemplifica Francisco Serzedello.
O responsável da Desafio Global salienta também “uma preocupação muito grande por parte da Liga, dos clubes e de todas as empresas envolvidas de ter o mínimo de pessoas presentes sem nunca perder a qualidade do evento e assegurar que tudo era cumprido”.
Precaver ausências
Entre tantos detalhes para que tudo corresse bem, não poderiam ser esquecidos os que estão relacionados com a possibilidade de alguém com um papel fulcral na organização ficar impedido de estar fisicamente presente.
“Uma das coisas que é preciso ter em conta é que basta uma pessoa ter febre para já não poder desempenhar as funções previstas para aquele dia. Por isso, e de alguma forma é preciso preparar as equipas para que o trabalho consiga ser assegurado com menos pessoas. Ou pelo menos ter pessoas a mais para conseguir preencher esses lugares e ter sistemas de backup de quase todos”, salienta, lembrando que esta é uma questão fulcral “na gestão de eventos que têm que acontecer naquele dia e àquela hora independentemente das pessoas”. Assim, e para além da realização de testes, salas de isolamento e percursos diferentes caso alguém apresentasse sintomas, foram criadas formas para que, mesmo isoladas, essas pessoas pudessem estar contactáveis.
“Estava sempre preocupado: se me acontecer, como é que eu consigo continuar a passar a informação que tenho do evento e continuar a ajudar mesmo estando na zona de isolamento? Criámos uma série de soluções para que isso fosse possível. Acho que isso também é importante e o caminho também é esse”, admite.
O maior desafio
Sendo um evento com uma dimensão, importância e mediatismo tão elevados, seria de esperar que a organização deste sorteio trouxesse um nível de dificuldade superior a todos os envolvidos.
A pergunta é, assim, inevitável: qual foi o maior desafio? Francisco Serzedello garante que “é sempre realizar um evento espetacular que surpreenda os seus convidados, neste caso, quer os que estavam em casa a ver pela televisão, quer os que estavam no local”. Ainda assim, admite que, “como é óbvio nestas circunstâncias, há todo um conjunto de desafios suplementares”.
“O maior desafio que tivemos foi mesmo a incerteza sobre o que se devia e o que não se devia fazer. Felizmente, quer a nossa equipa de emergência médica, quer a DGS ajudaram‑nos bastante para fugirmos à desinformação que existe”, salienta.“O mais difícil foi mesmo fugir a esta desinformação e tentar perceber concretamente o que são boas práticas e o que são más práticas, tentar desenvolver e tentar criar o caminho. A partir do momento em que o caminho está feito, quer seja para a esquerda, quer para a direita… é o caminho”, explica o responsável.
Pelo facto de ter sido o primeiro evento físico e de ter sido realizado tão pouco tempo depois de divulgadas as regras da DGS, acabou por servir como modelo para outros feitos posteriormente. “Serviu como a nossa bitola. É ali que queremos estar, são aquelas as regras que queremos cumprir e isso já ajuda bastante a fazer todos os eventos. Sendo que esta bitola está acima daquilo que são as regras propostas”, sublinha. Embora cada evento tenha características próprias e exija, por isso, adaptações, a definição das regras e a experiência adquirida são fundamentais para o que vier a ser feito.
Numa fase como a atual, em que ainda existe muito receio em participar em eventos públicos, será a boa comunicação uma forma de minimizar esses medos? “Temos um certificado de evento seguro. Isso para nós faz toda a diferença e passa essa segurança aos convidados, porque na realidade nenhum dos nossos clientes quer estar envolvido num evento em que há risco de contagiar pessoas. Esta minimização do risco é importantíssima e é exatamente aí que nós estamos, em criar formas de as pessoas poderem estar presentes e se poderem reunir”.
O digital veio para ficar
Uma parte importante para minimizar o risco passa pela realização de eventos digitais, um modelo que cresceu exponencialmente nos últimos meses e ao qual a Desafio Global se adaptou rapidamente. “Ainda não tinha sido decretado o primeiro confinamento e nós já tínhamos a nossa ferramenta desenvolvida para eventos digitais”, revela. Uma solução que permitiu, por exemplo, a realização de eventos na Suíça ou no Brasil sem que nenhum elemento da equipa tivesse de viajar.
E esta implementação da tecnologia digital não vai, na sua opinião, desaparecer tão cedo: “Acho que o digital ganhou o seu espaço e mesmo nos eventos físicos passamos a ter uma parte digital em quase todos eles”.
O sorteio realizado em Vila Nova de Gaia foi um exemplo dessa nova convivência entre o físico e o digital. “Por exemplo, os jogadores de futebol têm de garantir que não estão infetados e são mais protegidos porque são ativos importantes para os clubes, que não querem correr tantos riscos. Não tivemos nenhum jogador no local. Entraram todos digitalmente a partir da segurança das suas casas, sem estarem expostos”.
“Era um evento em que atribuímos os prémios dos melhores jogadores da época passada, onde reconhecíamos o talento individual e coletivo através de prémios. E, por isso, era muito importante que estivessem presentes e de alguma forma dar‑lhes oportunidade de agradecerem o prémio ou de partilhar o que estavam a sentir com os telespetadores, mas garantindo a sua segurança”, recorda.
Francisco Serzedello considera que se verificou “uma evolução muito grande” na forma como o digital passou a ser visto. “Quase todos os eventos físicos que estamos a desenhar têm uma parte física, mas têm uma parte digital, porque há muitas pessoas que continuam em casa e em teletrabalho e que têm de estar presentes. No fundo, garantimos a segurança de todos e passamos a mensagem chegando a toda a plateia a que queremos chegar e não só aquelas que estão presentes”. Esta possibilidade de conjugar a componente física com a digital é, na sua opinião, importante para as empresas nacionais que conseguirem tirar partido destas soluções. “Acho mesmo que as empresas portuguesas dão cartas, porque felizmente os portugueses são bons na adaptação”.
“O digital abriu uma nova área de negócio que não é o suficiente para as empresas, dados os valores envolvidos e as equipas necessárias. São precisas muitas equipas para fazer uma coisa que tem muito menos retorno, mas foi uma porta de esperança, sendo que não substitui os eventos físicos”, realça.
Francisco Serzedello diz que “o mundo mudou” e que “nos eventos não vai voltar para trás”.
Ainda assim, está consciente das enormes dificuldades que muitas empresas atravessam e faz questão de deixar uma mensagem “de apoio e incentivo” ao setor. “Não nos podemos esquecer de que o setor dos eventos passa muitas dificuldades, que estamos a falar de empresas que perderam mais de 90% da sua faturação e algumas mesmo 100%. E não digo só as agências de eventos, digo os fornecedores, a produção gráfica, a iluminação… se não há eventos físicos, tudo o que é produção gráfica não existe. O digital são uns e zeros, é tudo programação e software e hardware, fica pouco espaço para cenografia. Muitas empresas e fornecedores reinventaram‑se, mas para reduzir prejuízos e não para criar soluções”, admite.
O responsável da Desafio Global tem uma palavra especial para profissionais e empresas “que ainda não conseguiram voltar à normalidade e que não vão conseguir tão cedo”: “Quero desejar‑lhes boa sorte neste caminho e espero mesmo que se criem condições para estas empresas conseguirem dar a volta por cima. Estamos a falar de uma área de negócio importantíssima para o país. Mesmo que o Ministério da Economia ainda não tenha estes números apurados, já se percebeu que são números muito mais relevantes do que aquilo que se pensava. Por isso espero que estas empresas consigam, de alguma forma, dar a volta e que tenham apoios para conseguirem fazer isso. E principalmente todos aqueles técnicos e aquelas pessoas que vivem das suas atividades e que nesta altura estão impossibilitadas de fazer os seus trabalhos”.
Admite que a sua empresa, apesar de ser “bom exemplo na adaptação e na criação de ferramentas para fazer face a esta situação, não espelha a maioria das empresas em Portugal”: “Isso não reflete o mercado. Não gostaria que pensassem que estou aqui a pintar de verde um cenário que na verdade não é verde. Estamos conscientes das dificuldades do setor e da quantidade de parceiros nossos que passam dificuldades. E mesmo nós tivemos reduções muito grandes de faturação, tivemos de nos adaptar. Não estamos num caminho fácil e lidamos com a incerteza que acontece noutros setores sobre o que vai ser daqui a três meses”.
© João Veiga | LPFP | DG
Olga Teixeira
Ficha:
Evento: Sorteios Liga NOS, Liga Pro e Allianz Cup
Data: 28 de agosto
Local: Real Companhia Velha, Vila Nova de Gaia
Descrição: Evento só para convidados e com transmissão televisiva
Entidade promotora: Liga Portuguesa de Futebol Profissional
Organização: Desafio Global
Vídeo: