< Previous“Acreditamos que o digital vai ficar”, disse Cristina Martins, explicando que iremos ainda assistir a um processo evolutivo de todos os intervenientes da feira. “Mas o lado físico vai ter de acontecer”, garantiu, referindo que “se o físico for um conteúdo acessível por via digital não será tão interessante”. José Carlos Coutinho concordou que as feiras presenciais terão um papel importante, mas vão ter de se ajustar às novas tendências. Filipe Gomes, por sua vez, disse que “a digitalização das feiras não é algo que seja novo” e que “há dez anos havia muito a necessidade de desenvolver serviços nesse sentido, mas funcionava como complemento. O que mudou agora é que as feiras não se podem realizar”. O responsável disse que o mercado tem muitas soluções nacionais e internacionais para o setor, aconselhando a que se opte por “escolher uma boa plataforma”, tendo em conta quais os objetivos de expositores e visitantes. Para Filipe Gomes é possível que os ‘venues’ tenham que investir mais em tecnologia e menos no espaço, prevendo “desinvestimento no ‘catering’ e brindes” e um aumento de soluções com realidade virtual e ‘gamification’. Interessa ainda “saber o retorno do promotor e de quem investe”, disse. José Carlos Coutinho, enquanto representante de um venue, afirmou que as dificuldades centram‑se em dois WWW.EVENTPOINT.PT 90 DOSSIÊ TEMÁTICO aspetos: a gestão de calendário e no cuidado na vertente das infraestruturas para responder aos eventos híbridos. Cristina Martins deu ainda conta do trabalho que está a ser realizado pela sua empresa, numa plataforma que permite uma gestão global e digital de produtos, para, “por exemplo quem quiser usar noutra altura e não quando o evento estiver a decorrer”. “O prolongamento das feiras será uma realidade”, garantiu a diretora geral da Kislog. A responsável acredita “que esta oferta do físico com o digital prolongado no tempo” irá marcar o futuro do setor, com o acesso a conteúdos digitais vídeo e áudio e a possibilidade de fazer os contactos em qualquer momento. “O digital dá‑nos indicadores muito reais do que aconteceu. Se as pessoas foram àquele conteúdo, o que viram, o que fizeram, isso pode ser muito importante para as empresas”, indicou. “No digital, o grande esforço é conseguir colocar o evento de pé. Depois o custo é muito residual”, ao contrário do que acontece com os eventos físicos, referiu Cristina Martins. Por sua vez, Filipe Gomes anteviu que “em dois ou três anos” deverá existir “um regresso inevitável ao modelo do que conhecemos”. Ainda assim, acredita, “haverá sempre um maior acompanhamento da componente digital”. Para o responsável, “vamos caminhar para soluções hibridas”.“OS PEQUENOS E GRANDES MILAGRES QUE ESTES PROFISSIONAIS FIZERAM AO LONGO DESTE ANO SÃO INCRÍVEIS” No rescaldo de um dia intenso, Gonçalo Castel‑Branco esteve encarregado de partilhar um primeiro balanço do REINVENT. O curador destacou, em primeiro lugar, “a fenomenal resiliência e adaptabilidade deste setor” e que também por isso “deve ser levado mais a sério”. “Acho que nós somos um case‑study em muita coisa, e que muitas vezes as pessoas não se apercebem. Há um bocado, num dos painéis, falávamos da questão das mulheres. Somos dos setores mais inclusivos que existem no nosso país, somos dos setores mais seguros para mulheres trabalharem. Em Portugal é seguro para uma mulher ir a um evento”, sublinhou Castel‑Branco. WWW.EVENTPOINT.PT 92 DOSSIÊ TEMÁTICO A relevância do setor e o impacto que este tem é impressionante, mas o curador prefere lembrar que “os pequenos e grandes milagres que estes profissionais fizeram ao longo deste ano são incríveis”. “Não há grupo de pessoas que mais batalhou, com a excepção, naturalmente, dos nossos médicos e etc..., nunca baixando os braços, inovando, arrojando.”. O tom do evento foi algo que agradou especialmente. O que é que o setor pode fazer para estar bem preparado para a recuperação que aí vem, mas também estar preparado para nunca mais ser confrontado com uma situação como esta. “Há aqui um entendimento de que juntos somos mais fortes, que, mais do que as palavras que são vagas e que se dizem nestas alturas, estas pessoas entendem que juntos somos mais fortes e que a única maneira de sobreviver a isto é E à resiliência junta‑se a coragem. “Não há ninguém nesta indústria inteira que tenha passado por isto incólume. Ninguém! E chegarmos aqui e ainda termos a capacidade de olhar uns para os outros com coragem para o que aí vem. Ainda não é 21, é 22. Não é 22, é 23, mas é para a frente, é a trabalhar, é a tentar, a testar, a conquistarmos a confiança uns dos outros”, terminou. #somostodoseventos Cláudia Coutinho de Sousa Maria João Leite Olga Teixeira apoiando‑nos uns aos outros”, dsse. E isso consubstancia‑se no seguinte: “Clientes não deixando cair agências, agências não deixando cair fornecedores, fornecedores não deixando cair talento.” E mais do que exigir apoios, “há um tom aqui de isto é sobre nós, se alguém vai sair disto somos nós, e se vamos fazê‑lo é com o nosso trabalho e é juntos. E isso é muito bonito”. WWW.EVENTPOINT.PT 94 DOSSIÊ TEMÁTICO O DIGITAL NÃO PODE SUBSTITUIR O PRESENCIAL WWW.EVENTPOINT.PT 96 OPINIÃO PREMIR O BOTÃO CERTO Como tantos de vocês, tive a minha quota de experiências digitais nos últimos 12 meses – quer como participante, quer como organizador. E, sistematicamente, a experiência foi melhorando. A evolução tecnológica cumpriu o seu papel, mas mais importante foi o facto de já reconhecermos este novo mundo por aquilo que é, e não por aquilo que desejávamos que fosse. O digital não pode substituir o presencial, pelo que deve ser usado para o que funciona. O mundo da organização de eventos está perante uma série de disrupções, com a pandemia sendo a principal, mas não a única. Tecnologia, geopolítica, mudança de comportamento dos membros, novos modelos de negócio, alterações climáticas… todas estas questões impactam na forma como os eventos vão evoluir. Como resultado disso, temos de ser muito muito ágeis enquanto indústria e usar as diferentes plataformas – digital e física – de uma forma em que elas se enriqueçam e forneçam resultados mais ricos para o organizador e para o participante. O digital definitivamente vai manter‑se, mesmo quando os eventos físicos se possam realizar de novo e é importante preparar esta realidade. Na minha opinião, o ponto de partida para usar a tecnologia com sucesso é olhar cuidadosamente para os objetivos que o organizador dos eventos quer atingir. Se olharmos para as associações, por exemplo, isto está muitas vezes ligado à missão e ao propósito. E apesar das disrupções sentidas, o propósito das associações é a única coisa que não muda. As associações médicas querem continuar a melhorar a vida dos pacientes, as associações ligadas à tecnologia ainda querem tornar o mundo mais “smart” e as associações empresariais querem estimular o comércio. O que muda é como chegar lá – e os botões que têm de ser premidos. Primeiro do que tudo, o digital permite a conectividade num mundo em que as viagens ainda vão por algum tempo ser um grande desafio. E ainda que o Zoom não se aproxime de todo da experiência presencial, permite falar com os pares, partilhar conhecimento, ao mesmo tempo que dá o conforto de sabermos que não estamos sozinhos a enfrentar os desafios que se nos colocam. Os organizadores podem marcar a diferença tornando estes encontros com significado, do ponto de vista do conteúdo e do ponto de vista do participante. É este o momento de olhar para as diferentes audiências e distinguir as diferentes necessidades de cada uma delas. Uma parte da audiência ainda não tinha sido servida, até agora, – por exemplo, por razões económicas – nunca tinham podido deslocar‑se a certos eventos. O que me leva à segunda oportunidade: aumentar o alcance, permitindo ao organizador ser mais inclusivo. Não só isto vai permitir que o conteúdo seja mais disseminado, mas vai permitir contar com vozes que antes não eram ouvidas, e isso enriquece a conversa. Traduzir este input em realidade, amplificando via canais digitais, permite que as comunidades cresçam, em número e no impacto. E, em terceiro lugar, o digital permite (e algumas vezes força‑nos a) experimentar. É este o momento para sermos audazes e experimentar coisas que nunca imaginamos antes – e ao sermos mais abertos e transparentes a esta natureza experimental, é provável que os participantes entrem a bordo desta jornada consigo. Será como uma aula de cozinha. E tal como sabemos, este tipo de jornada é a que cria amizade mais duradouras. No entanto, há algo que deve ser evitado. O digital é completamente diferente do presencial. Itens que provaram ser bem sucedidos no mundo físico, podem ser completamente irrelevantes no mundo digital. O teatro não é a mesma coisa do que um programa de televisão – requer uma abordagem diferente, uma gestão diferente, skills diferentes, bem como um mindset diferente. Portanto, encare a realidade digital pelo que é, e não pelo que deseja que fosse. E divirta‑se a testar. Sven Bossu CEO AIPC WWW.EVENTPOINT.PT 98 OPINIÃO Next >