Vida de eventos: Paulo Rodam
14-07-2020
Já na época Paulo Rodam “vagueava pelos corredores daquela grande instituição em busca de aprendizagem e em mexer em qualquer coisa eletrónica”. “Naquela altura ainda não existiam tutoriais na internet nem redes sociais para descobrir. Era preciso mexer, fazer e estar em contacto com as coisas”, relembra.
Mais tarde, já na Alfasom, começou a fazer montagens e pequenos trabalhos depois das aulas e aos fins de semana. Ou seja, o percurso foi tão natural que não tem dúvidas em afirmar: “Eu não cheguei a esta área…esta área é que chegou até mim”.
A paixão é, por isso, bastante antiga e a motivação, mesmo nos dias menos bons, é fácil de encontrar: “Nada melhor do que um trabalho no exterior para libertar as energias, seja pela componente física de uma montagem, seja pela adrenalina do dia do evento. Aí a motivação volta logo”, confessa.
De resto, e no dia‑a‑dia, não lhe faltam razões para se sentir motivado, “desde a evolução tecnológica, às vezes demasiado rápida”, passando pelas pessoas. E, aqui, Paulo Rodam destaca as pessoas com quem trabalha: “São o motor que faz andar a máquina, são eles que empurram para a frente as nossas empresas com muitas horas de trabalho, por vezes mais do que aquelas que estão com as suas famílias e em suas casas”.
Por isso, diz que tenta estar “o mais próximo possível” de quem com ele trabalha, até porque considera que o sucesso é maior se os responsáveis pelas empresas estiverem habituados a estar no terreno.
Talvez por isso seja fácil de dizer do que mais gosta nesta atividade: “Gosto de tudo! Todos os dias são diferentes; num dia estás embrulhado em plantas, projetos, orçamentos, ideias e reuniões e no outro estás, às 6h00, numa sala de espetáculos ou num pavilhão para iniciar a montagem de um evento”. “Esta profissão é demasiado enérgica e dinâmica para que quem nela trabalha possa dizer que faz sempre a mesma coisa, tem dias melhores e piores, mas é linda e desafia‑nos todos os dias”, sublinha.
Mas há um lado que lhe desagrada um pouco e que está relacionado com “a internet e as redes sociais”: “Isso transformou algumas pessoas em superentendidos em eventos, dando origem ao aparecimento de um sem número de empresas transversais ao setor, mas também de clientes que julgam saber tudo sobre eventos, pois ou já viram num filme de ficção científica onde os hologramas eram perfeitos ou porque viram na internet que um primo lhes mostrou um ledwall chinês em altíssima definição e baratíssimo”…
“Não subscrevo aquela máxima de que o cliente tem sempre razão…o cliente pode ter sempre a decisão e aí é soberano, mas cabe‑nos a nós mostrar‑lhe a razão e encaminhá‑lo para uma boa solução. Mas para isso é preciso saber e essa sabedoria não está na internet, está no já ter feito e já ter vivido!”, desabafa. O facto de muitos clientes terem grandes exigências e pequenos orçamentos ou de inventarem pretextos para reivindicar descontos é outro aspeto menos agradável da sua atividade diária.
Memórias boas... e nem por isso
Entre as memórias mais relevantes da sua carreira está a Expo 98, que considera ter sido “uma viragem neste setor e um salto em responsabilidade e aprendizagem” que partilhou com outros profissionais da área.
“Mas as histórias e as memórias vão sendo contadas todos os dias, evento após evento, até porque o próximo é sempre o de maior responsabilidade e o que o cliente mais valoriza. É o ‘evento da vida dele’ e da nossa também”, sublinha.
Entre os eventos mais marcantes destaca Euro 2004, Web Summit, a festa de campeão do Sport Lisboa e Benfica no Marquês de Pombal, as visitas do Papa Francisco e do príncipe Aga Khan a Portugal, entre outras.
As histórias hilariantes são, por isso, muitas e será difícil escolher uma: “Desde um cliente que recorreu à nossa empresa porque o fornecedor habitual falhou. Apareceu já na desmontagem, alegando que se tinha enganado na data. Ou ao cliente que, ao ver um técnico muito jovem, achou que seria filho do profissional contratado. O técnico que, em pleno trabalho e a montar uma coluna de som, escorrega e cai para dentro da piscina agarrado à coluna e tudo. O técnico que, irresponsavelmente, trata mal uma pessoa no trânsito com a carrinha devidamente identificada e, para seu azar, chega ao local do evento e percebe que a pessoa a quem chamou nomes era o cliente. E depois aquele cliente que pediu tudo e mais alguma coisa e que, quando fomos desmontar, não estava lá nada e ele tinha roubado tudo”.
Paulo Rodam diz ter “a estrelinha dos audiovisuais” e, por isso, não se lembra de situações particularmente complicadas: “Problemas com corrente elétrica e geradores a provocarem um ‘apagão’ num evento daqueles que nos seca o ar dos pulmões, quem já não teve?! Eu já, mais do que uma vez e não recomendo a ninguém”, brinca.
Os trabalhos no exterior são sempre mais arriscados e, nesse campo, lembra‑se do que ocorreu durante a visita do Papa Francisco a Fátima. “Durante a instalação dos ecrãs e sistemas de PA para acompanhamento da visita deparámo‑nos com condições climatéricas adversas e ventos muito fortes. Ao ver que os écrans suspensos abanam e fazem mais de 45 graus de inclinação vês um pouco a vida a andar para trás”, admite. Mas o facto de trabalhar com uma equipa altamente profissional e preocupada com a segurança deixou‑o mais descansado. E tudo acabou por correr bem.
Olga Teixeira
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