< Previouswebinars sobre as mais variadas temáticas de Saúde, mas, na sua esmagadora maioria, contendo a temática da pandemia Covid‑19. Entramos agora numa fase de verdadeira “exaustão” provocada por tantos webinars com este tema, o que tem levado a um decréscimo no número de participantes, seja por haver vários webinars em simultâneo nos mesmos dias e horas para a mesma população‑alvo, seja porque os profissionais sentem necessidade de limitar o número de sessões a que assistem. Que vantagens e desvantagens vê na realização desse tipo de eventos? Os formatos mais digitais têm obviamente algumas vantagens: permitirem a participação evitando deslocações (nacionais ou internacionais); terem menor custo (frequentemente têm inscrições gratuitas); evitam concentrações de grandes números de participantes em espaços limitados; usufruírem da comodidade de poderem ser selecionadas as sessões que mais nos interessam; permitirem interação com os moderadores e palestrantes através das ferramentas de chat frequentemente disponibilizadas (são colocadas mais perguntas nestes formatos dos que nos presenciais); têm menores custos de implementação para os patrocinadores dos eventos, poupando despesas em deslocações de convidados/palestrantes, em instalações para acolher os eventos, em staff de suporte local, em refeições ou em alojamentos, por exemplo. Já em relação às desvantagens, podemos também apontar algumas: menor envolvimento dos participantes com o evento (por exemplo, é mais difícil justificar ausências dos serviços hospitalares ou cancelar atividade em consultórios/clínicas para poder assistir a eventos online); menor ‘income’ financeiro para os patrocinadores dos eventos que, em muitos casos como o das Sociedades Científicas, dependem em grande parte dos lucros dos eventos para a sua subsistência; a participação num evento digital como “assistente” poderá ser vista como não tendo o mesmo peso curricular que assistir a um evento presencial, o que pode ser importante especialmente para os médicos mais jovens ainda em formação. Num evento virtual considera que o conteúdo tem de “compensar” o formato? Penso que o conteúdo terá sempre de ter a qualidade suficiente para justificar o investimento (de tempo ou económico) da participação em qualquer evento, WWW.EVENTPOINT.PT 60 PAINEL seja ele presencial ou virtual. Não me parece que o facto de um evento se desenrolar numa plataforma virtual deva ser encarado como de menor qualidade. Vai depender sempre da qualidade dos palestrantes e do conteúdo das suas apresentações. Penso até que, o facto de o evento ser virtual, poderá permitir que sejam convidadas para palestrantes personalidades de grande mérito que, face às suas agendas muito preenchidas, poderiam recusar convites que implicassem grandes deslocações geográficas e que, num ambiente virtual, poderão estar mais disponíveis para participar e dar o seu contributo para a qualidade do programa científico dos eventos. Considera que o CPC, cuja edição deste ano foi adiada para o final do ano, poderia ser realizado online? Não faço parte da Comissão Organizadora do CPC2020, pelo que não posso responder em nome dessa comissão e desconheço qual será a decisão final sobre a manutenção do evento presencial em novembro, a sua conversão para um modelo online ou o cancelamento definitivo do evento este ano. Seguramente que os colegas que integram a comissão deste ano estarão a ponderar todas as hipóteses que melhor sirvam os interesses da Sociedade Portuguesa de Cardiologia [SPC], dos seus sócios e dos habituais congressistas. Um congresso com a dimensão do CPC – no ano de 2019 tivemos mais de 2.800 congressistas presentes, mais de 1.500 em modo remoto e mais de 100 sessões científicas em três dias de congresso – não pode ser transposto diretamente para um formato online. Isso implicaria seguramente muito significativas alterações no modelo do congresso. Dito isto, é hoje uma realidade que outras grandes sociedades internacionais na área da Cardiologia converteram os seus grandes eventos anuais em modelos online, pelo que não seria impossível que a SPC pudesse fazer o mesmo com o CPC2020. Existe ainda um outro fator a considerar nesta equação que é o fator tempo. A transformação do CPC2020 para um outro formato tem o desafio do tempo necessário para a sua preparação em tempo útil, para que seja efetuada esta opção para as datas previstas para novembro. Teremos de aguardar a ponderação, que estará seguramente a ser feita pela Comissão Organizadora do CPC2020, dos prós e contras das várias opções, sabendo de antemão que nenhuma delas será uma opção fácil de tomar.Que requisitos precisa de ver assegurados para voltar a participar, como delegado ou orador, nos eventos presenciais? Não sendo infeciologista de formação, penso que teremos de confiar nos especialistas que aconselham a Direção Geral da Saúde para a elaboração das suas recomendações em tempos de pandemia e para a fase pós‑pandémica. Enquanto tivermos restrições à realização de eventos com mais de 5, 10, 20 pessoas, dificilmente poderemos regressar à realização de eventos presenciais nos moldes tradicionais. Sendo profissionais de Saúde, compreendemos talvez ainda melhor o dever de distanciamento físico numa situação de crise pandémica. Por outro lado, a sobrecarga de trabalho imposta aos profissionais de Saúde torna ainda mais difícil que possam ser dispensados dos seus locais habituais de trabalho, para participarem em eventos de formação que não sejam absolutamente essenciais. Dito isto, só antevejo que se possa regressar a uma “normalidade” em termos de eventos médicos depois de passada a crise pandémica e de estarem reunidas condições de segurança adequadas. Como vê o futuro dos eventos médicos? O formato híbrido é uma solução para o futuro? A crise pandémica trouxe‑nos novas maneiras de encarar o mundo em geral e a saúde, o trabalho, a escola e outros setores da nossa sociedade em particular. É hoje unânime a constatação de que a crise trouxe uma brutal aceleração da adoção do digital nas nossas vidas. E no futuro próximo, com a introdução das redes 5G, essa aceleração do digital poderá ter um igualmente significativo impulso. Assim, os eventos médicos serão igualmente afetados por estes avanços tecnológicos. Serão seguramente menos frequentes as onerosas deslocações nacionais e internacionais para frequentar os eventos, podendo fazê‑lo de modo remoto em modalidades síncronas ou assíncronas. Haverá seguramente lugar para uma componente presencial dos eventos, mas a componente digital passará a ter maior peso relativo. De modo que sim, acredito que formatos híbridos poderão vir a tornar‑se naquilo que hoje é vulgar chamar‑se de “o novo normal”. Maria João Leite WWW.EVENTPOINT.PT 62 PAINEL SABER REINVENTAR O PROTOCOLO WWW.EVENTPOINT.PT 64 ESPAÇO APOREP QUE FUTURO PARA OS PROFISSIONAIS DE PROTOCOLO? Neste período tão cheio de incertezas e com dados contraditórios vindos das mais altas autoridades, todos os setores económicos se interrogam e poucos são os que podem estabelecer um plano a curto prazo, quanto mais a longo prazo. O setor dos eventos, a que o protocolo está intrinsecamente ligado, foi duramente atingido e muitas têm sido as mesas redondas e webinars com a participação dos maiores especialistas, nacionais e internacionais, a debruçar‑se sobre esta questão. As conclusões a que chegaram e que nos permitem antever o que vão ser os eventos este ano são basicamente as seguintes: Sempre que possível, os eventos devem realizar‑se em espaços abertos para permitir a circulação do ar. Ou seja, no inverno vai ser ainda mais complicado. Os espaços devem ser maiores e os convidados devem ser em número menor. Os cuidados de higienização devem ser muito rigorosos. Deve haver o menor número de operações que envolvam contacto físico desde a acreditação até à entrega de ofertas. Todos devem usar máscaras a não ser quando estão no uso da palavra ou em refeições. Em relação ao protocolo, mantém‑se a regra de que os anfitriões devem estar à entrada do recinto onde aguardam a chegada das altas entidades oficiais. Os cumprimentos mudaram e o aperto de mão foi substituído por um toque de cotovelos ou pelo “namaste” usado no Oriente.Havendo necessidade de um maior espaçamento entre convidados, o protocolo continuará a ter de fazer, com alguma antecedência, e muito cuidadosamente, o assentamento, encaixando todos os convidados nos poucos lugares disponíveis. Também terá de assinalar com os nomes de quem vai ocupar esses lugares e marcar os outros a que é proibido o acesso. Deverá igualmente desenhar a mesa de presidência e estabelecer a ordem das intervenções. E o protocolo no decorrer do evento? Idealmente deverá ser invisível, mas existem inúmeras situações que têm de ser pensadas. Será possível manter um metro e meio de distância quando se acompanha uma alta entidade até à primeira fila? Como deve ser feito o apoio ao palco e à mesa de presidência? Quem faz a higienização do púlpito e do microfone? Deixa‑se o gel sanitário em cima da mesa ou basta estar à entrada do palco e do recinto? Quem substitui as águas e os copos? O protocolo vai ter de ser reinventado. Teremos de abolir a pompa, mas manter a carga simbólica. A cerimónia do Dia de Portugal este ano foi perfeita por ser minimalista ao mesmo tempo que transmitia a mensagem simbólica desta celebração. No dia 10 de Junho assinala‑se o dia da morte de Luís Vaz de Camões e celebram‑se as comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo. A cerimónia, este ano, durou exatamente meia hora, desde a chegada das mais altas entidades da República portuguesa até ao final do discurso de Sua Excelência o Presidente da República. As cerimónias militares decorreram em frente do Mosteiro dos Jerónimos. A homenagem a Camões foi feita pelo Presidente da República junto do túmulo do poeta na Igreja dos Jerónimos. Os dois discursos sobre o significado de ser português ao longo da nossa história foram feitos no majestoso Claustro que tem sido ao longo dos tempos um cenário emblemático para diversas comemorações. Desta vez, só foi necessário instalar um púlpito, uma bandeira e oito cadeiras para acolher, com grande dignidade, as mais altas entidades portuguesas. Menos é mais. WWW.EVENTPOINT.PT 66 ESPAÇO APOREP O Protocolo de Estado atuou de forma discreta, contribuindo para a dignidade e prestígio desta cerimónia. Nos últimos meses, outras cerimónias oficiais foram também organizadas em autarquias ou regiões autónomas com dignidade e segurança. Os funcionários de organismos públicos souberam adaptar‑se à nova normalidade e o futuro desta profissão não parece estar em risco. Outra realidade é a dos profissionais por conta própria que colaboram no protocolo dos eventos empresariais. Neste caso, como não se realizaram eventos durante o confinamento, o futuro é ainda incerto. Estou convencida de que mesmo para eventos de menor dimensão, vai continuar a ser necessário contratar um especialista de protocolo, que poderá, à distância ou presencialmente, colaborar com os organizadores do evento. Para que estes saibam, por exemplo, qual a fórmula de tratamento correta para se dirigirem às autoridades presentes. Mas também para elaborar o guião, para definir a ordem das intervenções, para fazer o assentamento, para todas as situações protocolares, desde a chegada até à saída do último convidado. São tempos desafiantes, mas estou convicta de que melhores tempos virão e que todos vamos saber reinventar o protocolo de modo a adaptá‑lo a esta nova normalidade, que parece ter vindo para ficar. Isabel Amaral Presidente da Associação Portuguesa de Estudos de ProtocoloCAPACIDADE DE SONHAR WWW.EVENTPOINT.PT 68 OPINIÃO UM EVENTO CHAMADO COVID‑19: O ENCERRAMENTO Tem nome de festival, mas nunca foi anunciado. Tem escala global, mas não sabemos quem é o organizador, nem tão pouco o que esperar deste cartaz. Chama‑se Covid‑19 e veio para ficar. Mas se há coisa que ainda não perdemos no meio desta pandemia foi a capacidade de sonhar. Aliás, nos vários anos em que trabalhei mais de perto na área dos eventos sempre foi a parte dos processos que mais me entusiasmou ‑ criar do zero e sonhar com o que poderia vir a ser. E se haveria coisa em que eu gostasse de poder participar seria na conceção da Cerimónia de Encerramento da Covid‑19. Seria uma mistura de Live Aid com Abertura dos Jogos Olímpicos em termos de impacto. Uma celebração cénica à la Burning Man para queimarmos máscaras. Uma festa que agregaria a magia do Carnaval do Rio, com a cenografia da Celebração do Ano Novo Chinês mixado com a qualidade artística do intervalo do Superbowl. Uma forma de conectar toda a população mundial nesta vitória que marcaria o fim do flagelo do contágio. Next >