< Previousda uniformização dos CAE. Ana Fernandes lembrou a “luta antiga” que é a criação de um registo nacional de empresas de organização de eventos que “está feito, está discutido, está aprovado e só ainda não viu a luz do dia”. A proposta de registo “não traz mais do que duas coisas muito simples: a especificação de quais os CAE e um seguro mínimo, que qualquer uma das nossas empresas tem de ter em termos de responsabilidade civil”. A vice‑presidente da APECATE lembrou que em Portugal qualquer empresa, com qualquer CAE, pode organizar eventos, o contrário do que se passa, por exemplo, nos setores das agências de viagem, da animação turística, das empresas de espetáculos. Isso dificulta muito o apuramento de números em relação ao setor dos eventos. Álvaro Covões detalhou que o produtor de espetáculos tem de ter uma licença de produtor. “Eu percebo a ideia do registo, mas a importância tem de ser mesmo o CAE, o CAE principal.” A dispersão nos CAE dificultou quando se falou em apoios para o setor, lembrou. “Devia ser obrigatório as empresas estarem no CAE principal correto, porque é muito difícil estar a falar com o Governo e o Governo dizer: mas vocês não estão com uma quebra tão grande como estão a dizer. E depois quando vamos analisar as empresas do nosso setor, estão no CAE trocado. O CAE é a chave fundamental. Eu compreendo e concordo com a luta dos eventos em relação ao registo, e para organizar eventos tem de ser alguém registado, mas o Governo só vai olhar para os CAE, como só olha para o e‑fatura”, referiu o vice‑presidente da APEFE. Leocádia Silva deu um exemplo muito concreto: “Nós quando fizemos um levantamento dentro dos nossos associados, e nós não somos nem promotores, nem agentes, pertencemos ao meio da cadeia de valor, são 32 CAE diferentes.” Isso faz com que seja “muito difícil fazer um levantamento de quem é que precisa de ajuda”. WWW.EVENTPOINT.PT 70 DOSSIÊ TEMÁTICO MAIS EQUIPAMENTOS E MAIS SUSTENTABILIDADE “O país não está ainda dotado de equipamentos suficientes para o trabalho que nós podemos fazer. Isto tem de ser um ponto fundamental a partir desta retoma: mais locais de trabalho”, alertou Álvaro Covões. Essa foi, aliás, uma das solicitações da APECATE, que participou na discussão pública do Programa de Recuperação e Resiliência. “É impossível voltarmos a querer trazer grandes eventos, e o Estado continua sempre a falar de apoio aos grandes eventos, mas a verdade é que é preciso ter equipamentos para os receber. E quando discutimos a questão dos equipamentos é preciso infraestrutura, transportes, mobilidade, e o Governo tem de olhar para o nosso setor ao nível do equipamento”, referiu Ana Fernandes. E insistiu também noutras necessidades. “A questão dos eventos mais sustentáveis, mais limpos, amigos do ambiente, amigos da sociedade, efetuados em rede, com menos carbono, tudo isto são questões, e o Plano de Recuperação e Resiliência não pode estar só voltado para o que são os grandes objetivos que o Estado já deveria ter proporcionado ao longo dos últimos anos, têm de ser efetivamente para que as empresas sejam empresas do futuro e, para isso, vão precisar de muito investimento, não só ao nível dos recursos humanos, mas das próprias infraestruturas e ferramentas de trabalho.” Televotação: Acha fundamental haver um estudo sobre o setor, atual, detalhado e revelador do impacto da nossa atividade do ponto de vista económico e social? A – Não | 0% B – Sim, com muita urgência | 80% C – Sim, com muita urgência | 6% D – Sim, com muita urgência | 3% E – Sim, com muita urgência | 11% Ana Fernandes CINCO PONTOS PARA PERCEBER O FUTURO DAS MARCAS NOS EVENTOS PAINEL 4 ‑ “O QUE QUEREMOS QUE MUDE NO FUTURO II / CLIENTES E PROMOTORES” Participantes: Curador ‑ Gonçalo Castel‑Branco (LOHAD); Felipe Gomes (NOS), Filipe Bonina (Pai da Mariana e do António); e Joana Garoupa (Galp). A pandemia trouxe o reforço de relações com parceiros, profissionalização e flexibilização. Mudará a forma como as marcas comunicam com o público? WWW.EVENTPOINT.PT 72 DOSSIÊ TEMÁTICO 2020 foi o ano dos cancelamentos e 2021 continua a não garantir as condições para o regresso dos grandes eventos. Joana Garoupa admitiu que “o foco para a Galp é 2022, 2021 é um ano de experiências”, não só porque não existe ainda “um modelo que corresponda ao nível de segurança” ideal, mas porque um contexto de testes, distanciamento ou medição de temperatura pode não ser o desejável para o público. As marcas querem e precisam dos eventos, mas o “antes” parece cada vez mais difícil de repetir e o “depois” ninguém sabe como será. Deste painel, há cinco pontos a reter que podem ser essenciais para percebermos o que aconteceu e o que pode mudar. RELAÇÃO COM PARCEIROS “Num momento como este, um diretor de marketing pode dar‑se ao luxo de agir em prol do ‘bem global’ do mercado ou está obrigado a levar em conta apenas o interesse dos seus stakeholders?”. A pergunta, lançada na televotação, foi o ponto de partida para a conversa. Joana Garoupa admitiu “um ano duro, em que o mercado mudou, os budgets mudaram, as contingências foram mudando de mês para mês”. E se inicialmente vingou a ideia de um “desígnio nacional”, com o passar do tempo os números começaram a ganhar relevo. Foi a altura de apelar ao “bom senso” e de, em conjunto com os parceiros, criar alternativas, até porque 2021 não foi bem o que se esperava. “As verdadeiras parcerias defendem‑se umas às outras e são recíprocas e senti muito isso do lado dos parceiros com quem trabalho”, concluiu. Para Filipe Bonina, “a obrigação de pessoas que trabalham em qualquer negócio é salvaguardar o interesse dos stakeholders da companhia. Dar‑se ao luxo de apoiar não tem que ser um ato de solidariedade, é um ato de gestão”. “A questão que se põe é pensar no capital que está criado com esses parceiros, se se deve fazer tábua rasa disso para resolver problemas imediatos ou se tem de se encontrar um equilíbrio que permita que parte disso se preserve a pensar no futuro da própria empresa”, defendeu. “Esse critério entre parceiros, agências, fornecedores, ajuda, no fundo, a ultrapassar todas as dificuldades que possamos ter num momento como este. Salvaguarda os interesses de todos e, acima de tudo, defende o mercado”, considerou Felipe Gomes.PROFISSIONALIZAÇÃO E FLEXIBILIZAÇÃO A profissionalização desta relação entre promotores e marcas poderá ser uma das consequências deste período. “Até à pandemia era raríssimo assinar um contrato com um patrocinador de um evento e nunca tinha tido um problema”, admitiu Gonçalo Castel‑Branco. Felipe Gomes considerou que “a profissionalização na sistematização da relação é fundamental para podermos acompanhar o que se faz lá fora. Os contratos são os pontos de partida de tudo”. A profissionalização, mas no que respeita a agentes e intermediários entre artistas e marcas é, para os intervenientes, fundamental para que se mantenha uma das novas realidades trazidas pela pandemia: a maior aceitação, por parte de artistas, de incorporar marcas nas suas criações, sem que isso ponha em causa a sua integridade ou visão. Joana Garoupa sente que “aconteceu uma abertura a determinado tipo de sinergias que antes não existiam, porque as causas também são diferentes”, e deu como exemplo o Cria‑te by Galp & Rock in Rio. Filipe Bonina apontou as “questões culturais” e algum amadorismo como responsáveis pelo facto de existirem, muitas vezes, “incompreensões de parte a parte”. “Por vezes há abusos por parte das marcas, que não percebem que o que está ali em causa é o valor da marca que aquela pessoa é e do investimento que teve para chegar ali.” “Há um caminho a percorrer de ligação entre estes dois valores com ganhos para ambos os lados”, sublinhou. Felipe Gomes falou em “especialização e conhecimento para podermos incorporar a visão dos promotores e dos artistas, para só depois encontrarmos a fórmula certa”. “As marcas mostrarem que percebem a indústria é fundamental para abrir mais oportunidades”, considerou. DIMENSÃO DOS EVENTOS A Covid‑19 poderá transformar um mercado ancorado em grandes eventos? Será que as marcas vão ter de mudar o seu foco para outras escalas? Filipe Bonina lembrou que antes da pandemia “passaram a existir eventos de pequena escala que tinham um interesse muito ligado à marca” e falou em subprodutos que podem ter sucesso, WWW.EVENTPOINT.PT 74 DOSSIÊ TEMÁTICO como “digitalização e o streaming dos próprios eventos”. Sendo certo, na sua opinião, que “os grandes eventos serão sempre importantes para os anunciantes, porque há impactos que só os grandes eventos podem gerar”. Joana Garoupa acredita que a experiência “vai ser ainda mais valorizada depois de tudo passar” e Felipe Gomes reforçou a ideia, lembrando que nos últimos meses “surgiram vários conceitos, mas nenhum substitui a experiência ao vivo e a emoção”. DEIXAR DE FAZER POR RECEIO DE FEEDBACK NEGATIVO NAS REDES SOCIAIS Poderão as polémicas nas redes sociais condicionar a realização de eventos e o consequente envolvimento das marcas? “Acho que há cada vez menos medo de fazer, porque começámos a aprender que as polémicas na net têm o efeito que têm. Obviamente há temas em que as empresas não se devem meter porque não é o seu lugar”, disse Filipe Bonina. Joana Garoupa admitiu que já sentiu algum receio: “Não tem diretamente a ver com as redes sociais, mas em ficar associado a um momento que por alguma razão podia não ser positivo ou extemporâneo.” Felipe Gomes revelou que, no início da pandemia, a NOS teve alguma contenção e que algumas coisas não avançaram, “não pelo receio do impacto nas redes sociais, mas porque não era o momento”. Hoje em dia, o objetivo é criar as condições para que os eventos regressem e a decisão de o fazer ou não “nunca será pela crítica das redes sociais, será sempre pelo que faz sentido”. Televotação: Esta pandemia empurrou todos – marcas e promotores – para situações de enorme fragilidade, na qual as dinâmicas de mercado foram muitas vezes testadas. Sente que as organizações, na sua maioria, agiram? Lutando para proteger os seus fornecedores e parceiros, mesmo que contra o seu interesse imediato: 51% Preservando os seus interesses diretos, mesmo que aproveitando as fragilidades dos seus fornecedores e parceiros: 49%RESISTÊNCIA, OPORTUNIDADES E ESPERANÇA NO FUTURO PAINEL 5: “O QUE QUEREMOS QUE MUDE NO FUTURO III / AGÊNCIAS E FORNECEDORES” Participantes: Curador ‑ Pedro Rodrigues (Desafio Global e Go Live Digital Events); Bernardo Corrêa de Barros (Turismo de Cascais); Gonçalo Oliveira (Desafio Global); Jorge Vinha da Silva (Altice Arena); e Pedro Magalhães (Europalco). A indústria dos eventos está a passar por um período difícil, mas há esperança no futuro. O presente traz novos desafios aos gestores de eventos e aos fornecedores, mas também traz novas oportunidades, sentido de união e espírito de resistência. WWW.EVENTPOINT.PT 76 DOSSIÊ TEMÁTICO O início do ano 2020 prometia ser um dos melhores de sempre da indústria, mas em março todas as expectativas se desvaneceram nos tentáculos de uma pandemia mundial. O impacto foi brutal. “Todos nós tivemos de fazer um exercício de adaptação. Ainda nos estamos a adaptar”, disse José Vinha da Silva. “O último ano foi um ano estrondoso e todos nos soubemos adaptar e reinventar, dentro de todas as condicionantes”, complementou Gonçalo Oliveira, lembrando que a tecnologia pode ser “uma oportunidade de futuro para as empresas”. Bernardo Corrêa de Barros acredita que “Portugal vai ter muito a ganhar com o que aí vem”, já que a procura é grande por países com menor pressão turística e que passam uma mensagem de sustentabilidade, tal como é grande a vontade de consumir, de participar em eventos e de viajar… “E aí temos muitas oportunidades.” Mas há, por outro lado, preocupações a ter em conta, como a desvalorização do trabalho, lembrou Pedro Magalhães. “Se desinvestirmos nos eventos, não vamos ter fornecedores capazes, com qualidade, com tecnologia disponível, e não vamos ser capazes de conseguir responder aos eventos internacionais.” Esta indústria já não é invisível e já todos têm noção da sua importância. “Mostramos que somos um setor, que estamos fortes e que estamos unidos”, adiantou Pedro Magalhães. E Bernardo Corrêa de Barros sustentou a necessidade de a indústria estar unida e de trabalhar em conjunto, pois “só juntos é que vamos mesmo ultrapassar esta crise”. A tecnologia veio para ficar e todos reconhecem a importância dos eventos híbridos. Pedro Magalhães acredita neste tipo de eventos e considera que “é possível fazer eventos espetaculares”. Contudo, ressalvou que um evento híbrido não é um evento com uma câmara a transmitir, mas um evento com uma produção para os participantes presenciais e outra realização para quem está em casa. “As experiências são distintas.” E, por isso, o serviço “tem de ser sempre mais caro”. A pandemia introduziu novos desafios aos gestores de eventos. Gonçalo Oliveira defendeu que, enquanto “maestros de orquestra”, os gestores de eventos precisam de aprender a trabalhar com os novos “instrumentos”, as novas ferramentas que a pandemia trouxe. Esta opinião não foi consensual, pois, para Pedro Magalhães, um gestor de eventos “não tem de ter o conhecimento técnico” em absoluto. Em vez disso, numa analogia com o futebol, ele tem de ser “um treinador que consegue reunir uma equipa e fazer um evento de sucesso”. “VAMOS SAIR MAIS RESISTENTES” A sustentabilidade é outro tema incontornável. “Vejo aqui uma grande oportunidade, mas vejo também uma responsabilidade tremenda da nossa indústria”, considerou Jorge Vinha da Silva, para quem faz sentido uma estratégia conjunta de todos os players. Mas estarão os clientes dispostos a pagar mais por eventos sustentáveis? “A indústria tem de se adaptar e há aqui um caminho longo a percorrer.” E no final de tudo isto, vamos ser melhores pessoas e profissionais? Em resposta à questão de Pedro Rodrigues, Bernardo Corrêa de Barros afirmou que “fará de nós melhores pessoas, naturalmente, porque pudemos compreender uma série de coisas”, ter novas perspetivas e, no campo profissional, “ganhamos novas competências”. Gonçalo Oliveira referiu que “o que aprendemos neste último ano foi importantíssimo” para os anos que se avizinham: “Como profissionais, acho que vamos ser melhores, pelo menos, a interpretar o evento de uma forma diferente e a agir de forma diferente. Tenho a certeza absoluta que o próximo evento físico vai ser totalmente diferente do que era feito há uns tempos.” Por seu lado, Jorge Vinha da Silva acrescentou: “Não sei se vamos sair melhores, eu gosto de acreditar que sim, mas de certeza que vamos sair mais resistentes.” A mensagem final foi de esperança. Gonçalo Oliveira está “muito entusiasmado” com o futuro. “Acho que vão ser criadas muitas oportunidades para as agências de eventos, para os gestores de eventos, para esta nova comunidade event tech.” Também Jorge Vinha da Silva acredita que “todas estas novas valências que todos nós tivemos de abraçar, a prazo, vão‑nos dar mais opções enquanto indústria e acho que o número absoluto de eventos vai ainda crescer, o que vinha sendo a tendência na última década”. Bernardo Corrêa de Barros sublinhou a necessidade de garantir primeiro a sobrevivência e de fazer um trabalho conjunto. Defendeu que ninguém deve ter medo de falhar, pois “estamos na altura de falhar e de cometer erros, e de aprender com os erros para sermos melhores do que os outros lá fora”. WWW.EVENTPOINT.PT 78 DOSSIÊ TEMÁTICO EVENTOS DESPORTIVOS: NA LINHA DE PARTIDA E PRONTOS PARA ARRANCAR SESSÃO PARALELA 1: “O FUTURO DOS EVENTOS DESPORTIVOS” Participantes: Moderador ‑ Paulo Costa (GlobalSport); Rui Pinho (Associação de Trail Running Portugal – ATRP); e João Cabreira (Cabreira Solutions). Os eventos desportivos estão preparados para regressar e querem continuar a cumprir um papel de dinamização do turismo e da economia. Mas sempre com o foco na saúde e segurança.Next >