< Previous“NINGUÉM IMAGINA O MUNDO SEM ESPETÁCULOS” © Nuno Conceição WWW.EVENTPOINT.PT 20 OPINIÃO “O KULTURA VÍRUS” A terceira guerra mundial começou. O inimigo não é outra nação humana, mas sim um exército invisível que se chama Covid‑19. Os efeitos da guerra são iguais a qualquer outra, com vítimas mortais e destruição do nosso modo de vida e da economia. Estamos confinados a casa há quatro semanas e, como alunos bem comportados, assistimos todos os dias na televisão aos responsáveis políticos a fazerem aquilo que nos dizem para não fazermos: manter relacionamento social. Este país abençoado por Deus à beira mar plantado, sem dúvida o melhor país da Europa para se viver, além do clima fantástico, luminosidade, gastronomia, paisagem, geografia e povo, parece ser um local onde a Covid‑19 se dá mal. Este país que se tornou num dos principais destinos turísticos do mundo, tem conseguido manter o controlo do vírus, graças ao confinamento da população, em consonância com a oferta hospitalar disponível e isso tem garantido um nível, felizmente para nós, baixo, quando comparando com as grandes nações do mundo. Para país de remediados, onde o apoio às empresas fechadas, que se vêm forçadas a recorrer ao layoff, é um dos mais baixos da Europa, os empresários mantêm a resiliência em acreditar que vamos ultrapassar tudo isto, e rapidamente voltar ao normal. Aquilo que raramente nos dizem nas notícias, apesar do Estado português garantir 70% de 2/3 do salário bruto, até a um plafond máximo, outros países apoiam muito mais o seu tecido empresarial, como Espanha que garante 70% do salário bruto, e França 85% do salário bruto. Assim as empresas estão enxutas para começarem com fôlego no primeiro dia da retoma.Esta crise não é igual à de 2011, em que o Estado entrou em bancarrota, pelo contrário esta crise é das empresas e das pessoas, pelo que a retoma tem que ser feita com medidas de alívio fiscal para alavancar o crescimento, e não com aumentos de impostos. Esta crise tem de ser comandada pelo ministro da Economia, e não pelo ministro das Finanças. O setor da cultura necessita de medidas específicas de apoio à retoma. É imperativo! O filão do turismo não se deve ao sol e praia, mas sim à cultura. As pessoas viajam para Portugal fundamentalmente por motivos culturais, porque para irem à praia vão para destinos como Cabo Verde, Caraíbas ou Tailândia. O que as motiva a escolher um destino é a cultura. O património, os espetáculos, os museus e exposições, a gastronomia e a paisagem são fundamentais. São estes a verdadeira máquina que impulsiona os fluxos turísticos e, por isso, a cultura tem de uma vez por todas de fazer parte dos incentivos do ministério da Economia e do Turismo de Portugal. Não faz sentido manter a cultura confinada a um ministério cuja função empírica comum é o de manter património e as artes das minorias. A cultura tem de ser levada a sério desta vez. A cultura foi o primeiro setor a fechar com a crise e, tudo indica, vai ser a ultimo a abrir após a retoma. Por isso, o governo deve implementar um plano de apoio à atividade, assim como implementar políticas de alívio fiscal para na fase da retoma alavancarmos a economia cultural e dos eventos. Medidas simples e eficazes como as aplicadas na Politica Agrícola Comum em que se pagava aos agricultores para não cultivarem. O nosso setor, caso WWW.EVENTPOINT.PT 22 OPINIÃO nos mantenham fechados, tem de ser subsidiado, e o governo deve, junto do Eurogrupo, pedir uma linha direta de subsídio para as empresas se manterem, enquanto lhes for vedado o exercício da sua atividade profissional. Caso contrário, a larga maioria extingue‑se. Por outro lado, políticas de alívio fiscal devem ser aplicadas para incentivo ao consumo cultural, tanto em sede de IRC, como de IRS. Bilhetes para espetáculos, museus e exposições devem ser considerados custo direto das empresas, e não sujeitas a tributação autónoma, e o IVA deve ser dedutível. Assim, incentivamos as empresas a convidarem os seus clientes e colaboradores. Dedução específica de despesas com espetáculos, museus e exposições em sede de IRS como forma de incentivo ao consumo é também uma outra medida necessária. Temos saudades de um palco e das palmas do público e somos indispensáveis à sociedade. Ninguém imagina o mundo sem espetáculos. A experiência do ‘ao vivo’ é insubstituível e bem de primeira necessidade dos povos modernos. Para terminar uma frase de Maurice Merleau‑Poty: “O artista é aquele que fixa e torna acessível aos demais humanos o espetáculo de que participam sem perceber.” The show must go on. Alvaro Covoes Diretor da Everything is New“A VIDA DE EVENTOS É A SUA VIDA“ © Prolight & Sound WWW.EVENTPOINT.PT 24 DOSSIÊ TEMÁTICO VIDA DE EVENTOS: A HISTÓRIA E AS HISTÓRIAS DE QUEM FAZ DOS EVENTOS A SUA VIDA QUESTÕES: Como é que chegou a esta área? O que o motiva? Do que gosta mais nesta atividade? Do que gosta menos nesta atividade? Uma história ou uma memória relacionada com o seu trabalho? Um momento mais hilariante num evento? Um momento marcante em que as coisas não correram bem ou podiam não ter corrido bem? Apagões, uma inauguração com obras ainda a decorrer, ecrãs que ameaçam cair, birras de artistas, funcionários distraídos ou demasiado zelosos… quem vive nos e para os eventos tem mil histórias para contar, mil situações em que a capacidade de improviso e a criatividade resolveram algo que podia não ter corrido da melhor forma. Ou seja, e como diria quem conhece bem a área…é apenas mais um dia de trabalho. Com imprevistos, nervos, gargalhadas e uma grande dose de entrega, mas sempre a dar o melhor. Embora com percursos e histórias diferentes, os profissionais desta área com que conversámos partilham a paixão pelo seu trabalho e uma enorme capacidade para ultrapassar obstáculos, independentemente da sua dimensão. A todos colocámos as mesmas questões (ver caixa ao lado) e as respostas permitem perceber que, para estes profissionais, não há sacrifício que não seja recompensado quando o resultado final, apesar de todos os desafios, é atingido ou superado. A vida de eventos é a sua vida. Conheça as suas histórias. JOSÉ LUÍS LOURENÇO DEPARTAMENTO DE PRODUÇÃO DO ALTICE ARENA Foi através da SuperFM Rádio Rock, rádio que ajudou a fundar e onde trabalhava, na década de 90, que José Luís Lourenço chegou à área dos eventos. Foi contactado por uma agência de publicidade para organizar eventos em vários pontos do país por ocasião da abertura de lojas da marca Levi’s. WWW.EVENTPOINT.PT 26 DOSSIÊ TEMÁTICO “O briefing da casa mãe determinava que as festas de inauguração tinham que ter artistas na área do rock e do hard rock. Procurei uma boa banda de covers e encontrei os Gang na Garetejo”, conta, revelando que a primeira festa, em Setúbal, juntou cerca de três mil pessoas”. Os clientes ficaram bastante satisfeitos e José Lourenço descobriu uma paixão: “Fui aí mordido pelo bicho da produção de eventos e já não me via a fazer outra coisa”. Os anos passaram, a dimensão dos eventos em que está envolvido cresceu e diz encontrar motivação em “estar rodeado de pessoas criativas e ver nos momentos adversos que nós, portugueses, somos muito bons nesta área e temos uma capacidade de pensamento lateral (a arte do desenrasca) que poucos têm lá por fora”. A ausência de rotina e os constantes desafios que lhe são colocados são a melhor parte de trabalhar em eventos. Por isso, é fácil definir do que mais gosta nesta atividade: “O facto de nunca estar a trabalhar da mesma forma ou na mesma coisa dia após dia e de ainda me surpreender com este mundo fantástico de espelhos e fumo que são os espetáculos e os eventos corporate”. HISTÓRIAS DA ESTRADA E DOS PALCOS Entre as muitas memórias da sua carreira destaca a noite de encerramento da Expo 98, em que Chuck Berry atuava na Praça Sony. José Luís Lourenço conta que, “10 minutos antes de entrar em palco, decidiu que não deixava que o show passasse no Jumbotron”. Um problema quase tão grande como a dimensão da plateia: “Tínhamos cerca de 40 mil pessoas à frente do palco e só as primeiras 5000 é que viam diretamente o palco. Foi um momento de algum pânico controlado, mas com uma reconfiguração rápida do dispositivo de segurança foi possível controlar o estrago”. Momentos há em que o pânico se transforma em gargalhadas e um dos mais hilariantes que viveu ocorreu em 1995: “Ao fazer o reconhecimento de um local onde se iria realizar um dos espetáculos de campanha de um partido político, perguntei onde poderíamos ir buscar a corrente elétrica, já que precisávamos de 125 amperes trifásicos com neutro e terra. O responsável local do partido disse que já estava tratado e, apontando para um quiosque que ficava num canto da praça, disse: ‘pode ligar o que quiser que o senhor Fernando do quiosque depois faz contas quanto ao consumo. E eu respondi que não era boa ideia, porque o quiosque era de alumínio e era capaz de derreter com a energia que íamos tirar de lá”. Mais difícil é escolher um momento em que as coisas não correram bem ou podiam não ter corrido bem: “Este assunto dava para ficarmos aqui umas horas à conversa pela simples razão de que o facto de as coisas às vezes não correrem bem é a verdadeira razão de esta quantidade enorme de profissionais existirem. Falo de produtores, gestores de palco, stage hands, riggers, técnicos de som, vídeo e luz, etc. Nós existimos porque num evento a Lei de Murphy está sempre presente e este conjunto de pessoas está lá para a travar”. Lembra, ainda assim, dois exemplos dessas situações. Uma aconteceu aquando do espetáculo de Ricky Martin no Altice Arena: “Recebemos um telefonema de Madrid, no dia anterior, às 23h00. O tour manager avisava que iam chegar muito atrasados a Lisboa por um lost in translation com o promotor local que se ‘esqueceu’ de marcar stage hands para a desmontagem. Resultado: chegaram às 13h00 a Lisboa, quando deviam estar cá às 08h00. Ninguém almoçou e conseguimos abrir as portas com apenas 20 minutos de atraso em relação à hora marcada”. “No fim foi bom receber os cumprimentos do tour manager, que nos disse que não desmarcou o concerto porque sabia que as equipas em Lisboa são extremamente competentes e eficientes. Sabe bem ouvir estes cumprimentos ao fim de um dia de 16 horas a trabalhar”, revela. Outro exemplo de algo que poderia ter corrido menos bem foi um evento de uma multinacional da área dos petróleos na Sala Tejo. “O evento destinava‑se à imprensa e franchisados, para apresentação da nova imagem das bombas de combustível que iriam implementar. Para isso fizeram um cenário 2D à escala 1:1 que era montado com fita dupla face a umas ripas de madeira afixadas num andaime. Cinco minutos antes de abrir portas toda a estrutura em K Line impresso desprendeu‑se e caiu. Tivemos que atrasar a abertura e aparafusar as placas às ripas de madeira, o que resultou em 30 minutos de atraso”. WWW.EVENTPOINT.PT 28 DOSSIÊ TEMÁTICO MARISA MESQUITA SÓ CATERING & ALL2RENT O seu percurso na área dos eventos começa nos anos 90, na Exponor, seguindo‑se um grupo de empresas ligadas à restauração, onde trabalhou sempre na área de catering e serviços. Next >