< Previous“CADA EVENTO É UM DESAFIO, MESMO QUANDO HÁ MUITA EXPERIÊNCIA” WWW.EVENTPOINT.PT 100 VIDA DE EVENTOS ISA AMARAL “GOSTO DE GERIR EQUIPAS E DE LIDERAR PROJETOS” Antes de chegar ao mundo dos eventos, Isa Amaral abraçou o mundo das notícias, tendo dirigido durante vários anos a revista Negócios & Franchising, que organizou os Prémios de Franchising. “Um excelente ensaio para a minha mudança de vida”, conta a diretora da Blue Vision, que, depois de 18 anos de jornalismo, mudou de rumo. Fez formação na área da organização de eventos e abraçou o primeiro serviço, com a entrada da Opticalia em Portugal. Embora já estivesse na gaveta há uns anos, a Blue Vision só seria formalizada em 2017. O trabalho decorria normalmente, até que, em março de 2020, houve uma “travagem a fundo”, devido à pandemia. “Todos os serviços foram cancelados e confesso que planeei a minha vida e a da empresa para estar seis meses parada. Nunca me passou pela cabeça o cenário que vivemos, nem que estaria sem poder exercer a atividade da Blue Vision durante tanto tempo”, explica. E depois de pôr em ordem tudo o que era fundamental na empresa, no primeiro período de confinamento, Isa Amaral recusou‑se a baixar os braços e avançou com uma nova área de negócio. “Com a Blue Vision completamente parada e focada nos serviços corporate, fui entendendo que a retoma seria sempre lenta. Tomei uma decisão um pouco fora da caixa e decidi ‘nadar um bocadinho para fora de pé’. Escolhi não manter o foco nos eventos e optar por diversificar a atividade. Procurei uma ideia que me permitisse mais tarde conciliar com a atividade da Blue Vision.” E assim nasceu a Water Lily Beachwear, “uma marca de moda de praia para mulheres maduras”. São as pessoas que a motivam. “Eu gosto de pessoas. Gosto de gerir equipas e de liderar projetos”, refere Isa Amaral, sublinhando que a Blue Vision nasceu para organizar eventos corporativos e para oferecer serviços de staff para eventos e ações de ativação de marca. “Este serviço, acabou por ser o core da empresa e em parte deve‑se ao facto de gostar tanto de trabalhar esta vertente do negócio.” E acrescenta: “Quando voltar a poder trabalhar com segurança e de forma normal, pretendo desenvolver ainda mais esta área e apresentar outros serviços de staff para os eventos.” Trabalhar por projetos é das coisas de que mais gosta nesta área. “E a organização de eventos oferece essa possibilidade e exige que se selecione vários elementos (pessoas e fornecedores de serviços diversos) para serem uma equipa coesa durante um curto espaço de tempo. Cada evento é um desafio, mesmo quando há muita experiência”, argumenta, afirmando gostar de estar no terreno com as pessoas com quem trabalha. Além disso, frisa, “dou sempre a cara junto do cliente, quer quando corre bem, quer quando corre menos bem”. Por outro lado, “tudo o que me exige trabalho administrativo, análise de orçamentos e de números” pendem para o lado negativo da sua balança. “Gosto de perceber os números do negócio para saber se estou no bom caminho, mas é só isso. Esta parte é para delegar. Gosto de encontrar clientes e de pôr o serviço a funcionar.” “FUI DE CORAÇÃO CHEIO PARA CASA” Há dois clientes “importantíssimos” na história da empresa. “A Opticalia deu‑me a oportunidade de testar a ideia e a Blue Vision nasce do desafio de fazer o check‑in dos convidados do lançamento da marca em Portugal. Não tinha uma única farda, só a ideia do projeto que um dia haveria de lançar quando deixasse de ser jornalista. Mas na data e na hora combinada com o cliente, apareceram as primeiras hospedeiras contratadas pela Blue Vision, devidamente fardadas e com um apontamento azul como o cliente solicitou”, recorda. Depois, em 2018, a Blue Vision foi contratada pela Grandvision, que “tem sido um cartão de visita para entrar em outras empresas” e que “trouxe a capacidade de desenvolver ações em vários pontos do país em simultâneo”. Isa Amaral diz ser “atrevida o suficiente” WWW.EVENTPOINT.PT 102 VIDA DE EVENTOS para não recusar um desafio ou um serviço que nunca prestou. “Acredito que se estamos à espera de reunir as condições perfeitas para fazermos algo, a probabilidade de não fazer nada é enorme e só evoluímos quando aprendemos algo novo. Se tivesse negado a oportunidade que me deu a Opticalia para testar a minha capacidade de prestar o serviço, ou se me tivesse intimidado com os desafios que um grupo como a Grandvision me propôs, não teria iniciado a empresa e nem teria crescido. E sou imensamente grata a ambas.” E há muitas histórias para contar neste percurso. Isa Amaral relembra que, em 2018, a Blue Vision foi selecionada pela In Totum para prestar apoio, com uma equipa de hospedeiras, na Gala de Cabo Verde, no Convento do Beato. “Foi uma noite fantástica” para as duas empresas. “E não houve melhor elogio pelo trabalho da equipa de hospedeiras da Blue Vision do que o momento em que o Rui Marques [diretor da empresa organizadora do evento] me disse que, apesar de não termos começado bem, iríamos acabar muito melhor aquele dia de trabalho”, contou, sublinhando: “Foi daqueles dias em que me doía cada ossinho do pé, mas fui de coração cheio para casa. É aquela sensação maravilhosa quando sentimos que demos o nosso melhor e o resultado foi tudo o que queríamos.”Mas, às vezes, as coisas não correm exatamente como planeado. Isa Amaral exemplifica com o primeiro evento de grande dimensão da Blue Vision. “Cometi o erro de ir sozinha para coordenar um evento que decorria em dois locais diferentes do espaço do cliente”, além das dificuldades de comunicação, por falta de rede. “Isto tornou a coordenação extremamente difícil. Ou melhor, impossível.” Do episódio retirou uma importante aprendizagem: “Aprendi que todo o briefing e as reuniões com o cliente têm de ficar devidamente anotadas e esclarecidas para evitar falhas ou mal‑entendidos. E todas as alterações de última hora, por muito simples que pareçam, podem atrasar o evento e gerar problemas desnecessários.” Isa Amaral destaca ainda, como momento hilariante, o lançamento de uma loja de artigos eróticos online, a Oh La La Sex. O cliente queria duas promotoras e um promotor, e que fossem vestidos com a roupa da marca. Foram escolhidos espartilhos e saias para os elementos femininos, mas faltava a roupa masculina. “E aqui, não resisti a pregar uma partida ao promotor”, dizendo “que tinha escolhido para ele um look sadomasoquista, com coleira ao pescoço, tronco nu e calças de napa pretas justas”. Depois de o deixar “sofrer um bocadinho”, Isa Amaral revelou que ele iria com roupa normal e com uma máscara. “Esse serviço teve imensos desafios pelo lançamento que exigiu a todos manter a elegância e a sensualidade sem cair na vulgaridade. E ainda me ri de mais situações, porque foi, sem dúvida, o serviço em que me diverti mais.” Maria João Leite WWW.EVENTPOINT.PT 104 VIDA DE EVENTOS “TRABALHAR COM PESSOAS E PARA PESSOAS” WWW.EVENTPOINT.PT 106 VIDA DE EVENTOS LUÍS BRITO “TENHO UMA DAS PROFISSÕES MAIS FASCINANTES QUE EXISTEM” Luís Brito, o diretor executivo da Ycon, nasceu em São Tomé e Príncipe. Filho de pais alentejanos, cresceu em Lisboa, estudou Gestão Hoteleira e licenciou‑se em Organização e Gestão de Empresas. Foi “por mero acaso” que chegou à área dos eventos. Estudava à noite e trabalhava durante o dia, em venda de espaço publicitário em revistas da especialidade e, mais tarde, numa empresa de recolha de informações comerciais. “Desde os 18 anos que, a par do percurso académico, quis ter uma experiência real do mundo do trabalho e foi assim que comecei.” Passou pela Knorr Portuguesa, onde foi Product Manager e, mais tarde, Brand Manager – função com a qual teve de organizar uma reunião para a área comercial. A partir dessa atividade, em Monsaraz, ficou “apaixonado” pelas atividades de aventura. Dois anos depois, criou a Marketing Portugal, dedicada à gestão de informação e relação com o cliente, e na qual, no âmbito de um projeto, organizou alguns eventos. “Comecei a ficar com o ‘bichinho’”, conta. A Marketing Portugal foi, entretanto, integrada no grupo Euro RSCG Marketing Services e Luís Brito saiu da empresa dois anos mais tarde, para integrar a equipa na área dos eventos corporativos da Tuper – Turismo Alternativo. “Foi assim que entrei a pés juntos nesta área, com foco nos eventos de vertente formativa e com uma componente de teambuilding, construídos em torno de um conceito ou temática.” Cinco anos se passaram até integrar a Desafio Global Ativism. “Nos 11 anos seguintes concebi e implementei eventos corporativos com um scope mais alargado e de maior complexidade: lançamentos de produto, reuniões de ciclo, viagens de incentivo, ativações de marca, entre outros. O fio condutor sempre foi o de construir uma narrativa que gere engagement com os participantes e veicule os objetivos e comunicação da marca”, explica Luís Brito, que há dois anos decidiu abraçar um novo projeto, na mesma área de negócio: a Ycon. “Trabalhar com pessoas e para pessoas” é a grande fonte de motivação. “Criar expectativas, gerir momentos, gerar emoções. Construir uma narrativa em que os participantes do evento são os próprios protagonistas, fazendo‑os submergir na história, sem se aperceberem, para que a vivam a 100%.” Como se fossem protagonistas de um filme, “participando na construção da narrativa e, desta forma, tornando sua a mensagem da marca”. “A arte da gestão on‑site desta ‘dança’ é o mais divertido e desafiante, é também algo impensável de realizar sem o apoio de uma grande equipa. E percebemos como as coisas mais simples podem fazer a diferença e marcar uma experiência. Sinto‑me realizado ao sentir e observar as reações e a felicidade das pessoas, que é o que torna estes momentos inesquecíveis”, acrescenta. “TUDO É REALMENTE POSSÍVEL!” Do que Luís Brito mais gosta nesta atividade é a criatividade. “Tudo é realmente possível! A constante procura de novas soluções e ideias.” O diretor executivo da Ycon gosta também da oportunidade de lidar com pessoas das mais diversas áreas e culturas, da “possibilidade de conhecer, viajar WWW.EVENTPOINT.PT 108 VIDA DE EVENTOS e experienciar” e de proporcionar “uma multiplicidade quase infinita de experiências”. “Sinto que sou um privilegiado e que tenho uma das profissões mais fascinantes que existem”, frisa, ressalvando que “tudo isto também se deve aos clientes que aceitam entrar nestas ‘viagens’, inovando e arriscando”. Por outro lado, o “potencial desperdiçado” é do que menos gosta neste setor. E explica: “Muitas vezes os eventos são one shots, em vez de estarem integrados em planos de comunicação, interna e externa, mais abrangentes e continuados no tempo. Felizmente, tenho construído relações com clientes com os quais embarco em ‘viagens’ com continuidade e conseguimos criar linhas de comunicação prolongadas no tempo, com narrativas que envolvem os participantes ao longo dos anos e que evoluem com eles.”Next >