< PreviousA paixão cresceu e acabou por decidir dar o passo seguinte: “Ao fim de alguns anos, achei que era tempo de dar o meu salto e fundar a minha própria empresa, com as minhas ideias, as minhas ambições e, sobretudo os meus princípios basilares, que assentam na proximidade com o cliente”. Apesar de saber bem o que pretendia, admite que “não foi fácil”: “Sair de uma empresa onde tudo estava formatado, com regras, imposições e bem consolidada e fundar um novo projeto seria uma aventura que me custaria esforço, sobretudo numa altura de grande crise, como foi o ano de 2010”. Considera que só conseguiu ser bem‑sucedida devido à confiança dos clientes com quem já tinha trabalhado. “Conheciam bem o meu trabalho e quiseram trabalhar comigo, mesmo sabendo que embora não tendo o serviço com a mesma estrutura, poderiam ter a certeza da minha total entrega. Assim, o facto de ter começado com pouca estrutura, mas muita motivação, aliado a um sócio a quem devo imenso, o Paulo Costa, tornou possível, ao fim de dez anos, chegar a uma posição confortável”, resume. E é justamente essa a sua principal motivação: “Olhar para trás e ver o que foi possível conquistar com tantos sacrifícios, ver no presente o que temos, erguer os olhos e esperando com toda a certeza que o futuro, pelo trabalho, força, dedicação, será seguramente, com a graça de Deus, triunfante. Ter a certeza de que tenho uma equipa que trabalha com os mesmos objetivos que eu”. DETALHES: PARA O BEM E PARA O MAL Marisa Mesquita admite que do que mais gosta na sua atividade é “fazer acontecer. Passar da ideia à concretização, ou seja, tornar real aquilo que o cliente imaginou, seja um simples coffee break, um grande banquete ou uma grande conferência. Ter a certeza de que cada detalhe foi executado conforme o cliente desejou, previu e pretendeu”. A importância do detalhe acaba, porém, por ser também a parte menos boa de quem trabalha em eventos. “O mais desagradável e frustrante nesta atividade é mesmo quando todo o esforço é gorado por uma pequena falha que por vezes não é da nossa responsabilidade”, confessa. Recorda um filme francês, que WWW.EVENTPOINT.PT 30 DOSSIÊ TEMÁTICO viu recentemente, em que todo o planeamento de um evento acabou por ser prejudicado quando um empregado de mesa resolveu colocar o seu telemóvel a carregar, levando a um problema de eletricidade que apagou luzes e som, desligou fornos e causou uma série de peripécias. “É hilariante ver a forma como o catering deu a volta ao sucedido, mas é tão real que me leva a rever neste filme quantas vezes tudo está afinadíssimo, como uma orquestra, e basta uma palavra mal dada de um empregado de mesa, uma nódoa de vinho no vestido de uma senhora, o atraso no serviço, a temperatura do vinho, o café não ser do agrado, o vegetariano que esperou e fez esperar toda a mesa, a mesa da presidência que não fecha os talheres e que ninguém entende a demora do serviço, para que tudo seja um stress que só entende quem vive estes momentos ou está nesta vida de eventos”, confessa. “Chegar ao final do evento e não ver o sorriso de alegria dos convidados e do cliente que nos contratou é sem dúvida alguma a maior frustração desta atividade”, admite. Entre as memórias mais queridas estão os eventos solidários para os quais as suas empresas são solicitadas. “Todos eles nos tocam muito, pois vemos o quanto as pessoas se empenham e dedicam em cada jantar de angariação de fundos. Em cada um existe uma história e estórias... em muitos meninos e meninas a quem fazemos sorrir existe uma memória que nós guardamos que é irrepetível e todas elas são memórias que guardamos intimamente no coração”. E se alguns momentos são recordados pela emoção, outros, de tão inusitados, provocam sorrisos, como este, contado aqui na primeira pessoa: “Recordo uma vez um empregado de mesa que me chegou muito aborrecido pois o cliente estava zangado com ele! Perguntando‑lhe porquê, respondeu‑me ‑ Ora, ele pediu‑me uma Coca‑Cola com leite, eu levei‑lhe e ele perguntou‑me que cor era esta! Eu, olhando para o copo e para o empregado, espantada, interroguei‑o. ‑ Mas foi uma Coca‑Cola com leite que ele te pediu? ‑ Agora está a dizer que foi uma Coca‑Cola light!!, disse, com ar zangado. Não sabia se havia de rir se chorar... são estes os desesperos dos nossos dias!”Ao longo da sua carreira têm também existido outros momentos em que, de repente, todo o planeamento parecia ter sido em vão. Como o jantar para 800 pessoas em que, “estava tudo organizado, todo o pessoal distribuído, todo o material atribuído a cada função... mesmo assim faltava uma hora e nada estava pronto. Havia mesas por montar, mesas por pôr, cadeiras por chegar e um trânsito que não permitia circular pela cidade”. A responsável pela Só Catering recorda que o seu desespero era partilhado pelo cliente. “Mais do que não termos o pessoal que já deveria ter chegado, era o material que estava no camião. Apenas a comida estava pronta... Numa hora, mal chegou o camião, montamos a sala, pusemos as mesas e as 800 pessoas, quando chegaram, acharam tudo normal”. Marisa Mesquita lembra que o jantar foi um sucesso, mas foi uma experiência que não quer repetir: “O Paulo e eu tomamos dois Xanax!”. WWW.EVENTPOINT.PT 32 DOSSIÊ TEMÁTICO PAULO MAGALHÃES PMP EVENTOS Para Paulo Magalhães, a chegada aos eventos aconteceu devido à sua paixão pela dança. Foi Campeão Nacional de Dance Music e representou Portugal no Campeonato da Europa na Alemanha, em 1989. Estudou em Londres e trabalhou com Ricky Martin e Enrique Iglésias. Já em Portugal, foi durante vários anos bailarino do “Chuva de Estrelas”, até que percebeu que tinha potencial e criatividade para voos mais altos e decidiu criar a sua própria empresa, que viria a nascer em 2002. “Fruto dos bons resultados e do acréscimo de solicitações nas várias manifestações, quer artísticas, quer de eventos, foi necessário consumar essa expansão na obtenção de sede empresarial”, revela, dizendo que foi o concretizar de um sonho. O que o motiva? “Em primeiro lugar, fazer o que amo! Também poder dar esta oportunidade a outros, já que a PMP contrata cerca de dois mil artistas por ano. Motiva‑me ter uma equipa que mantém uma atitude positiva perante a vida e o trabalho”, admite. “Uma atitude motivadora e positiva em todos os momentos da nossa vida dá‑nos um retorno fantástico. Uma atitude otimista garante, no mundo artístico, a maior das gratidões: o caloroso aplauso do público”. “DREAMAR” Paulo Magalhães criou mesmo uma palavra para definir o que gosta de fazer: “dreamar”. Uma referência à sua experiência internacional, mas também ao facto de estar a concretizar um sonho. Assim, quando questionado sobre do que mais gosta nesta atividade fala na liberdade que lhe é dada “para sonhar e criar”, ou seja, “dreamar na crista das ondas”. Mas fala também na “inspiração de ser visto como um exemplo, inspirar os outros a seguirem os seus sonhos artísticos”, na “paixão, o combustível dos sonhadores”, e na “ousadia de tentar chegar onde mais ninguém tentou chegar”: “Ousar e ser diferente na minha arte é a minha imagem e o meu cartão‑de‑visita. Tento inovar em tudo o que faço e desta forma crio o meu próprio fator x”. Paulo Magalhães elege também a criatividade como algo que o atrai nesta atividade: “A PMP é uma fábrica de sonhos. O futuro do mundo será dominado pelas mentes mais criativas. Gosto de transformar mentes em máquinas criativas que produzem WWW.EVENTPOINT.PT 34 DOSSIÊ TEMÁTICO maravilhas para os cinco sentidos”. Se o sonho é a melhor componente do seu trabalho, já o lado menos bom prende‑se com algo muito mais relacionado com a realidade. “Os atrasos nos pagamentos” são aquilo de que menos gosta. Entre as muitas histórias vividas, destaca o contributo para a expansão da kizomba: “Até parece ser falta de modéstia, mas fomos responsáveis pela expansão desta dança no mundo. Lembro o primeiro evento mundial dedicado à kizomba e ritmos africanos que, nessa altura, começavam a conquistar Lisboa. Nasceu em 2007 o África Dançar – 1º Congresso Internacional de Danças Africanas e com ele a primeira final do Campeonato Internacional de Kizomba”. “Como consequência do trabalho desenvolvido para a divulgação e expansão da Kizomba e restantes ritmos africanos, a PMP foi convidada para, com a sua equipa, estar presente em 26 países para produzir outros tantos documentários televisivos, que foram transmitidos em vários países de língua portuguesa e podem ser vistos no YouTube”, recorda. PAULO RODAM AVK, SOLUÇÕES AUDIOVISUAIS A ligação de Paulo Rodam aos eventos recua até aos tempos em que o seu pai, Cândido Rodam, trabalhava na Fundação Calouste Gulbenkian, também na área audiovisual. Já na época Paulo Rodam “vagueava pelos corredores daquela grande instituição em busca de aprendizagem e em mexer em qualquer coisa eletrónica”. “Naquela altura ainda não existiam tutoriais na internet nem redes sociais para descobrir. Era preciso mexer, fazer e estar em contacto com as coisas”, relembra. WWW.EVENTPOINT.PT 36 DOSSIÊ TEMÁTICO Mais tarde, já na Alfasom, começou a fazer montagens e pequenos trabalhos depois das aulas e aos fins de semana. Ou seja, o percurso foi tão natural que não tem dúvidas em afirmar: “Eu não cheguei a esta área... esta área é que chegou até mim”. A paixão é, por isso, bastante antiga e a motivação, mesmo nos dias menos bons, é fácil de encontrar: “Nada melhor do que um trabalho no exterior para libertar as energias, seja pela componente física de uma montagem, seja pela adrenalina do dia do evento. Aí a motivação volta logo”, confessa. De resto, e no dia‑a‑dia, não lhe faltam razões para se sentir motivado, “desde a evolução tecnológica, às vezes demasiado rápida”, passando pelas pessoas. E, aqui, Paulo Rodam destaca as pessoas com quem trabalha: “São o motor que faz andar a máquina, são eles que empurram para a frente as nossas empresas com muitas horas de trabalho, por vezes mais do que aquelas que estão com as suas famílias e em suas casas”. Por isso, diz que tenta estar “o mais próximo possível” de quem com ele trabalha, até porque considera que o sucesso é maior se os responsáveis pelas empresas estiverem habituados a estar no terreno. Talvez por isso seja fácil de dizer do que mais gosta nesta atividade: “Gosto de tudo! Todos os dias são diferentes; num dia estás embrulhado em plantas, projetos, orçamentos, ideias e reuniões e no outro estás, às 6h00, numa sala de espetáculos ou num pavilhão para iniciar a montagem de um evento”. “Esta profissão é demasiado enérgica e dinâmica para que quem nela trabalha possa dizer que faz sempre a mesma coisa, tem dias melhores e piores, mas é linda e desafia‑nos todos os dias”, sublinha. Mas há um lado que lhe desagrada um pouco e que está relacionado com “a internet e as redes sociais”: “Isso transformou algumas pessoas em superentendidos em eventos, dando origem ao aparecimento de um sem número de empresas transversais ao setor, mas também de clientes que julgam saber tudo sobre eventos, pois ou já viram num filme de ficção científica onde os hologramas eram perfeitos ou porque viram na internet que um primo lhes mostrou um ledwall chinês em altíssima definição e baratíssimo”...“Não subscrevo aquela máxima de que o cliente tem sempre razão... o cliente pode ter sempre a decisão e aí é soberano, mas cabe‑nos a nós mostrar‑lhe a razão e encaminhá‑lo para uma boa solução. Mas para isso é preciso saber e essa sabedoria não está na internet, está no já ter feito e já ter vivido!”, desabafa. O facto de muitos clientes terem grandes exigências e pequenos orçamentos ou de inventarem pretextos para reivindicar descontos é outro aspeto menos agradável da sua atividade diária. MEMÓRIAS BOAS... E NEM POR ISSO Entre as memórias mais relevantes da sua carreira está a Expo 98, que considera ter sido “uma viragem neste setor e um salto em responsabilidade e aprendizagem” que partilhou com outros profissionais da área. “Mas as histórias e as memórias vão sendo contadas todos os dias, evento após evento, até porque o próximo é sempre o de maior responsabilidade e o que o cliente mais valoriza. É o ‘evento da vida dele’ e da nossa também”, sublinha. Entre os eventos mais marcantes destaca Euro 2004, Web Summit, a festa de campeão do Sport Lisboa e Benfica no Marquês de Pombal, as visitas do Papa Francisco e do príncipe Aga Khan a Portugal, entre outras. As histórias hilariantes são, por isso, muitas e será difícil escolher uma: “Desde um cliente que recorreu à nossa empresa porque o fornecedor habitual falhou. Apareceu já na desmontagem, alegando que se tinha enganado na data. Ou ao cliente que, ao ver um técnico muito jovem, achou que seria filho do profissional contratado. O técnico que, em pleno trabalho e a montar uma coluna de som, escorrega e cai para dentro da piscina agarrado à coluna e tudo. O técnico que, irresponsavelmente, trata mal uma pessoa no trânsito com a carrinha devidamente identificada e, para seu azar, chega ao local do evento e percebe que a pessoa a quem chamou nomes era o cliente. E depois aquele cliente que pediu tudo e mais alguma coisa e que, quando fomos desmontar, não estava lá nada e ele tinha roubado tudo”. WWW.EVENTPOINT.PT 38 DOSSIÊ TEMÁTICO Paulo Rodam diz ter “a estrelinha dos audiovisuais” e, por isso, não se lembra de situações particularmente complicadas: “Problemas com corrente elétrica e geradores a provocarem um ‘apagão’ num evento daqueles que nos seca o ar dos pulmões, quem já não teve?! Eu já, mais do que uma vez e não recomendo a ninguém”, brinca. Os trabalhos no exterior são sempre mais arriscados e, nesse campo, lembra‑se do que ocorreu durante a visita do Papa Francisco a Fátima. “Durante a instalação dos ecrãs e sistemas de PA para acompanhamento da visita deparámo‑nos com condições climatéricas adversas e ventos muito fortes. Ao ver que os écrans suspensos abanam e fazem mais de 45 graus de inclinação vês um pouco a vida a andar para trás”, admite. Mas o facto de trabalhar com uma equipa altamente profissional e preocupada com a segurança deixou‑o mais descansado. E tudo acabou por correr bem.Next >