“Lutar até ao fim para que seja possível não abandonar ninguém”
09-09-2020
“O que sentimos? Angústia, apatia, abandono, solidão, esquecimento, desespero”. Esta foi uma das várias mensagens exibidas em videomapping na fachada da Câmara Municipal do Porto, e partilhada, num silêncio ensurdecedor, pelos mais de mil profissionais presentes na manifestação da APSTE – Associação Portuguesa de Serviços Técnicos para Eventos. Tal como em Lisboa, as flighcases foram a cenografia escolhida para a ação, e a Avenida dos Aliados, habituada a tantas festividades, encheu-se de caixas numa imagem que tão cedo a cidade, e quem lá esteve presente, não esquecerá.
A APSTE, com esta iniciativa, pretende reforçar, junto da opinião pública a importância deste setor para a economia, e insta a que sejam tomadas medidas apropriadas, que permitam a manutenção dos postos de trabalho. “Aquilo que esperamos do governo é que dê atenção a estas empresas, que estão a passar por grandes dificuldades, e que são empresas garantidamente muito importantes para a retoma do nosso país, para o suporte dos grandes congressos e dos grandes eventos internacionais que vêm para o nosso país e que grande retorno trouxeram para a nossa economia”, sublinha Pedro Magalhães, presidente da associação. O panorama das empresas representadas pela associação é, segundo o responsável, “dramático”. “Se não houver uma alteração de medidas, em outubro 60% dos postos de trabalho estão em causa. Algumas empresas já encerraram, e em outubro mais empresas poderão encerrar”, alerta. E lembra ainda que a perda destes recursos humanos altamente especializados pode comprometer a retoma do setor. “Levamos dois anos em média a formar uma pessoa para estar apta a trabalhar nesta atividade. Se corrermos o risco de as perder, retomar vai demorar anos”.
Pedro Magalhães, APSTE
A APSTE vai ser recebida em breve por Marcelo Rebelo de Sousa, com o objetivo de “sensibilizar o presidente da República de que precisamos da ajuda dele, para que ele junto do governo consiga, de certa forma, influenciar alguma medida que o governo possa vir a tomar no futuro”, refere Pedro Magalhães.
Leocádia Silva, FX Roadlights
Leocádia Silva, da FX Roadlights, era uma mais de mil profissionais presentes na iniciativa. “Viemos pedir ao governo que nos oiça e que trabalhe nas medidas necessárias de que as empresas precisam para subsistir e sobreviver à pandemia”. Na sua empresa o esforço principal é o de manter os postos de trabalho. “Essa é a prioridade, depois reduzimos os custos ao máximo, reorganizamos a estrutura e a organização”, conta-nos e não hesita: “Vamos lutar até ao fim para que seja possível não abandonar ninguém”.
João Cardoso, New Audiovisuais
“O que me traz aqui é a vontade de voltarmos a trabalhar”, partilha com a Event Point João Cardoso, da New Audiovisuais. “Os primeiros três, quatro meses foram zero em termos de faturação, uma tentativa de sobreviver naturalmente com os recursos que ainda temos na empresa, aproveitando um pouco daquilo que nos foi sendo dado pelos layoffs e moratórias e tentar criar condições para fazer eventos diferentes, de forma remota”. Mas o que precisam de voltar a fazer são mesmo os eventos presenciais, e para isso é necessária mais flexibilidade por parte da DGS (Direção Geral da Saúde).
Miguel Belo, à direita, da Brain
Miguel Belo, da Brain, conta que a sua empresa também enveredou pelos eventos digitais. “ Conseguimos realizar alguns eventos a custo próprio para manter as nossas equipas de freelancers a trabalhar, e criamos uma marca de espetáculos no digital chamada CliveOn e realizamos num mês e meio 24 espetáculos que contribuíram para dar algum sustento a quem trabalhou nos espetáculos: artistas, músicos, técnicos, etc. Conseguimos dar aqui algum alento”. Até agora conseguiram cumprir com ordenados e não tiveram de despedir ninguém, “mas precisamos que algo mais seja feito e para isso precisamos da colaboração do governo que tem um papel essencial nisto”, refere.
APECATE solidária com a manifestação da APSTE
A APECATE – Associação Portuguesa das Empresas de Congressos, Animação Turística e Eventos esteve representada na manifestação, nomeadamente por Ana Fernandes, vice-presidente. A manutenção dos postos de trabalho é, no seu entender, o mais premente nesta fase. “Há aqui um conjunto de medidas que é necessário serem tomadas para que as empresas simplesmente não fechem e que todos estes recursos humanos vão embora, porque são recursos humanos que demoraram muitos anos a serem formados”. A responsável lembra que “é importante pensarmos que vamos ter um futuro , o nosso setor não vai terminar, mas para isso é preciso manter os postos de trabalho, e neste momento só é possível com ajudas diretas a estas empresas”.
Ana Fernandes, APECATE
E se já existem condições para que o setor possa funcionar, “ainda não existe uma coisa muito importante que é a confiança dos nossos clientes, a confiança dos consumidores, para participar nos eventos. Dizermos que o setor está aberto é uma falácia”, afirma.
Cláudia Coutinho de Sousa