< Previousse pensarmos bem”, sublinha Cooper, “sempre soubemos que o ar fresco e o exterior expandem a nossa mente e criam uma experiência social mais interessante”. O que está a acontecer é que os venues, deliberadamente, aumentaram as áreas onde serviam comida e bebida para contemplar o exterior e isso pode ser “uma solução de longo prazo para a indústria”. As zonas com coffee‑stations têm sido utilizadas estrategicamente, e muitas vezes de forma criativa, para reduzir o movimento em áreas‑chave e ajudar a que os participantes se espalhem pelo espaço. Isso, se já acontecia no passado, é agora ainda mais importante. MAIS ALERTA PARA QUESTÕES DE SUSTENTABILIDADE Mark Cooper acredita que, por causa da pandemia, é hoje dada mais importância à pegada carbónica. “Ao olharmos o volume de lixo que criamos, no plástico que acumulamos, quando fomos forçados a ficar em casa, apercebemo‑nos o quanto uma casa gasta e desperdiça quando não comemos fora ou estamos a viajar. Os participantes nos nossos eventos assistiram a isto em primeira mão”. Por isso, ao voltarem aos eventos presenciais serão menos tolerantes ao desperdício. Cooper tem poucas dúvidas de que a sustentabilidade vai ser cada vez mais relevante. “Muitas das grandes organizações que usam os nossos venues para os seus eventos, conferências e formação estão ligadas à Bolsa, têm investidores e esses investidores estão a pressionar no sentido de as organizações terem um maior impacto social. O desejo de eventos mais sustentáveis não vem só dos participantes e dos venues, vem também das organizações”. E, por causa destas movimentações, “eventos sustentáveis e responsáveis socialmente vão ser mais importantes no futuro”. NOVAS FORMAS DE OBTER LUCRO Depois desta pandemia, poderão os venues ter o mesmo volume de negócios do passado? Mark Cooper não acredita que isso seja possível, sem adaptar os modelos de negócio. E dá como exemplo a descentralização do trabalho nas grandes organizações para vários destinos regionais e, claro, o teletrabalho. “O que fizeram foi abdicar também dos seus espaços de reunião, e tiraram a oportunidade de indivíduos e grupos mais pequenos terem uma reunião de WWW.EVENTPOINT.PT 80 VENUES equipa e eu acredito que isso venha a significar mais reuniões em ambiente externo e a necessidade de venues para juntar os grupos regionais”. Outra das chaves do sucesso no negócio é a digitalização e os venues têm de mostrar que estão preparados, que têm uma internet robusta, serviços de IT, e de serem eles próprios intervenientes ativos também nas reuniões digitais e híbridas. É necessário olhar para os novos tipos de eventos e comunicar o posicionamento para fazer match com o que os organizadores precisam. “Há muito mais necessidade de apoio por parte dos venues, para lá da hospitalidade standard, ou seja, boa comida, uma boa cadeira, uma boa sala. Os serviços que os venues devem oferecer têm de ser mais amplos, ir mais além, particularmente relacionados com as necessidades digitais das reuniões, porque são numerosas agora”, sublinha o CEO da IACC. E por falar em digital, o que temos assistido nos últimos anos é uma mudança acelerada na direção das site inspections virtuais. “Há grandes exemplos de inspeções virtuais com uma combinação de reunião zoom, realidade aumentada, e um circuito no espaço de forma a poder visualizá‑lo”, lembra Mark Cooper, que acrescenta que isto beneficia a sustentabilidade, bem como a produtividade. Cresce também o desejo de reservar online e por isso os venues apresentarem informação rica é algo cada vez mais importante, porque “temos uma geração que está a entrar na indústria que não tem os mesmos métodos do passado e estão confortáveis em comprar online”. O QUE VAI ACONTECER AOS PREÇOS? “Acredito que os preços vão aumentar”, diz Mark Cooper. E “têm” que aumentar dado o aumento do custo do trabalho, dos serviços e dos produtos. O setor da hospitalidade necessita de recrutar e nem toda a gente vê esta área como opção de carreira, “por isso vamos precisar de pagar mais, baixar a média de horas de trabalho ‑ já não é aceitável pensar que o chef pode trabalhar 80 horas por semana, todas as semanas”. Isso vai fazer com que os preços aumentem. Outra questão levantada por Mark Cooper é a do valor das reuniões. “O facto de não nos termos conseguido reunir, mostrou que era algo de que tínhamos muitas saudades”, e por isso na cabeça dos participantes e das organizações os eventos têm ainda mais valor. Mas terão ao ponto de os clientes pagarem mais por eles? A trajetória que temos assistido nos últimos tempos mostra que poderão não existir espaços para acomodar a alta procura por eventos. “Tornou‑se um mercado para vendedores e os espaços têm cobrado preços justos, mas mais altos”, refere Cooper, baseando‑se na situação que se vive hoje nos Estados Unidos, Holanda, Dinamarca e Suécia. “Acredito que seja uma oportunidade para cobrar preços justos e não cairmos no ambiente hiper competitivo baseado no corte de custos, porque isso a longo prazo não é bom para a indústria, nem para as pessoas que trabalham nela”, termina. O QUE É A IACC? É uma associação que junta mais de 400 venues, de 26 países, dedicados a receber conferências mais pequenas, reuniões e formação. A associação tem como objetivo ser uma voz líder na indústria, e para isso dissemina tendências, relatórios e investigação, e junta mentes criativas de todo o mundo para refletirem sobre as temáticas mais importantes para o setor. WWW.EVENTPOINT.PT 82 VENUES CONTEÚDO E EXPERIÊNCIAS DIFERENCIADORAS WWW.EVENTPOINT.PT 84 EVENTOS CONVENTA CROSSOVER: O FUTURO DOS EVENTOS JÁ CHEGOU A Conventa Crossover levou ao Švicarija Creative Centre, em Ljubljana (Eslovénia), um bom exemplo do espírito atual da indústria dos eventos: não é preciso parar para refletir sobre a mudança, porque esta faz‑se trabalhando. O que acontece quando, ainda na ressaca da pandemia, se reúnem, num centro criativo em plena floresta, grandes nomes do setor dos eventos? O desejado reencontro e uma partilha de ideias que deixa muito em que pensar. Foi assim a Conventa Crossover, um evento que teve como mote AC/BC (Antes e Depois da Covid) e que deu muitas indicações sobre o futuro dos eventos. Um futuro que, afinal, é já o presente, porque está a ser construído a cada dia. O Švicarija Creative Centre, no Tivoli Park, bem perto do centro de Ljubljana foi, sem dúvida, o cenário perfeito para este encontro que encerrou a Conventa Week (https://www.eventpointinternational. com/pt/item/10‑reports/5652‑conventa‑ ainda‑mais‑fortes‑depois‑da‑crise), realizada entre 24 e 27 de agosto. Num dia de verão, dezenas de pessoas percorrem a floresta para se encontrarem numa antiga cabana de madeira agora convertida em centro cultural. Após longos meses de confinamento e de conversas virtuais, este reencontro, pessoal, com vozes animadas em múltiplos idiomas, brindes e até abraços ‑ “autorizados” pelos testes e certificados de vacinação ‑ era um momento muito desejado. Havia muito para falar e novas ideias para partilhar. Esta descrição adequa‑se, afinal, a muitos de nós e aos reencontros que vamos tendo agora que a pior fase da pandemia parece já ter passado. Mas quando este encontro reúne mentes criativas que são, também, especialistas em eventos, a conversa torna‑se ainda mais interessante. E faz com que, no fim do dia, todos tenham sentido que valeu a pena estar, pessoalmente, naquele local. Assim foi a Conventa Crossover. E, como se percebeu no final, assim deverão ser todos os eventos nesta fase pós‑pandemia: com conteúdo e experiências diferenciadoras. São, afinal, dois conceitos que saíram reforçados com a pandemia e que prometem estar no centro de todos os eventos pós‑covid. CONVENTA CROSSOVER: FOI ASSIM QUE COMEÇOU Voltando um pouco atrás, a primeira referência a estes conceitos tinha já surgido no dia anterior, quando Ulrike Tondorf (https://www. eventpointinternational.com/pt/ item/8‑interviews/5704‑bea‑world‑ diversidade‑e‑inclusao‑sao‑os‑pilares‑ para‑solucoes‑inovadoras), Head Brand Activation & Engagement da Bayer, participou, virtualmente, no lançamento deste Crossover. Enquanto se desmontava a Conventa, no auditório da feira iniciava‑se já a discussão sobre o novo (ou talvez não tão novo) caminho dos eventos. Ulrike Tondorf lembrou que as soluções usadas pelo setor durante a pandemia já existiam. Apenas foram melhoradas e repensadas para conseguir responder ao que o público esperava. Porque, como frisou a responsável da Bayer e viria a ser repetido várias vezes no dia seguinte, o público é o centro do evento. E o que quer o público? Experiências e conteúdo. “Online ou live… é sempre sobre o cliente. É sempre importante ter o ponto de vista do utilizador e é nele que o evento incide”. WWW.EVENTPOINT.PT 86 EVENTOS “O que é um evento híbrido? O nome híbrido só é útil para os organizadores. É sempre sobre o público ‑ há público ou não?”, questionou, antecipando assim uma das discussões do dia seguinte. “Há que pensar no conteúdo. Conteúdo para antes e para depois do evento é a base para a atenção do público e para atingir todo o potencial dos eventos híbridos”, argumentou Ulrike Tondorf, explicando que, hoje em dia, empresas e participantes pensam muito mais sobre a utilidade dos eventos. Assim, antecipa que “no futuro a partilha de informação vai acontecer mais online”. “Mas para o networking é muito melhor o encontro presencial. Quando se quer saber mais sobre a pessoa e estabelecer uma ligação as pessoas encontram‑se pessoalmente”. O PONTO DE PARTIDA E AS MEGATENDÊNCIAS Sendo esta uma discussão sobre a realidade dos eventos em 2021, os mais distraídos talvez esperassem que se olhasse ainda para os meses anteriores e se fizessem as contas ao que se perdeu. O “Outcome European industry survey”, apresentado na Conventa Crossover por Maarten Schram, fundador e Managing Director da LiveCom Alliance, fez, realmente, esse retrato. Mas foi apenas o ponto de partida para o caminho que se segue e que está já a ser percorrido. E qual será o caminho para um setor que teve quebras de faturação na ordem dos 68,4%, que perdeu 47,9% dos empregos em full‑time e que só espera recuperar em 2023? Foi o próprio Maarten Schram a dar o mote: “Encontrar pessoas e experiências transformadoras, que valham o risco de se fazer e estar num evento ao vivo. O que é enriquecedor é construir conteúdo que seja transformador. O mundo tornou‑se híbrido, mas não sei se os eventos o serão”. Quando se fala em eventos híbridos, Tony E. Kula pode ser considerado um pioneiro, porque os faz desde os anos 90. Daí o à vontade com que compara os eventos híbridos ao sexo na adolescência: “Toda a gente fala disso, mas pouca gente sabe como se faz”, afirmou, no início da sua apresentação, em formato virtual, lembrando que “o híbrido já cá estava há muito tempo”. O que, porém, não faz com que seja mais fácil. Esta é, aliás, a primeira lição que aprendeu ao trabalhar neste tipo de eventos: “Um evento híbrido é mais complexo do que um evento ao vivo e mais complexo do que um evento digital, porque há dois públicos a ter em conta”. A segunda lição é que “não é possível replicar uma experiência física no digital” e a terceira é que “um bom evento ao vivo tem que ter uma narrativa”. “Tornar a experiência do utilizador muito especial” e apostar em eventos ao vivo mais pequenos e exclusivos são, na sua opinião, duas formas de o conseguir. E como será o futuro? “As pessoas vão querer sempre encontrar‑se pessoalmente, mas as viagens de negócios vão ser reduzidas. Os eventos vão ser mais locais e vão existir apenas dois ou três eventos de top e feiras regionais”. Mais uma vez: conteúdo, experiências e personalização. Ou, como diria o convidado seguinte, Colja Dams, “o futuro dos eventos não são plataformas, mas centros de experiências”. O CEO da Vok Dams apontou “megatendências” para o futuro, como é o caso das experiências imersivas. “O complexo é o novo simples”, referiu, considerando também que a separação entre o live e o digital tende a desaparecer. “A vida é híbrida”, explicou, lembrando que grande parte das nossas experiências são já vividas e partilhadas através de ecrãs. WWW.EVENTPOINT.PT 88 EVENTOS Ainda assim, há algo de imutável. Aquilo a que chamou “o gene da fogueira”. A explicação é simples e remete para a necessidade humana de reunião e de partilha, sentida desde os tempos mais primitivos. E o conselho pode ser entendido como mais uma tendência a ter em conta no futuro: “Todos somos atraídos para a fogueira. Pode ser digital, mas certifique‑se de que o digital tem fogueira para atrair pessoas”. AVANÇAR EM DIREÇÃO A UMA NOVA ERA Miriam Preissinger, diretora criativa da Cheil Germany, foi mais uma voz a traduzir a necessidade de seguir em frente, em direção ao chamado phygital: “Não há regresso ao normal. Temos de avançar”. E este avanço para a “era do phygital, que é o melhor dos mundos”, terá de ser baseado em três conceitos: imediatez, imersão e interação. Ou seja, acesso imediato, poupando tempo, mas também “storytelling com todos os sentidos e experiências mais memoráveis”. Já a interação é feita através de “um diálogo mais profundo com os clientes, uma relação mais próxima e com mais potencial para a lealdade”. A abordagem aos eventos terá, então, de ser feita não através de ações isoladas, mas de uma estratégia holística. “O físico e o digital devem ser complementares e não competir, porque se melhoram um ao outro”. “A tecnologia não é a história e as experiências raras são o novo capital social”, sublinhou, reforçando, assim, a importância das experiências e do conteúdo. E o seu último conselho, embora inspirado numa citação do CEO da Amazon, remete, afinal, para o já referido “gene da fogueira”: “Há que pensar no que nunca vai mudar”. As experiências como fator diferenciador dos eventos estiveram também presentes na intervenção de Jens Oliver Mayer, Managing Director da Jack Morton. “Os clientes esperam uma experiência premium. Procuram experiências efémeras que lhes tragam vantagens e valor, experiências sem esforço que proporcionem o melhor da interação com a rapidez do agora”, explicou, lembrando que “o conteúdo é uma parte crucial das experiências”.Next >