Venues: Oportunidades e desafios
16-12-2021
# tags: Venues , Eventos , Meetings Industry
Estivemos à conversa com Mark Cooper, CEO da International Association of Conference Centers (IACC), durante o Fórum de Turismo de Negócios, que decorreu no Altice Forum Braga.
“Tudo mudou e nada mudou”. Mark Cooper explica esta aparente contradição, lembrando que o que não mudou foi a vontade de estarmos juntos presencialmente, mas o como, onde e em que termos o fazemos, alterou‑se claramente. O F&B foi uma das áreas em que se assistiu a mais profundas alterações. Se, no passado, se apostava em juntar as pessoas numa área comum de refeição, o que assistimos hoje, segundo o CEO da IACC, e “não surpreendentemente”, é uma mudança para almoços e jantares mais privados. “Apesar de querermos continuar a colaborar entre todos no mesmo grupo, na mesma comunidade, há menos apetite para fazer isso num ambiente partilhado”, refere, e em resultado disso, “os venues podem ser mais criativos e, por exemplo, contar com um chef privado, ou uma equipa privada que sirva o grupo durante toda a duração do evento”. Isso, segundo o responsável, pode permitir ao venue melhorar a experiência do participante, tornando‑a mais “exclusiva”.
O ar livre foi algo muito fomentado nos últimos meses. Durante este período, de uma forma geral, preferimos almoçar e jantar em esplanadas do que no interior dos restaurantes. Nos venues, e nos eventos, acontece a mesma coisa: o desejo de experiências gastronómicas no exterior, ao ar livre, longe de áreas indoor, com grande concentração de pessoas. Isto faz sentido em termos da transmissão da doença, claro, “mas, se pensarmos bem”, sublinha Cooper, “sempre soubemos que o ar fresco e o exterior expandem a nossa mente e criam uma experiência social mais interessante”. O que está a acontecer é que os venues, deliberadamente, aumentaram as áreas onde serviam comida e bebida para contemplar o exterior e isso pode ser “uma solução de longo prazo para a indústria”.
As zonas com coffee‑stations têm sido utilizadas estrategicamente, e muitas vezes de forma criativa, para reduzir o movimento em áreas‑chave e ajudar a que os participantes se espalhem pelo espaço. Isso, se já acontecia no passado, é agora ainda mais importante.
Mais alerta para questões de sustentabilidade
Mark Cooper acredita que, por causa da pandemia, é hoje dada mais importância à pegada carbónica. “Ao olharmos o volume de lixo que criamos, no plástico que acumulamos, quando fomos forçados a ficar em casa, apercebemo‑nos o quanto uma casa gasta e desperdiça quando não comemos fora ou estamos a viajar. Os participantes nos nossos eventos assistiram a isto em primeira mão”. Por isso, ao voltarem aos eventos presenciais serão menos tolerantes ao desperdício. Cooper tem poucas dúvidas de que a sustentabilidade vai ser cada vez mais relevante. “Muitas das grandes organizações que usam os nossos venues para os seus eventos, conferências e formação estão ligadas à Bolsa, têm investidores e esses investidores estão a pressionar no sentido de as organizações terem um maior impacto social. O desejo de eventos mais sustentáveis não vem só dos participantes e dos venues, vem também das organizações”. E, por causa destas movimentações, “eventos sustentáveis e responsáveis socialmente vão ser mais importantes no futuro”.
Novas formas de obter lucro
Depois desta pandemia, poderão os venues ter o mesmo volume de negócios do passado? Mark Cooper não acredita que isso seja possível, sem adaptar os modelos de negócio. E dá como exemplo a descentralização do trabalho nas grandes organizações para vários destinos regionais e, claro, o teletrabalho. “O que fizeram foi abdicar também dos seus espaços de reunião, e tiraram a oportunidade de indivíduos e grupos mais pequenos terem uma reunião de equipa e eu acredito que isso venha a significar mais reuniões em ambiente externo e a necessidade de venues para juntar os grupos regionais”.
Outra das chaves do sucesso no negócio é a digitalização e os venues têm de mostrar que estão preparados, que têm uma internet robusta, serviços de IT, e de serem eles próprios intervenientes ativos também nas reuniões digitais e híbridas. É necessário olhar para os novos tipos de eventos e comunicar o posicionamento para fazer match com o que os organizadores precisam. “Há muito mais necessidade de apoio por parte dos venues, para lá da hospitalidade standard, ou seja, boa comida, uma boa cadeira, uma boa sala. Os serviços que os venues devem oferecer têm de ser mais amplos, ir mais além, particularmente relacionados com as necessidades digitais das reuniões, porque são numerosas agora”, sublinha o CEO da IACC.
E por falar em digital, o que temos assistido nos últimos anos é uma mudança acelerada na direção das site inspections virtuais. “Há grandes exemplos de inspeções virtuais com uma combinação de reunião zoom, realidade aumentada, e um circuito no espaço de forma a poder visualizá‑lo”, lembra Mark Cooper, que acrescenta que isto beneficia a sustentabilidade, bem como a produtividade. Cresce também o desejo de reservar online e por isso os venues apresentarem informação rica é algo cada vez mais importante, porque “temos uma geração que está a entrar na indústria que não tem os mesmos métodos do passado e estão confortáveis em comprar online”.
O que vai acontecer aos preços?
“Acredito que os preços vão aumentar”, diz Mark Cooper. E “têm” que aumentar dado o aumento do custo do trabalho, dos serviços e dos produtos. O setor da hospitalidade necessita de recrutar e nem toda a gente vê esta área como opção de carreira, “por isso vamos precisar de pagar mais, baixar a média de horas de trabalho ‑ já não é aceitável pensar que o chef pode trabalhar 80 horas por semana, todas as semanas”. Isso vai fazer com que os preços aumentem. Outra questão levantada por Mark Cooper é a do valor das reuniões. “O facto de não nos termos conseguido reunir, mostrou que era algo de que tínhamos muitas saudades”, e por isso na cabeça dos participantes e das organizações os eventos têm ainda mais valor. Mas terão ao ponto de os clientes pagarem mais por eles? A trajetória que temos assistido nos últimos tempos mostra que poderão não existir espaços para acomodar a alta procura por eventos. “Tornou‑se um mercado para vendedores e os espaços têm cobrado preços justos, mas mais altos”, refere Cooper, baseando‑se na situação que se vive hoje nos Estados Unidos, Holanda, Dinamarca e Suécia. “Acredito que seja uma oportunidade para cobrar preços justos e não cairmos no ambiente hiper competitivo baseado no corte de custos, porque isso a longo prazo não é bom para a indústria, nem para as pessoas que trabalham nela”, termina.
O que é a IACC?
É uma associação que junta mais de 400 venues, de 26 países, dedicados a receber conferências mais pequenas, reuniões e formação. A associação tem como objetivo ser uma voz líder na indústria, e para isso dissemina tendências, relatórios e investigação, e junta mentes criativas de todo o mundo para refletirem sobre as temáticas mais importantes para o setor.