Turismo cultural e a origem do turismo de massas

Opinião

31-01-2025

# tags: Eventos , Turismo , APECATE

A atividade turística surge do desejo e da vontade humana em conhecer mais, saber mais e descobrir mais sobre a sua existência e o seu meio ambiente.

Hervé Barré, diretor da UNESCO no início dos anos 90, referiu em tempos que a primeira motivação humana para fazer turismo foi cultural. Remetendo para o que é considerado o início do turismo (Grand Tour), essas elites que viajavam meses no interesse em visualizarem as grandes obras da história pela França e Itália deslumbravam-se na paisagem e sentiam esse enriquecimento cultural.

Será justo, então, afirmarmos o turismo cultural como o princípio do turismo como hoje o conhecemos.

Mas como se tornou ele num fenómeno de popularidade, num crescente humano dos destinos, contribuindo fortemente para o turismo de massas?

Há diversos motivos que contribuem para esse efeito, mas, essencialmente, são a natureza humana para a descoberta, a necessidade de conhecimento, a afirmação social, o reconhecimento entre pares, a democratização da viagem e o desenvolvimento económico no mundo ocidental.

A crescente classe média, com acesso facilitado aos destinos pelas diversas formas e meios, tem sido, em grande parte, responsável pelo crescimento do turismo. Tornou-se acessível para uma grande parte da humanidade fazer turismo, bem como o desejo para tal tem sido incrementado e desenvolvido nas diversas formas de comunicação. É curioso observarmos a evolução dos interesses pessoais na aplicação de prémios ou ganhos pontuais, alguns anos atrás seria para uma casa, obras, um carro ou uma poupança, hoje é realizarem um sonho, uma viagem memorável, visitar o destino da moda, etc.

Os territórios e as suas formas de gestão perceberam o fenómeno e na necessidade permanente do crescimento económico -de realizarem mais obra para as carências locais ou simplesmente tentarem corresponder com anseios públicos -vão explorar e usar técnicas de comunicação, marketing e eventos, atraindo o máximo de turistas.

É inegável o benefício direto e indireto do turismo e dos eventos, nas suas mais variadas expressões – musicais, desportivos, culturais, religiosos, etc. -nos destinos. No caso nacional, e em particular de alguns locais, tem sido a solução para a reabilitação urbana, reconstrução de bairros em estado de degradação e atualmente renovados, mas também na mitigação da desertificação do interior português. A quantidade de novos postos de trabalho, empresas e criação de dinâmicas locais contribuindo para uma efetiva melhoria das condições de vida dos residentes.

Porém, há sempre uma face não tão positiva, nomeadamente, a especulação financeira, aumento rápido dos bens de consumo e imobiliários. Mas um dos maiores problemas é efetivamente cultural – a gentrificação dos destinos, a apropriação dos espaços dos locais por forasteiros, a potencial aculturação do destino e a pressão humana gerada por excessos de fluxos turísticos.

O atual contexto reveste-se de alguma complexidade e sensibilidade social; a influência dos meios de comunicação e das redes sociais causam um extraordinário impacto nas decisões. Assistimos a movimentos de revolta ao “excesso” de turismo, nalguns casos justificado, mas também a decisões políticas na gestão dos problemas com base nesse impacto mediático. Corremos riscos extremos na radicalização das decisões.

Todo este contexto afeta a perceção de qualidade e valor dos destinos e tem uma influência determinante aquando da decisão para a localização e realização dos eventos.

Os organizadores de eventos sabem bem da importância de propor destinos onde o seu imaginário sugere um ambiente vibrante, enérgico, inspirador, seguro e sustentável. E, para isso acontecer, toda a cadeia de decisão com influência no território tem de o conhecer profunda e realmente, sem “achismos”.

© João Fiandeiro Santos Opinião

Sócio-gerente da Caminhos da História - Animação Turística

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