< Previousportuguesa ficar com a organização global de um congresso internacional. Os PCO internacionais, os chamados Core PCO, têm‑nos na mão, quer nós queiramos ou não, portanto se nos derem isto ou aquilo já vamos cheios de sorte. E nós também impormo‑nos no mercado internacional que está dominado pelas grandes empresas é extremamente difícil. Já falou do congresso da ESHRE, um dos maiores que se fez cá em Portugal … Foi tudo feito cá. Perguntavam‑se, como é que consegues fazer isto? E eu dizia sistematicamente: planeamento e organização. Foi o que eu aprendi com os americanos. São fantásticos a fazer eventos. Eu não sou melhor do que os outros, aprendi. Dos maiores eventos feitos por empresas portuguesas de A a Z, penso que foi o maior. Como é que se trabalha para chegar a esses decisores? Como é o processo? Viaja‑se muito e principalmente tem‑se muitos conhecimentos. Nós temos um sistema, pesquisa, e foi assim que chegamos à EEA ‑ European Economic Association, e ao congresso europeu de economia, em 2017. Temos duas ou três hipóteses de pesquisa: as associações que nunca vieram para Portugal; as associações ou instituições que vieram para Portugal há mais de dez anos e que nunca voltaram. Identificamos essas associações e procuramos um local champion. Ele fez a candidatura, ganhou‑a connosco por trás. Este foi apenas um exemplo. Arranjamos sempre um ponto de contacto, que tenha bons contactos dentro da associação. Nós não nos podemos simplesmente dirigir às associações e dizer que somos fantásticos. E depois os bids estão online e é fazê‑los e dar o empurrão. Há muito lobbying, por trás. Claro que há. Hoje em dia, porque Lisboa está muito nas bocas do mundo, já não é preciso tanto trabalho de lobby como era há uns anos. É fácil encontrar essas figuras em Portugal, de pessoas que têm uma presença relevante internacional? É! Claro que é! Muitas vezes nós desconhecemo‑los completamente, mas eles estão lá. Exige pesquisa, dedicação, persistência. Porque a primeira reação é sempre ‘não’; ‘dá muito trabalho’! Dá trabalho, com certeza que dá, se bem que nós fazemos o grosso do trabalho. Mas depois há, claro, aquele trabalho que tem de ser feito pelo presidente do congresso. WWW.EVENTPOINT.PT 20 GRANDE ENTREVISTA O PCO EM PORTUGAL ESTÁ PROFUNDAMENTE AMEAÇADO Tocou há pouco num aspeto que é interessante, que é o do papel dos PCO em Portugal. Que papel é esse, hoje? O PCO em Portugal está profundamente ameaçado, senão em extinção. Não é uma visão derrotista, é realista. O mundo digital, as plataformas, fizeram com que, e estou a falar em Portugal, por exemplo, muitas sociedades tenham o seu secretariado próprio, plataformas próprias. Será que têm noção do que isso lhes custa versus service bureau services? Provavelmente não têm. Já fiz um estudo e sai‑lhes mais caro ter recursos humanos permanentes do que contratarem serviços externos. Mas isso é uma coisa em que não me meto, apesar de ter o estudo feito. Esta é a primeira questão, as plataformas dão hipótese a muita gente de fazer as inscrições, os abstracts, a parte financeira e administrativa, e depois vão aprendendo com os seus erros ao longo do tempo. E vão aperfeiçoando o seu secretariado. Portanto esta é uma hipótese que está a tirar trabalho aos PCO. Outra questão é a desorganização do mercado. Quando estive na APECATE [Associação Portuguesa das Empresas de Eventos, Congressos e Animação Turística], um dos meus sonhos e da Ana Barbosa era o registo da profissão. Nós não existimos! O que é o organizador de eventos ou de congressos? Não é nada, não existe. A ideia na altura era, à semelhança do RNAAT [Registo Nacional de Turismo] e do alojamento local, ter um registo para organizadores de eventos. Portanto, isto é a desorganização absoluta do mercado, o que quer dizer que toda a gente pode fazer tudo. E isso, aliado às instituições e sociedades terem cada vez mais acesso a ferramentas que lhes proporcionam um individualismo, que cada um decide como deve fazer, e à influência dos grandes Core PCO, faz com que os PCO portugueses estejam qualquer dia com trabalho reduzidíssimo. Além de estar a preparar a empresa para o futuro © APECATE nesta área, o objetivo é ir também buscar outros nichos de mercado, disso não tenho dúvida nenhuma. Por exemplo? O turismo de ‘high standing’ (nível alto), por exemplo. É uma área em que podemos fazer coisas fantásticas. Portugal é um país de primeira água. Este pode ser um caminho. E já estou a preparar a empresa para isso. Esse redireccionar, essa reinvenção, para si é dolorosa? Não, não é nada doloroso. Nestas coisas tenho uma carapaça bastante dura. Sou muito pragmática. A melhor definição de inteligência é a capacidade de adaptação a circunstâncias em mudança. E é isto que nós temos de fazer. Fiz muita coisa numa área, gostei muito, vou continuar a fazê‑lo. Foram desafios fantásticos, mas sinto que não pode ficar por aqui. Quem ficar amarrado a um modelo de negócio só, qualquer que ele seja, tenho muitas dúvidas que consiga sobreviver. OS ARGUMENTOS DE PORTUGAL No ranking da ICCA, Lisboa aparece no segundo lugar em termos mundiais, e Portugal no 10º lugar, e um dos argumentos para que Lisboa apareça tão bem classificada não será tanto por ter atraído grandes congressos, com muitos milhares de participantes, mas de ter sido capaz de atrair uma infinidade de congressos de menor dimensão. Como é que olha para esta prestação de Lisboa e de Portugal neste ranking da ICCA? Os grandes congressos, os monstros dos congressos, como eu gostei de fazer, e que dão uma adrenalina fantástica, estão a cair um bocado em desuso. Em detrimento, por exemplo, de congressos por áreas temáticas: nutrição infantil, nutrição no idoso, o que seja. São mais fáceis de manusear, não perturbam tanto. Há mais cidades, mais diversidade de locais para acolher estes pequenos e médios congressos, maior periodicidade, portanto, mais rotatividade e mais acesso a postos de trabalho. WWW.EVENTPOINT.PT 22 GRANDE ENTREVISTA Lisboa e Porto são os dois principais destinos para congressos, mas como é que olha para a evolução ou para a possibilidade de outros destinos ganharem aqui mais algum relevo? Há com certeza possibilidade. Há um nicho de mercado que pode promover o interior do país. Agora, nós temos aqui duas situações completamente diferentes. Se pensarmos em congressos, é Lisboa, Porto, e, vá lá, Coimbra. O Algarve posicionou‑se bem, mas a dificuldade são as ligações aéreas. Hoje as pessoas não estão para ir de Abu Dhabi para Lisboa, e depois de Lisboa para Faro, e se faltar o avião irem de camioneta. Um evento para se fazer num sítio tem de ter as infraestruturas, tem de ter os hotéis walking distance, os transportes adequados, os acessos adequados, e depois tem de ter os fornecedores adequados à dimensão. O interior pode servir para outros eventos que não são aqueles em que eu pensava anteriormente, mas para aqueles que estou a pensar agora. Antes disto tudo acontecer, era recorrente a questão da falta de espaços para eventos, mesmo em Lisboa que é o epicentro. O que é que acha que pode acontecer daqui para a frente? Não sei. Vai ser construído agora em setembro, por aí, mais um centro de eventos em Vila Nova de Gaia e eu pergunto se terão consultado a associação dos profissionais? Em Portugal ainda temos alguma dificuldade em nos sentarmos à mesa e discutir ideias, partilhar experiências. Esta é uma mentalidade que tem de ser profundamente alterada e eu espero que as camadas mais jovens aprendam que as coisas não são assim. Em Lisboa, ainda não vi a planta do novo centro de congressos, o aproveitamento de um dos pavilhões da FIL. Pode ser uma coisa excelente. Tem que ser de uma versatilidade extrema. Em Lisboa há esta hipótese, não sei se existe mais alguma, de alguma renovação, e depois temos os clássicos. No Porto temos um novo e temos a Alfândega. E mais nada. Braga é uma hipótese. Com esta alteração profunda do mercado pode ser que as estruturas passem a ter um quesito diferente. Há câmaras com coisas fantásticas, mas não é para o nosso segmento de mercado. ASSOCIATIVISMO: EXPERIÊNCIA ENRIQUECEDORA Teve responsabilidades na APECATE, esteve também na liderança da EFAPCO [European Federation of Associations of Professional Congress Organisers]. O que é que essas experiências lhe trouxeram de mais enriquecedor? O contacto com culturas diferentes, maneiras de estar diferentes. Na APECATE com realidades diferentes. Quando entrei na APECATE deparei‑me com um mundo que não conhecia, que era o da animação turística. Como gosto muito de descobrir coisas, achei que foi uma experiência extremamente enriquecedora. Obviamente, tem escolhos, há sempre quem trabalhe, e quem espere que os outros trabalhem, mas isso é a realidade das coisas, não vale a pena... é como nos condomínios. A EFAPCO permitiu‑me descobrir o mundo das associações, mas infelizmente foi uma história falhada, porque foi uma federação de associações e, portanto, nós não conseguimos chegar às empresas. Como as associações são de uma maneira geral empíricas, não conseguiram passar a palavra para os seus membros. Mas para mim foi extremamente interessante, consegui perceber como é que os gregos trabalham, os polacos, os checos, principalmente esta gente da Europa de Leste que tem qualidades absolutamente fantásticas. E conheci espíritos diferentes, gente diferente, mentalidades diferentes e porque fazem as coisas de determinada maneira. E o que é que acha que esta pandemia vai provocar na meetings industry? É uma alteração profunda do mercado, na maneira de estar no mercado, na forma de fazer as coisas, que pode ter duas velocidades, uma ao nível da Europa, e outra ao nível do país. Não sei como é que o país se vai adaptar, principalmente os decision makers, a este novo paradigma. Tenho algum receio que a adaptação do mercado português não seja tão rápida quanto o necessário. Espero que consigam abrir a mente para se posicionarem perante novas metodologias e que acompanhem o nosso trabalho. Para implementar estas novas ferramentas no mercado as associações têm de nos apoiar e lutar connosco. Se não não vamos a lado nenhum. Depois do verão há congressos que tinham sido adiados para o último WWW.EVENTPOINT.PT 24 GRANDE ENTREVISTA trimestre. Gostaria que as coisas começassem a mexer para percebermos qual é a sensibilidade das pessoas, participantes, organizações, locais, fornecedores. As pessoas têm de estar em grande sintonia e de mãos dadas. Sente que as pessoas hoje estão mais disponíveis para esse exercício de colaboração? Não sei. Vou tentar apalpar o mercado. Neste momento estou a fazer planos e planos de contingência. Como é que os meus clientes vão olhar para aquilo? Não sei como vão reagir. Gostaria muito que reagissem de uma maneira extremamente positiva e que nos dissessem: ‘let´s go, this is the way’. Os nossos clientes não fazem parte de uma associação, de uma empresa, estão extremamente dispersos em sociedades diferentes, em realidades diferentes, procedimentos diferentes, capacidades financeiras diferentes. O mercado para nós, organizadores de congressos, é uma miscelânea. Mas acredita que nós, enquanto seres humanos, vamos continuar a querer estar uns com os outros? Quero acreditar nisso. Sou uma pessoa extremamente positiva. A realidade virtual, absolutamente virtual, não está próxima. O ser humano precisa de contacto físico, precisa de um abraço, um beijo, e é verdade, isso faz muito parte do ser humano. Não vamos virar robôs. Agora, ter uma mente aberta é precisamente a questão que se põe neste momento, para conseguirmos conciliar aquilo que podemos tirar de bom da realidade virtual para a realidade presencial. Quero acreditar nisso. Como é que olha para a comunicação dos destinos? Que tipo de argumentos é que um destino pode usar daqui para a frente? Como nos posicionávamos anteriormente. Neste momento não vejo grande mudança. A segurança continua. Continuamos a ter um país seguro, um país de uma beleza imensa, com uma gastronomia fantástica, com uma diversidade fantástica. Acho que há uma área que talvez não seja explorada, que é a nossa capacidade de adaptação. O português tem uma capacidade de adaptação fantástica. Não estou a falar da capacidade de adaptação das instituições e das sociedades, essas são mais pesadas, estou a falar na capacidade de adaptação do português individualmente, e isso aí acho que podemos capitalizar. Nós somos um povo que se adapta com uma capacidade extraordinária e com uma habilidade ‘tech’, de IT, fantástica. Pode ser mais um argumento a juntar aos que já existiam. Disse que estava numa fase de reinvenção. O que sente que ainda lhe falta fazer neste percurso já longo? As bases estão lançadas, ainda não as coloquei cá para fora porque quero ter a certeza de que está bem feito. Falta os clientes acreditarem que as empresas não são todas iguais. Agora, como é que eu faço chegar essa mensagem aos clientes ainda não sei. Hoje em dia começa a existir um sentimento de que é tudo facílimo. Você está a propor fazer um webinar em estúdio e a reação é: ‘nem pensar, tenho o zoom faço um webinar num instantinho com 10 pessoas’. É o facilitismo. E há empresas que estão a fazer um webinar por 500 euros e outras por 1750. Mas como é que se faz chegar uma mensagem de qualidade a clientes, isso falta‑me. WWW.EVENTPOINT.PT 26 GRANDE ENTREVISTA Dez perguntas a Luísa Ahrens Teixeira Congresso mais especial? O da EADV, que me deu muito gozo fazer. Figura marcante na sua carreira? Talvez a minha amiga Anette Gleich, da MCI. Prato preferido? Bacalhau à Brás. Hobby? Andar de barco à vela, que hoje em dia já não faço. Melhor palestra a que assistiu? A do António Damásio, acerca do funcionamento da estrutura do cérebro, que fez em Portugal. Cidade para viver? Vivia à beira do Nilo, se pudesse. Se tivesse que dizer cidade, a de que mais gosto é Roma. Destino de férias? Maldivas. Adoro praia. Contacto com o mar. País que lhe falta conhecer e que quer mesmo ir? Irão. Um livro? Os dois livros que ainda não peguei, porque tenho de ter a cabeça mais descansada, mas que vou pegar: os livros do Yuval Noah Harari. Uma música? Rachmaninov, sinfonia nº3.QUEREMOS TRABALHAR! Desta vez recaiu em mim a oportunidade e o desafio de escrever este artigo do Espaço APECATE. Mas era da mais elementar justiça que ele fosse escrito a várias mãos. As mãos de todos os empresários do setor dos eventos que continuam, ao fim de todos estes meses marcados por esta pandemia, a vislumbrar um futuro incerto e sem terem a noção de quando poderão retomar o seu trabalho, e em que circunstâncias. WWW.EVENTPOINT.PT 28 ESPAÇO APECATE Apesar de este ser um espaço disponibilizado à APECATE, e mesmo que nos consideremos representantes de um setor, e de todos os dias termos feedback dos nossos associados e de não‑associados, a verdade é que cada empresário vive esta crise de uma forma única, à sua maneira, e com problemas muito próprios. E por muitas experiências que partilhemos, cada um tem a sua voz e devia ter a oportunidade de se fazer ouvir. Ainda assim procurarei fazer justiça a todos eles. Desde o último texto que escrevi muito aconteceu, mas a nossa vontade era de que muito mais tivesse acontecido. Continuamos, à data de hoje, sem ter recomendações, emanadas pela DGS (Direção Geral da Saúde), com as regras específicas, objetivas e claras para a retoma da atividade dos eventos, incluindo as tipologias de eventos que se podem levar a cabo. E embora tenha sido anunciado o selo Clean & Safe, aplicado à área dos eventos, nomeadamente às empresas de eventos e congressos, até à altura em que escrevo estas linhas, e por razões que nos ultrapassam, ainda não está disponível. Acredito que em breve a situação estará resolvida, mas estes atrasos são também eles penalizadores para um setor tão importante para a economia do país. Nas últimas semanas, realizamos duas edições do APECATE Day, uma em Lisboa e outra em Braga. O objetivo, entre outros, passou por mostrar que é possível fazer eventos presenciais com toda a segurança, ainda que adaptados ao momento ímpar que vivemos, dando algumas pistas de como, no curto prazo, a tecnologia pode aproximar‑nos. Em Braga, organizamos uma conferência em estilo híbrido, que contou com uma plateia presente fisicamente, mas também online. Esta linha de eventos está a fazer o seu caminho, mas todos temos o objetivo de voltar rapidamente a ter uma vertente presencial com mais fôlego. É este espírito guerreiro, de não baixar os braços, que nos permitirá continuar nesta adaptação aos novos tempos. Nestes APECATE Days quisemos realçar também que as empresas estão mais do que preparadas para Next >