< PreviousDeste contacto com o mundo dos eventos, do que mais gosta é de “viver o evento no terreno, em tempo real, com toda a adrenalina do ‘está a acontecer… não se pode parar nem pausar e agora temos de garantir que nada falha’”. Quando recorda festivais de música como os atuais Nos Alive e Nos Primavera Sound, lembra o seu entusiasmo, o envolvimento na produção e o trabalho no backstage, que raras vezes lhe permitiram ver mais de uma hora de concertos por dia. “É uma forma diferente de viver um festival, mas é claramente a minha forma preferida de desfrutar estes grandes eventos.” No sentido inverso, no prato da balança do que menos gosta constam a rotina e a “quantidade de propostas recusadas que temos de ‘engolir’, sem nunca poder desistir até conseguirmos as peças jornalísticas que nos parecem fazer sentido para cada projeto”. Contudo, nos grandes eventos e nos festivais de música, “o entusiasmo é gigantesco e, mesmo quando parece que estamos sempre a fazer as mesmas coisas em cada ano e para cada edição, acabamos sempre a concluir que é como se estivéssemos a começar tudo de novo… Cada vez com mais experiência, com mais vontade de ir mais além, de arriscar um bocadinho mais”, frisa. MOMENTOS DE ORGULHO “Tenho a felicidade e o privilégio de só trabalhar eventos de que gosto”, sublinha João Pinho, que adianta já ter estado envolvido no sucesso de vários eventos de referência, “do Happy Holi ao Mimo Amarante, do Artbeerfest ao Lumina, do Nos Alive ao Nos Primavera Sound, do Optimus Hype ao Optimus Bailes Optimus, do Festival Imaterial ao Artes à Rua, da Noite Branca de Braga à Bienal Ibérica do Património…” E, deste percurso recheado, João Pinho destaca – “pela sua dimensão, nível de profissionalismo e pelo impacto planetário daquele que é o evento mais visto em todo o mundo” – a edição do Festival Eurovisão da Canção em Lisboa, para o qual foi convidado para gerir o programa de visitas aos bastidores. “Trata‑se de uma gigantesca máquina multinacional, uma máquina que aprende e está sempre a identificar oportunidades melhores e a otimizar processos e protocolos, e que nos dá lições de boas práticas em todas as áreas”, explica. Um momento que guarda na memória prende‑se precisamente com o Festival Eurovisão da Canção. Sustenta que, por WWW.EVENTPOINT.PT 50 VIDA DE EVENTOS ser “o evento mais visto pela televisão em todo o mundo”, ali “nada pode falhar, todos os sistemas são redundantes, tudo é exaustivamente decidido, planeado e ensaiado e, portanto, não há grande margem para improvisos ou alterações de última hora”. Acrescenta que “o festival constitui também uma espécie de montra privilegiada das soluções mais avançadas dos diferentes patrocinadores técnicos”, que aproveitam para testar produtos e serviços em ambiente real, mostrando‑os às suas equipas e potenciais clientes. João Pinho conta que um dos grandes patrocinadores do festival é uma marca de equipamentos e sistemas de som, que, como era habitual, tinha convidado elementos‑chave da sua equipa em todo o mundo para estar no evento e ver ao vivo e a cores o que a marca ia lançar. Adianta que, já com tudo em andamento, descobrem que a Altice Arena, o venue do festival, detém características acústicas “únicas no mundo”, tornando esta “uma oportunidade irrepetível e imperdível para que os especialistas de todo o mundo vissem os equipamentos a funcionar em condições ótimas”. Por isso, de repente, “somos chamados para uma reunião de emergência, porque tínhamos de preparar tudo para receber umas duas ou três vezes mais o número de convidados previstos. Em tempo recorde, foi necessário recrutar mais pessoas, dar formação, reformular percursos… Num evento destes não há margem para deixar ninguém desacompanhado nem por um segundo, nem para ajuntamentos ou cruzamentos de convidados não controlados”. Foi preciso “garantir que a receção e acompanhamento destas muitas dezenas de convidados extra não prejudicariam em nada tudo o que estava já previsto e planeado”. E a missão foi cumprida! “Passámos no teste com distinção”, afirma. Um momento emocionante que vai também guardar na memória decorreu no então Optimus Alive. Uma jornalista de uma televisão ia realizar um direto e o promotor do evento não ia poder participar. “Ora, como uma das nossas abordagens passa precisamente por estar atento às necessidades dos jornalistas e fazer tudo para os ajudar, sugerimos avançar com o responsável pela comunicação do patrocinador que dava nome ao festival.” Proposta aceite e pormenores tratados. João Pinho deu um pequeno briefing sobre o perfil do entrevistado e tratou de garantir a sua presença à hora e no local previsto. “Minutos depois, agora com um ar aflito, a jornalista dá‑nos conta que o direto tinha sido antecipado.” João Pinho correu para ir buscar o entrevistado e acompanha‑o ao local combinado. Mas, quando chegaram, a jornalista já estava em direto, porque “a antecipação tinha sido antecipada”, e já não havia margem para apresentações ou acertos de última hora. “Como sou otimista, decido arriscar” e, discretamente, para não aparecerem no plano, foram‑se aproximando. “Posiciono o porta‑voz ao lado da jornalista de forma discreta para não perturbar o direto e, completamente a tremer de nervosismo, tento o contacto visual na esperança (improvável, mas possível) de que a jornalista conseguisse, pelo canto do olho e sem se atrapalhar com o direto, perceber que eu tinha chegado com o convidado – que ela não conhecia. E a magia aconteceu! Com uma naturalidade, segurança e sangue‑frio só ao alcance de quem conta com muita experiência, a jornalista aproxima‑se do convidado, lembra‑se do nome dele e da função e coloca a primeira pergunta, como se tudo tivesse acontecido como previsto.” Um “brilharete” que todos fizeram. “A jornalista conseguiu um excelente direto e a marca conseguiu um momento de visibilidade extraordinário… Acho que até chorei de emoção”, conclui. Maria João Leite WWW.EVENTPOINT.PT 52 VIDA DE EVENTOS MARIANA OLIVEIRA “MOTIVA‑ME O DESAFIO EM SI” WWW.EVENTPOINT.PT 54 VIDA DE EVENTOS General manager da Anetours – Agência de Viagens e Turismo, Mariana Oliveira explica que chegou a esta área com 19 ou 20 anos e que o gosto pelo turismo e pela hotelaria se enraizou desde muito cedo. “Tendo uma empresa familiar ligada ao mundo dos transportes de turismo (táxis de turismo) desde os anos 80, as conversas e o burburinho rapidamente se instalavam no nosso dia‑a‑dia.” Mariana Oliveira ainda estudava quando iniciou funções, em regime de part‑time, como rececionista de hotéis de cinco estrelas, por exemplo. Além disso, “dinamizei vários eventos ainda em família e alavanquei a empresa de transportes e táxis, com assessoria na organização e logística”. Deu‑se o início do projeto Anetours – Agência de Viagens e Turismo, no âmbito de transportes em minivans e minibus, “podendo fazer um maior número de transportes, eventos, congressos e grupos”. A empresa tem escritório em Leça da Palmeira e conta com um staff de técnicas de turismo, que dá conta e resposta aos pedidos crescentes, tendo sempre em atenção o detalhe e o atendimento personalizado. No capítulo da motivação, Mariana Oliveira destaca “o desafio diário de mais um evento da marca X, um grupo de turismo VIP, um evento desafiante para a agência Y, motiva‑me o desafio em si”, sublinha, acrescentando ainda “o contacto com os clientes e pessoas novas” e o facto de cada evento ter “a sua própria essência e necessidades diferentes”. E do que mais gosta é “da multiculturalidade, do projeto e conceito serem diferentes em cada evento, o que torna o trabalho em si desafiante para as equipas”. Por outro lado, dispensaria “algumas pequenas adversidades que, por vezes, surgem, contratempos, imponderáveis alheios à nossa vontade”. “Mas faz parte”, ressalva. “NOS EVENTOS TEMOS DE SER MUITO FORTES” Cimeiras, como a Ibero‑Americana em 1998, congressos médicos, eventos ligados às artes e ao desporto, eventos empresariais, muitos são os momentos marcantes do percurso de Mariana Oliveira. Mais recentemente, também a Liga dos Campeões, numa operação que envolveu 130 autocarros, dezenas de viaturas para convidados VIP, um staff de back office de 30 pessoas, 180 motoristas, entre outros recursos.Poderia enumerar “uma centena” de eventos marcantes, afirma a general manager da Anetours, lembrando‑se também de vários momentos, alguns comoventes, outros hilariantes, como “ter um pai da noiva dentro do carro a não querer que a noiva case”, “ter as fãs de um artista a invadir as carrinhas e a não deixarem os motoristas avançar” ou um evento em que a cliente “manda parar a música” para agradecer a todos os parceiros do evento. E, neste caso, “sentimos que tudo vale a pena. Todo o esforço é recompensado ali mesmo”. Nesta área, que opera e lida com veículos, “tudo pode acontecer”, frisa Mariana Oliveira. “Como costumo dizer, até os aviões avariam e os passageiros têm de esperar. Mas nos eventos é delicado. Então, por vezes, podemos apanhar uns sustos valentes. A barriga treme algumas vezes, porque ninguém pode dizer que é infalível!” Na altura em que um grupo pode estar para sair, o veículo pode ter uma avaria mecânica, por exemplo. “Por muita assistência que tenham, os veículos podem falhar”. É, por isso, importante ter um plano B, resolver a situação da melhor maneira e pôr o cliente tranquilo, explica. “É isso que fazemos, o nosso melhor. Damos o nosso máximo para que nada falhe e contam‑se pelos dedos da mão as falhas em mais de 20 anos”, sustenta, mostrando‑se satisfeita com o trabalho da empresa, com a “equipa fantástica” e com os clientes, e agradecendo a todos, família incluída. “Obrigado por nos deixarem chegar aqui e a nós todos um aplauso, pois nos eventos temos de ser muito fortes.” Maria João Leite WWW.EVENTPOINT.PT 56 VIDA DE EVENTOS PAULA FERNANDES “A ADRENALINA DOS EVENTOS DE GRANDE ESCALA… NÃO HÁ IGUAL!” WWW.EVENTPOINT.PT 58 VIDA DE EVENTOS Paula Fernandes é Client and Production Manager na Eventors’Lab. Conta que sempre foi uma jovem “muito ativa e envolvida em projetos de cariz organizativo” e que sempre gostou de participar em várias atividades na escola. E exemplifica: “Eu jogava voleibol e, no desporto escolar, houve um ano em que não podia participar como atleta por ser federada. Então, participava como apoio ao treinador para poder estar envolvida.” E numas férias de verão, em 1996, altura em que trabalhava numa esplanada na praia de Leça da Palmeira, ajudou a organizar um torneio de voleibol de praia, considerando‑o o seu “primeiro projeto na área de organização de eventos”. Por influência da irmã Ana Fernandes (fundadora da Eventors’Lab) começou a participar como freelancer em alguns eventos no Grupo Realizar, agência onde a irmã trabalhava na altura. Corria o ano de 1999 e Paula Fernandes tinha 18 anos. “A união e espírito de equipa, a cumplicidade que se vivia na empresa era tão bonita e harmoniosa, que eu dizia ‘quando for grande quero fazer parte integrante desta equipa’.” E o certo é que chegou e se afirmou na indústria dos eventos desde então, nos primeiros anos como freelancer, enquanto frequentava o Ensino Superior, depois de forma intensa e a tempo inteiro. Hoje em dia, trabalha na Eventors’Lab, onde chegou em 2017. Em alguns momentos no seu início de carreira, Paula Fernandes pensou em deixar os eventos e em trabalhar noutra área “mais de acordo com a minha formação académica”, a Gestão de Desporto. “Nem sempre acreditei em mim”, explica. “Mas depois, vendo o resultado dos eventos de que, felizmente, tive o prazer de fazer parte, a satisfação do cliente, do público e de todas as equipas envolvidas deu‑me motivação de continuar, de não querer deixar para trás este projeto que, cada vez mais, sinto que faz parte do meu projeto de vida.” E são várias as coisas de que Paula Fernandes gosta nesta indústria. “Não existe um evento igual ao outro” e, além disso, todos os dias são diferentes, começa por dizer. “O simples facto de não termos de estar todos os dias no mesmo local, à mesma hora, sempre a fazer a mesma coisa…” Mas há mais coisas boas a apontar. “O prazer de ver o resultado dos trabalhos que realizamos”, sejam eles com meses de preparação ou pedidos de Next >