< PreviousDo currículo de Luís Brito fazem parte inúmeros eventos. O mais marcante prende‑se com a organização do European Central Bank Forum, na Penha Longa. “Estamos a falar de um evento muito estruturado, muito protocolar, que envolvia todas as forças nacionais de segurança, os media nacionais e internacionais, e no qual a margem para levar o cliente a arriscar é, à partida, mínima. No essencial, um evento muito exclusivo, mas onde a diversidade e a multiculturalidade são fatores chave.” Com todas estas condicionantes, “temos de ser mais ágeis e flexíveis para dotar o evento de criatividade e inovação; objetivos esses que foram alcançados”. Foi, por isso, “um projeto desafiante e marcante” e, “com muito profissionalismo, uma equipa dedicada, mas também com muito sentido de humor”, o evento decorreu com sucesso. Mas há mais. Luís Brito recorda‑se de um lançamento de produto, que foi construído em torno de uma narrativa de transformação, e cujos participantes eram clientes B2B. Os convidados foram abordados, “com perguntas aparentemente aleatórias e inocentes”, na fase de pré‑evento, para a recolha de informação, com vista à customização da iniciativa. Depois, no próprio evento, os convidados envolveram‑se em vários níveis de transformação. WWW.EVENTPOINT.PT 110 VIDA DE EVENTOS “O evento foi um sucesso, houve um grande envolvimento e satisfação por parte dos convidados, as expectativas do cliente foram superadas e o impacto a nível comercial foi tremendo. Os convidados fizeram compras que superaram largamente qualquer expectativa. Este lançamento de produto tornou‑se, naquela empresa, um case study a nível internacional”, lembra. Um momento que impressionou Luís Brito ocorreu em 2017, no final de um evento de vários dias com um grupo de 150 pessoas, na Barragem da Aguieira. “No último dia, via‑se uma névoa de fumo ao longe, pela manhã, mas nada fazia prever o que iria acontecer. O evento terminou com um almoço e o grupo saiu do hotel. O staff ficou ainda a concluir desmontagens. Uma hora depois do staff sair, o hotel estava completamente rodeado pelas chamas e sem comunicações. Correu tudo bem, ninguém esteve em perigo, mas foi uma situação que evoluiu de forma imprevisível e sem qualquer sinal de aviso”, relata. Este foi um “caso extremo”, mas qualquer evento tem imprevistos… “Faz parte da job description lidar com alterações e imprevistos e, ainda assim, garantir o sucesso dos eventos.” São, assim, muitas as histórias para recordar e ao longo do processo de conceção dos eventos há muitos momentos divertidos a assinalar. “Momentos hilariantes nos eventos são infinitos… Mas, neste aspeto, os eventos são um pouco como Las Vegas: o que acontece no evento, fica no evento!” Maria João Leite“O PRINCIPAL FOCO É TRABALHAR PARA TER A ESTRUTURA ABSOLUTAMENTE OTIMIZADA” WWW.EVENTPOINT.PT 112 VIDA DE EVENTOS NUNO FERREIRA “A PAIXÃO PELA ÁREA ACABOU SEMPRE POR VINGAR” Em 1999, Nuno Ferreira frequentava o Ensino Superior e, já nessa altura, começou a acompanhar ocasionalmente um amigo de infância que já trabalhava no setor. “No início, tratava‑se apenas de uma ajuda, mas, rapidamente, a vertente mais técnica tomou preponderância. As viagens, o companheirismo, a possibilidade de conhecer locais inacessíveis à realidade da altura, todos esses fatores levaram a um rápido encantamento pela produção técnica de eventos”, conta o Business Unit Manager da RXF. Nuno Ferreira já soma mais de 20 anos de experiência nesta área e, pelo caminho e nas diversas etapas, encontrou motivações diferentes em momentos diferentes. “Passei, obviamente, pela motivação do desafio técnico diferenciado na tipologia dos eventos. Mais tarde, a minha motivação centrou‑se na polivalência de funções, tentando que a coordenação e as minhas capacidades técnicas conseguissem estar em harmonia. Hoje em dia, o principal foco é trabalhar para ter a estrutura absolutamente otimizada, dividir o foco nos clientes e na operacionalização das equipas”, explica. Do que mais gosta nesta atividade é da “possibilidade que temos em ver materializada determinada ideia num relativo curto período de tempo e do impacto que essa mesma ideia, associada ao desempenho de uma equipa técnica, causa nos clientes e na audiência”. Mas inerente a todos neste setor de atividade estão “as necessidades de resiliência e muita dedicação horária” e essa exigência horária deu, ocasionalmente, que pensar… “No entanto, a paixão pela área acabou sempre por vingar. Considerar isso como uma característica, e não como um defeito, torna tudo mais simples.”Além disso, acrescenta Nuno Ferreira, “apesar das imensas lutas e do esforço que todos nós fazemos em dar a conhecer melhor o que faz, de facto, a nossa área de atividade, continuo a não gostar do estigma que, muitas vezes, ainda recai sobre nós: ‘os senhores dos audiovisuais que vão montar o equipamento’… A combatividade do nosso setor, nesta altura da Covid, foi o melhor reflexo disso, a pouca sensibilidade para a geral perceção de qual é o nosso real papel de atuação na sociedade”. UMA COLEÇÃO DE MEMÓRIAS Vinte anos de atividade somam inúmeros eventos no currículo e muitos foram os que marcaram a vida e a memória de Nuno Ferreira, e todos por diferentes características. O Business Unit Manager da RXF destaca “as primeiras produções em espaços emblemáticos, como Altice Arena, Coliseu ou Casa da Música, pelo que isso refletiu de realização pessoal e em dinâmica de equipa”. WWW.EVENTPOINT.PT 114 VIDA DE EVENTOS Mas há mais eventos marcantes. “Recordo também os ‘60 Anos da RTP’, pelo desafio técnico e pela exposição mediática na altura. Mais recentemente, este sentido de realização já aconteceu várias vezes… Adaptações de eventos que fazíamos há décadas, reinventá‑los e transportá‑los para vertentes digitais com excelentes reconhecimentos e parabenizações por parte dos clientes. Faz‑nos sentir que, apesar das dificuldades, as nossas ações e reações foram extremamente válidas e permitiram‑nos manter a vitalidade que sempre nos caracterizou”, frisa. Outra memória que ressalta recua até 2017 e a uma “semana de loucos”, durante a qual, “entre pedidos maiores e menores, tivemos quase 100 eventos”. Nuno Ferreira sublinha que esse “foi um desafio logístico que nos deu um gozo tremendo” e que “são estes momentos de superação que nos preparam para desafios maiores e com passos ainda mais sólidos”. Na área dos eventos, há imprevistos, há coisas que nem sempre correm bem ou conforme o planeado. “Estando assentes numa vertente técnica e, consequentemente, da performance de equipamento, certamente que todos nós já passámos por algumas situações mais tensas”, começa por referir, quando desafiado a contar um episódio. “Felizmente, foram raros os casos onde existiu um problema visível, mas lembro‑me da carga de ter que pedir ao cliente para retirar a audiência da sala, para que pudéssemos intervir de acordo e podermos prosseguir com o evento. A sina da produção técnica, onde os problemas, a acontecerem, só se manifestam após os ensaios com sucesso…”, adianta Nuno Ferreira. E a fechar, no capítulo dos momentos hilariantes, o Business Unit Manager da RXF lembra que são tantos, “que dariam para escrever uma coleção de memórias”. Nela estariam vários episódios, “desde rasgar as calças do fato antes do início do evento e ter de assumir um casaco de um colega que tem quase dois metros de altura… Tinha mangas quase até aos joelhos”. Ou então, “uma caricata troca de salas de apoio, que levou toda a nossa equipa técnica envolvida num ensaio de uma gala de prémios a jantar o cardápio pensado para os artistas”, recorda Nuno Ferreira. Maria João LeiteMANIFESTO POR UM SETOR EM CRISE O setor do Protocolo faz parte integrante do ecossistema dos eventos. Quando a pandemia começou, em 2020, havia muitos técnicos de protocolo a operar em regime de trabalho independente para as grandes empresas de eventos. Mas os sucessivos estados de emergência condenaram esses profissionais a ficar sem trabalho e sem rendimentos. Só os técnicos da administração pública puderam continuar a organizar cerimónias oficiais, de âmbito nacional, regional ou local, respeitando as normas de distanciamento social e segurança sanitária impostas pelas autoridades de Saúde. E os profissionais que trabalhavam em grandes empresas dedicaram‑se a outras tarefas. WWW.EVENTPOINT.PT 116 ESPAÇO APOREP Muita gente não se terá apercebido de que em Portugal, em 2020, só foi possível realizar eventos presenciais em condições normais nos primeiros dois meses do ano. Fomos alertados para esta situação dramática pela manifestação impressionante que os profissionais da indústria de eventos fizeram no Terreiro do Paço, a 11 de agosto do ano passado, para chamar a atenção do Governo para a situação desesperada em que se encontravam ao fim de quase seis meses sem trabalhar. É certo que, no dia seguinte a esta manifestação, a tutela governamental publicou um despacho autorizando a organização de eventos corporativos. Dois meses depois deste balão de oxigénio, na sequência da Declaração do Estado de Calamidade a 14 de outubro, a tutela voltou a proibir os eventos e a animação turística com mais de 10 ou 20 pessoas, nos concelhos de risco (a maioria). Os espetáculos com centenas de espectadores continuaram a ser permitidos, desde que respeitassem as limitações impostas pela tutela. Como justificar esta diferença de tratamento que afetou a maioria das empresas do setor dos eventos impedindo‑as de trabalhar? Todos sabemos que nos eventos corporativos os participantes respeitam as diretrizes impostas e não assumem comportamentos de risco, ao contrário do que aconteceu em alguns espetáculos que foram notícia na imprensa. Mas ninguém parece ter conseguido explicar à tutela esta diferença entre os dois setores. Pedro Rodrigues, Diretor Geral da Desafio Global interrogava‑se num artigo da Event Point: “Mas, no fim do dia, quem assume a responsabilidade pela destruição do setor dos eventos em Portugal? É uma questão bombástica e alarmista? É! Mas qual a diferença entre espetáculos e eventos corporativos que justifiquem esta diferença absurda de tratamento dos dois setores? Não havendo uma diferença logística, na atividade de ambos os setores, existe uma falta de confiança nos organizadores de eventos?”Resumindo, o setor dos eventos só funcionou normalmente em janeiro e fevereiro e, de forma reduzida, de 12 de agosto e 14 de outubro. Em Espanha, os eventos nunca foram proibidos, desde que cumprissem as regras rigorosas de segurança sanitária. Os técnicos espanhóis de protocolo continuaram a desenvolver a sua atividade e a auferir os seus vencimentos. Em Portugal, só as grandes empresas de organização de eventos conseguiram adaptar‑se e produzir eventos virtuais de grande qualidade, os únicos permitidos pelas autoridades. Mas nesses eventos virtuais o protocolo não tem lugar e, por isso, os profissionais independentes de protocolo portugueses só puderam trabalhar durante quatro dos doze meses de 2020. Alguns foram forçados a fechar a atividade nesta área, para minimizar a perda de receitas, outros passaram a trabalhar noutros setores, desperdiçando os conhecimentos que tinham adquirido, e as pequenas empresas fecharam. Muitos sentem‑se defraudados por terem investido em estudos superiores que os conduziram ao desemprego. Tendo em conta que a tutela, até ao momento, ainda não definiu orientações específicas para a organização de eventos de natureza corporativa, a inquietação persiste. Enquanto as autoridades governamentais responsáveis por este setor não acreditarem que os eventos se podem realizar com as devidas limitações, a discriminação de que os eventos corporativos estão a ser vítimas não vai acabar. Será necessário unirmo‑nos para fazer chegar à tutela as nossas dificuldades em continuar a contribuir para uma indústria nacional que rende ao Estado milhares de euros em impostos. Isabel Amaral Presidente da Associação Portuguesa de Estudos de Protocolo WWW.EVENTPOINT.PT 118 ESPAÇO APOREP Next >