< Previousse tornassem “ainda mais desejados”. Os pedidos pelos mesmos têm dependido de mercado para mercado, refere. Os incentivos, indica, “ainda que de menor dimensão”, estão a ser confirmados, enquanto nos congressos ou eventos existe a preocupação da realização dos mesmos de forma híbrida, algo que já era uma tendência antes da covid‑19. Atividades em plena natureza, ajuste da dimensão dos eventos aos espaços disponíveis, mas também uma maior aposta pela “diferenciação para obter eventos de valor acrescido” são as tendências que o profissional aponta para os eventos dos próximos tempos. Controlar orçamentos e negociar condições de contratação mais flexíveis e menos penalizadoras vão ser tarefas imperiosas para o sucesso dos eventos, refere Jorge Coelho. O responsável alude ainda à continuidade dos eventos híbridos que, “apesar dos custos acrescidos que implicam, serão uma tendência para colmatar a impossibilidade de as pessoas viajarem, assim como uma evolução para um ‘novo normal’ nas relações humanas”. A par dos eventos digitais e híbridos, a flexibilidade já característica de quem os produz ganhou um novo ênfase e terá de continuar a ser comum em toda a cadeia de valor. Como refere a responsável da Fórum d’Ideias, “não há forma de trabalhar em eventos sem flexibilidade” e esta é crucial que exista em todos os intervenientes. Para o managing partner da Abreu Events, flexibilidade é “a palavra de ordem e uma necessidade crucial para a sobrevivência do setor”. Da mesma opinião partilha Pedro Santos Costa, para quem a flexibilidade por parte das agências de eventos corporativos “sempre esteve em cima da mesa”. “Por Pedro Santos Costa WWW.EVENTPOINT.PT 30 DOSSIÊ TEMÁTICO muito planeamento, profissionalismo e organização que uma agência tenha, haverá sempre imprevistos e alterações de última hora e temos sempre que estar preparados e arranjar soluções para elas. A agência que não tenha esse ‘jogo de cintura’ é porque não está na indústria certa”, defende. Já Rui Calapez considera que vai ser essa flexibilidade que será um elemento “diferenciador entre a oferta nacional versus países onde essa flexibilidade historicamente não existe”. No entanto, a flexibilidade pressupõe um custo acrescido e, para Jorge Coelho, este custo não pode passar na totalidade para o lado do cliente. “Terá de haver ponderação na contenção dos custos, sob o risco de deixarmos de ser competitivos”. São as confirmações ‘last minute’ que, para a responsável da Fórum d’Ideias, podem aumentar o custo da flexibilidade, “uma vez que implica reforçar a equipa antes e durante o evento para garantir uma resposta eficaz”. Na generalidade, Marjolaine Diogo da Silva diz que ainda não se assiste a “um aumento significativo dos preços, mas acreditamos que será inevitável”. Carência de capital humano Com um setor marcado sobretudo por profissionais que trabalham a recibos verdes, não foi surpresa quando estes viram os seus rendimentos reduzidos a zero procurassem outras atividades menos afetadas pela pandemia e com remunerações mais estáveis. Com a retoma do setor dos eventos no horizonte, a dificuldade foca‑se agora em voltar a atrair os bons profissionais, sendo encarado como um dos principais desafios para os próximos tempos. A ausência de recursos humanos, seja em hotelaria, venues, restaurantes ou outros, afeta diretamente a capacidade de resposta na área, aponta Rui Calapez. Para o CEO da Buzz Portugal a solução passa por uma melhor remuneração. “Infelizmente, a precariedade de grande parte dos trabalhadores na área de eventos, sobretudo na animação, ficou a nu com a covid, o que fez muitos procurarem outras formas de rendimento”. A perda de profissionais qualificados implica uma duplicação do trabalho da agência, refere Marjolaine Diogo da Silva. “Não havendo estabilidade, nem previsibilidade na atividade, é difícil haver um investimento mais sério na área dos recursos humanos e sabemos que os bons profissionais têm o seu custo”, salienta. A profissional alerta ainda para o facto de que sem “um investimento mais sério na área dos recursos humanos” a qualidade dos eventos pode estar comprometida. Mas esta não é a única apreensão da responsável. “A missão (quase) impossível de gerir os recursos, com custos fixos elevados e receita baixa, imprevisível e inconstante”, suscita preocupação. Jorge Coelho considera que a “difícil gestão dos recursos humanos”, e consequente “falta de pessoal qualificado”, é uma das duras tarefas que as empresas do setor vão ter pela frente. O managing partner da Abreu Events considera importante “voltar a passar a mensagem de que esta área, e o setor das viagens e turismo em geral é atrativa para o desenvolvimento de carreiras profissionais e de realização pessoal”. Aos recursos humanos, o responsável junta os desafios do controlo orçamental e de investimentos. Investir mais em formação para atrair esse capital humano é uma das propostas de Pedro Santos Costa, algo que podia contar com o financiamento do Estado. O profissional considera ainda que a resiliência, propósito e transformação digital vão ser os desafios da operação durante este ano. WWW.EVENTPOINT.PT 32 DOSSIÊ TEMÁTICO SETOR QUER MANUTENÇÃO DOS APOIOS PÚBLICOS Com a retoma no horizonte, as empresas do setor continuam a precisar do apoio do Estado para manterem as suas atividades e fazerem face à procura que há‑de vir. Para Marjolaine Diogo da Silva é “fundamental” que o Estado mantenha o apoio às empresas nos próximos meses de época baixa, para que “possam dar resposta à retoma da atividade provavelmente só na próxima primavera”. Rui Calapez salienta que apoiar a indústria não pode ser visto como um “ato de solidariedade”, mas sim “um ato de sobrevivência nacional”. E relembra que, dos apoios que, por exemplo, a Buzz recebeu, “não mais do que 20% foram dos impostos que a empresa entregou em 2019”. Na perspetiva do CEO da Prestígio, Pedro Santos Costa, o Estado deve ser “mais interventivo” e ajudar a indústria “que tanto tem feito por este país”. “Até aqui nada disto se verificou, as ajudas foram miseráveis e só quem tinha uma boa estrutura conseguiu vencer a enorme crise que estamos a passar”, sublinha. A necessidade da continuação de apoios ao setor das viagens e turismo é algo que Jorge Coelho também defende, relembrando que se trata de um setor “fortemente exportador e tem ainda muito para dar ao país”. Uma vez recuperada a atividade, Jorge Coelho acredita que o setor vai continuar a “potenciar riqueza e, consequentemente, melhores condições de empregabilidade”. Raquel Relvas Neto“NINGUÉM ENRIQUECE NOS EVENTOS” © Sérgio Garcia | Yourimage WWW.EVENTPOINT.PT 34 GRANDE ENTREVISTA ANGELINA CASTEL‑BRANCO “OS EVENTOS SÃO A PAIXÃO, A FELICIDADE” Apaixonada por eventos, exigente, humana e amiga são traços da personalidade de Angelina Castel-Branco que transparecem nesta entrevista. Depois de dois anos atípicos, a partner da iMotion acredita que 2022 vai ser muito forte e, por isso, já estão a recrutar. Como foi o seu percurso até chegar à área dos eventos? Estudei Gestão de Marketing, fiz licenciatura e mestrado, e desde muito pequena sempre quis estar ligada à publicidade e à comunicação. Estive também sempre ligada à música, fiz formação musical, mas na hora de escolher quis a comunicação e o marketing. No último ano da faculdade tínhamos de fazer um estágio profissional e surgiu a oportunidade de ir para a Federação Portuguesa de Vela. A Federação ainda não tinha um gabinete de marketing. Primeiro ia em part‑time, depois passei a estar todas as manhãs e duas tardes, e isto ainda a estudar. Depois propus passar a tempo inteiro, e estive cinco anos na Federação. Foi muito desafiante. Uma miúda, saída da faculdade, criar um departamento de marketing num mundo de homens, com muito formalismo... mas muitos deles acreditaram em mim e devo‑lhes isso. Dentro da Federação comecei a estar logo ligada aos eventos. O bichinho começou a crescer aqui. Depois, naturalmente, entrou a rotina, e fui à procura de coisas diferentes e respondi a alguns anúncios. Fui a uma entrevista para um grupo de media, muito descontraída, sem pressão ou receios, e gostaram da atitude. O grupo era a Ferreira & Bento, atual Cofina. Ia gerir uma série de revistas. Estive lá dois meses e para mim foi um ano. Não tinha a ver comigo, era tudo muito rígido. Mas trouxe algo de positivo dessa experiência? Trouxe‑me a melhor coisa, a minha Patrícia Gueifão, que é a minha sócia hoje. Foi aí que nos conhecemos, ela estava no departamento de eventos e eu no de marketing. Entretanto tive o desafio de uma grande amiga minha, a Inês Valadas, que me convidou para um projeto digital. A área do negócio era a dos leilões. Foi giro porque foi criar um negócio do zero. Criámos o miau.pt, a SONAE comprou o projeto e passamos a ser da SONAE. Ao fim de dois anos não havia mais por onde crescer e retomei o contacto com a Patrícia Gueifão nessa altura. A Patrícia convida‑me para ir trabalhar para uma empresa de eventos, que estava muito ligada à área médica, e tinha também uma revista na área farmacêutica. Estivemos nessa empresa quatro anos. Apesar de não ser nossa, éramos as duas a cara da empresa, fazíamos tudo. Tivemos a vantagem de ter uma pessoa que confiava cegamente em nós, mas a infelicidade de ser uma pessoa que não conseguiu fazer uma boa gestão financeira da empresa. E ninguém enriquece nos eventos, se alguém pensa que vai ficar rico a fazer eventos, não vai!!! (risos). Os eventos são a paixão, a felicidade, só está nos eventos quem os ama de coração. Ou continuávamos nisto, e não ia correr bem, ou dávamos o salto e foi isso que fizemos: demos o salto. Eu saí primeiro, depois veio a Patrícia, e depois juntou‑se o Rodrigo. Foi difícil, por um lado, porque começamos a ter nós as responsabilidades. É muito fácil dizer, “vamos fazer uma empresa”, é difícil fazer. Nestes 16 anos, quais foram os momentos mais marcantes que viveu na iMotion? Acho que são as pessoas. Os momentos marcantes são quando nós passamos por dificuldades e percebemos que a equipa está do nosso lado. Houve anos críticos a nível nacional e internacional. A crise de 2008, depois mais à frente outra crise em que tivemos de reajustar a gestão da empresa. Um factor crítico de sucesso foi o de nunca despedirmos ninguém para conseguir fazer uma gestão diferente da empresa. Conseguimos sempre adaptarmo‑nos, ajustarmo‑nos e isso não se aprende, sente‑se e faz‑se. WWW.EVENTPOINT.PT 36 GRANDE ENTREVISTA E esta parceria entre mim, a Patrícia e o Rodrigo, de amizade e de partners de negócio. Às vezes é muito difícil ter amigos com quem trabalhamos, somos pessoas completamente diferentes, com capacidades de trabalho e de gestão muito diferentes, mas que nos complementamos muito e quando há coisas menos boas estamos sempre os três juntos, quando há coisas boas estamos os três juntos, e de facto não nos desviamos do caminho. O que me marca é tudo isto. Aquilo que nos faz estar onde estamos são as pessoas. O que é que procura quando contrata alguém para a iMotion? Somos muito exigentes ao nível da qualidade, na forma como as pessoas trabalham, como falam com os clientes e com os nossos parceiros e fornecedores. Nós não somos ninguém © Padrão sem esta rede de parceiros. Claro que há muita criatividade nossa e, como é óbvio, aprendemos muito com todos os parceiros, mas hoje já chegamos até eles com as ideias que nós criamos. Aquilo que nós pedimos das pessoas é profissionalismo, qualidade, resiliência, humildade, amor e paixão. E não é fácil. Às vezes dizemos que já não se fazem pessoas como antigamente. Claro que se encontram pessoas com estas características, mas hoje em dia, às vezes, esta malta mais nova exige mais do que aquilo que dá. Têm direito de exigir, como é óbvio, mas também têm obrigação de dar. É um mercado exigente, de paixão, as horas que trabalhamos, o investimento que temos de ter, a exigência cada vez maior dos clientes em querer fazer mais por menos, temos de ter essa ambição também, de exigir e estar lá quando é preciso. Que tipo de liderança exerce? Acho que também tenho evoluído nessa parte da liderança. É muito difícil ser líder. Acredito que as pessoas acreditem em mim, naquilo que lhes peço e exijo. Mas também está do meu lado saber delegar, saber dizer que sim quando as pessoas me justificam que é por este caminho que temos de ir. A evolução que tivemos na iMotion foi um bocadinho essa. Hoje em dia somos quase 20 pessoas, somos 17, acabamos de recrutar mais duas pessoas, estamos ainda em recrutamento. Como é óbvio não posso partir do pressuposto de que faço tudo, tenho de acreditar nas pessoas. É fundamental. Um bom líder sabe delegar, sabe acreditar, mesmo que não seja o caminho que quer seguir, tem de acreditar que as pessoas que o estão a fazer, estão a fazer com as melhores ferramentas que têm à disposição e da melhor maneira que sabem, porque foram preparadas para isso. Como é que gere a vida pessoal e esta vida tão acelerada em termos profissionais? Consigo gerir, às vezes com altos e baixos. Tenho um marido maravilhoso, que adoro, e acho que ele percebe muito a minha vida e por isso partilho tudo com ele. Os miúdos acabam por sofrer um bocadinho mais, mas consigo gerir porque tenho uma família espetacular. Os meus miúdos também já foram aos eventos, envolvo a família para perceberem que isto não é fácil. Depois tentamos compensar com outras coisas, quando podemos estamos mesmo muito juntos, e fazemos muitos programas para que eles percebam que temos de ter tempo para tudo. Mas se WWW.EVENTPOINT.PT 38 GRANDE ENTREVISTA não formos exigentes connosco próprios e não dermos tudo de coração, as coisas também não saem bem feitas. Na iMotion do que é que mais gosta, de estar no terreno, da preparação do evento? Gosto muito da preparação, criar, inventar, e acho que tenho jeito para isso. Também estive sempre muito ligada às artes, à música, à comunicação, e por isso gosto de começar a criar, pensar e chegar ao fim de uma proposta, e ver que temos um conceito, uma história criada, uma linha condutora que vai contar onde começa o evento e onde ele vai acabar. Isso é uma satisfação, depois das reuniões todas, dos brainstormings. Mas como é óbvio o terreno é das coisas mais gratificantes, das mais stressantes também, mas ver as coisas a acontecerem, a concretizarem‑se é um gozo enorme. Perceber que o que conseguimos pensar, conseguimos concretizar. “SOMOS UMA EQUIPA QUE NÃO BAIXA OS BRAÇOS” E depois chega março de 2020. Como é que a iMotion tem vivido estes dois anos? Ali na primeira quinzena não tivemos cancelamentos. Claro que, a partir de fim de março, começámos a ter os adiamentos, os cancelamentos. Como © Sérgio Garcia | Yourimage Angelina Castel-Branco e Patrícia Gueifão Next >