Um evento chamado Covid-19: o encerramento

20-10-2020

# tags: Festivais , Eventos

Tem nome de festival, mas nunca foi anunciado. Tem escala global, mas não sabemos quem é o organizador, nem tão pouco o que esperar deste cartaz. Chama‑se Covid‑19 e veio para ficar.

Mas se há coisa que ainda não perdemos no meio desta pandemia foi a capacidade de sonhar. Aliás, nos vários anos em que trabalhei mais de perto na área dos eventos sempre foi a parte dos processos que mais me entusiasmou ‑ criar do zero e sonhar com o que poderia vir a ser. E se haveria coisa em que eu gostasse de poder participar seria na conceção da Cerimónia de Encerramento da Covid‑19.

Seria uma mistura de Live Aid com Abertura dos Jogos Olímpicos em termos de impacto. Uma celebração cénica à la Burning Man para queimarmos máscaras.

Uma festa que agregaria a magia do Carnaval do Rio, com a cenografia da Celebração do Ano Novo Chinês mixado com a qualidade artística do intervalo do Superbowl.

Uma forma de conectar toda a população mundial nesta vitória que marcaria o fim do flagelo do contágio.

E logo a abrir a possibilidade de nos voltarmos todos a tocar sem medos ‑ o que marcaria uma transformação incrível na nossa sociedade, o fim do medo. Aliás, seria a celebração do fim do medo. A possibilidade de voltarmos todos a respirar livremente, sem a cara tapada. E olharmos nos olhos uns dos outros sem máscaras.

E com broadcast para todas as plataformas e todos os canais.

Não seria um dia nem uma semana, mas durante um mês inteiro. Como se o espírito da festa de encerramento da Expo’98 pudesse ter durado 30 dias, ou a sensação de sermos campeões europeus não desaparecesse do nosso corpo por quatro semanas. Queria acima de tudo garantir uma desintoxicação emocional em termos globais que acabasse com a desconfiança e devolvesse a alegria a todos.

Os estádios de futebol iriam encher‑se de adeptos, em euforia. Todos os pavilhões, praças e parques estariam cheios de música ao vivo. Os teatros, museus, bibliotecas e cinemas ficariam abertos 24 horas para que pudéssemos recuperar tudo aquilo que ficou por ver, por ler e por aplaudir. Uma espécie de vingança mundial contra todo o tempo que passámos longe uns dos outros.

Imagino as ruas das principais capitais com gente abraçada, numa espécie de Pride Parade que celebrasse a vida durante o dia, misturada com um Dia de los Muertos que honrasse com dignidade, à noite, os que partiram.

Haveria rave parties, sunset parties, after parties em todos os bares e discotecas e depois de dançar iríamos aos festivais de comida em ruas fechadas só para o efeito. Seria o espírito do Mardi Gras mas com o ritual catártico da Tomatina, para limparmos das nossas cabeças os alertas da OMS e as estatísticas de infetados e mortes.

Durante todo o período da celebração seria decretado o fim das reuniões Zoom, Skype e Google meet.

E assim arrancaria a nova Era da humanidade, fazendo as despedidas devidas ao velho mundo numa celebração à altura que serviria para exorcizar todos os nossos males enquanto sociedade ‘covidica’.

Este Festival do Fim do Medo seria uma ode à capacidade de reinvenção do Homem, uma demonstração de que todos tínhamos sido capazes de juntarmos esforços para definirmos um Mundo bem mais interconectado para viver. E tudo isto em contacto direto e ao vivo, com abraços e com amassos. Sem máscaras e sem restrições.

E, como diria o meu amigo Pedro Rodrigues: “Vida de eventos é acreditar que é possível fazer o impossível. Evento após evento, dia após dia”. E eu ainda gosto de acreditar em sonhos... principalmente nos impossíveis.

© Tiago Canas Mendes Opinião

Co-fundador e partner d'O escritorio

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