< PreviousTodo este cenário torna determinante que o próximo Governo olhe com mais cuidado para este setor e comece a resolver os problemas de fundo (a médio prazo) e alguns problemas de contexto (a curto prazo). Esta tem sido a luta da APECATE, que se manteve e aprofundou com estes dois últimos anos de crise pandémica. A APECATE, como sempre o fez, tem trabalhado na defesa, clarificação e construção destes dois subsetores: o dos Congressos e Eventos e o da Animação Turística. Nestes dois anos a nossa aposta a curto prazo foi: ‑ garantir a sobrevivência das empresas; ‑ garantir a manutenção dos ativos das empresas, nomeadamente dos seus recursos humanos (os mais importantes) e da sua capacidade logística; ‑ garantir a capacidade financeira e operacional das empresas; ‑ trabalhar com todo o setor, associados e não associados; ‑ reforçar a colaboração e a defesa do setor dentro da CTP, Confederação do Turismo de Portugal, elemento essencial de comunicação com o governo; ‑ reforçar a comunicação com as outras associações do setor; ‑ reforçar a comunicação com todas as instituições da academia, reforçando parcerias e as ligações entre o setor empresarial e o setor da educação e investigação; ‑ propor novo enquadramento fiscal para o setor; ‑ reuniões com os partidos políticos com representação parlamentar; ‑ participação em projetos europeus para ajudar as empresas a desenvolver o seu negócio; ‑ trabalhar com as diferentes instituições, organismos, ministérios e autarquias, que tutelam e interferem com o setor; ‑ continuar a trabalhar com o Turismo de Portugal, no desenvolvimento de medidas que ajudem o setor a sobreviver; ‑ trabalhar proximamente com a Secretaria de Estado do Turismo, na defesa do setor, propondo medidas e soluções. Alguns projetos não caminharam no melhor sentido, sendo de referir o facto de o Grupo Interministerial de Acompanhamento da Animação Turística nunca ter reunido diretamente com a APECATE e não se conhecer qualquer resultado do seu trabalho, metodologia que demonstra a perversão e a falência dos seus objetivos. WWW.EVENTPOINT.PT 50 ESPAÇO APECATE Esta posição de não envolver diretamente as associações e os empresários, que é transversal a quase todas as instituições do Estado, é o primeiro passo para o insucesso. Esta é uma das lutas de longo prazo da APECATE: colocar as instituições públicas e as autarquias a dialogar com as associações representativas do setor. Não se encontram boas soluções sem a participação ativa do setor. Falando da agenda para os próximos anos, destacamos: CURTO PRAZO Medidas Fiscais IVA ‑ Dedução a 100% do IVA na organização e participação em eventos para as empresas nacionais (atualmente essa dedução é de 50%) ‑ esta medida poderá ser transitória em fase de recuperação da crise. ‑ IVA a 6% na inscrição e bilhetes para Eventos e Congressos (à semelhança da Cultura). ‑ Redução da taxa de IVA para IVA reduzido (6%) na atividade de Animação Turística, visto que é o único setor do Turismo com a taxa máxima (o alojamento, táxis, transportes turísticos com TP, TVDE com 6% e restauração 13%). ‑ Dedução a 100% do IVA nos custos com combustíveis (gasóleo e gasolina) nos setores da Animação Turística que utilizem viaturas e embarcações. Se não para todo o setor, pelo menos para a gasolina verde, à semelhança do gasóleo verde para os OMT ‑ é mais amigo do ambiente e menos poluente do que o diesel. IRS ‑ Dedução em sede de IRS de despesas em Animação Turística e Eventos, em equivalência com outras despesas em subsetores do Turismo como a Hotelaria e a Restauração, assim como na Cultura. Formação Para elevar a qualidade do setor, uma das apostas mais fortes deve ser a formação, sendo importante que finalmente seja publicado o Decreto Regulamentar que possibilite a Formação Modular Certificada, assim como o RVCC para o nível 5, para os técnicos de Turismo de Natureza e Aventura. Neste momento, estamos a trabalhar com a ANQEP, para ajustar a atual qualificação a estas necessidades. Outras medidas ‑ Revogação/ reformulação do Grupo de Trabalho de Acompanhamento da Animação Turística (obrigatoriedade de participação das associações, nomeadamente a APECATE) e alargamento da sua participação a todos os setores, nomeadamente o setor das atividades aéreas (ANAC). ‑ Criação de um Registo para o setor dos Congressos e Eventos, no âmbito do Registo Nacional do Turismo, possibilitando a organização do setor, assim como a sua avaliação. ‑ Melhoria e clarificação do diploma da Animação Turística e legislação conexa ‑ É importante atualizar este diploma e expurgá‑lo de itens que são herança do passado (como é o caso de alguns aspetos da atividade marítimo‑turística), assim como rever a legislação para a qual remete (entre outros, os Planos de Ordenamento das Áreas Protegidas e as Portarias que fixam as já referidas taxas e taxinhas). ‑ Alteração das Leis do Trabalho ‑ Não adianta ter normas que não são exequíveis por ramos da atividade económica como os da Animação Turística e dos Eventos. Precisamos de uma definição clara da bolsa de horas individual e da criação de um quadro legal que permita o acesso dos jovens estudantes ao mercado de trabalho, sem serem penalizados. WWW.EVENTPOINT.PT 52 ESPAÇO APECATE MÉDIO LONGO PRAZO Custos de contexto O setor da animação turística e dos eventos, no anterior Governo, tinha de se articular com 13 tutelas, 308 municípios, 32 CIM e duas Regiões Autónomas. Só este enquadramento é potenciador de problemas e de falta de eficácia. Mas se a tudo isto se somar que, de acordo com a lógica de cada tutela, se criam leis e regras (que normalmente não têm em conta a globalidade, mas só uma visão corporativa e reduzida), múltiplas taxas e taxinhas (subvertendo a finalidade das taxas que é prestar um serviço essencial) e procedimentos burocráticos que nos fazem gastar muito tempo e recursos, temos um cenário complicado. Para além destas, sabemos que há muitas “guerras” de tutelas e desconhecimento entre si. É necessário articular todos estes “poderes” e, de uma vez por todas, transformar o simplex num instrumento de depuração de tudo o que impede o desenvolvimento económico. Ordenamento sustentável Este é o grande desafio. Portugal é regulado e organizado com base em Planos de Ordenamento desadequados e completamente ultrapassados, onde as questões da sustentabilidade (nos seus três pilares, económico, sociocultural e ambiental) não são equacionadas de acordo com as tendências do séc. XXI. É muito importante rever os Planos de Ordenamento, incluindo os pilares da sustentabilidade, da transparência e da governabilidade partilhada entre o Estado Central, Regional, Local e as associações representativas da sociedade civil. António Marques Vidal Presidente da APECATE WWW.EVENTPOINT.PT 54 TEMOS DE SER MAIS PRAGMÁTICOS NESTA NOSSA JORNADA OPINIÃO 2022 - ODISSEIA NO ESPAÇO DE TRABALHO Espaço. Precisamos de espaço mental e físico para trabalhar. De perceber o que nos faz bem e o que nos é nocivo. Mas tem sido uma odisseia. Vivenciar o trabalho nos últimos (quase) dois anos tem sido uma verdadeira experiência sociológica, quase épica, fazendo estremecer os tetos das nossas convicções: “eu nunca seria capaz de trabalhar a partir de casa!”, “o teletrabalho para mim não serve”, “preciso de estar com pessoas, no escritório (ou em eventos!)”, “tenho de ter as minhas rotinas e sair de casa”. Pelo menos para mim, “nunca digas nunca”, é uma das aprendizagens a retirar. Nunca é uma palavra demasiadamente forte e não um eufemismo. Em 2022, tendo já percorrido uma curva de aprendizagem, percebemos que temos de ser mais pragmáticos nesta nossa jornada. As coisas são o que são e há situações que nos ultrapassam. Continuamos a ter preferências pessoais, é natural, mas temos também a necessidade de nos ajustarmos às situações e ao contexto. Há casos em que o teletrabalho tem condições para funcionar, outros há em que a questão nem se pode colocar. Há quem trabalhe de forma remota desde que “inventaram” esta forma de trabalhar. A ideia do work from anywhere é uma miragem para alguns e a realidade do nomadismo digital é um oásis para outros. É viver e aprender, ou vice‑versa. Oxalá que cada um de nós encontrasse o seu lugar ao sol. Somos desafiados constantemente num mundo em fluxo, o que torna a vida e o trabalho ainda mais paradoxais. Como alcançar o nosso desejo ancestral de segurança num mundo marcado pela incerteza e pela mudança? Let it be é apenas uma música para os nossos ouvidos? Ou conseguimos marcar o nosso ritmo?Sem receitas, sem fórmulas, a não ser a do “faça você mesmo”. Há algo que todos podemos fazer, desde que nos habituemos. O poder de definir novos hábitos, ou de saber viver com alguns hábitos que, entretanto, nos bateram à porta, sem tocar duas vezes. Estranhámos ao início, mas arranjámos espaço para eles. Siga a dança. Queremos estar num palco com outras pessoas ‑ leia‑se no escritório ou em eventos, mas temos a pista só para nós, num home office mais ou menos improvisado. Podemos até ter alguns m 2 dedicados, mas mais difícil é arranjar e arrumar o espaço mental: onde reside o nosso “eu social” e a nossa necessidade de pertença. Este sentimento tribal e de alinhamento que a nossa equipa de trabalho nos dá e que o Teams/Zoom/ Webex (ainda) não nos proporciona. Temos saudades dos “outros” e da vida real, fora do ecrã: sejam eles colegas de trabalho, parceiros de negócio ou clientes. Movemo‑nos por diversas e diferentes razões (risque o que não lhe interessar e acrescente o que possa faltar): segurança, sociabilização, status, poder, autoestima ou partilha de recursos, mas, acima de tudo, somos atraídos e identificamo‑nos com pessoas e grupos. E ficámos sem a nossa tribo, a nossa rede de suporte... Nesta verdadeira odisseia pelo mundo do trabalho, seguimos num guião que parece não ter ainda um final escrito e que, na dúvida, pode ter vários desfechos. É muito fácil sentir o desalinhamento, a desmotivação, a descrença. O “falta qualquer coisa...”. As nossas emoções não têm saído à rua, parecem também elas confinadas. A ideia do “ir para o trabalho”, aquele sítio mágico com um toque humano, entre lágrimas e gargalhadas nos coffee breaks ou “atropelos” nas conversações mais difíceis nas reuniões. Faz‑nos falta ter e sentir “os outros”. Que este episódio, que estamos a viver e a visualizar na primeira pessoa, nos sirva para arranjarmos mais espaço para as relações humanas. O trabalho não é um local para onde vamos. É um espaço no qual somos parte de um todo, ao qual pertencemos. E também onde fazemos falta. Rita Oliveira Pelica Chief Energy Officer ONYOU WWW.EVENTPOINT.PT 56 OPINIÃO WWW.EVENTPOINT.PT 58 VIDA DE EVENTOS “GOSTO DE PODER TRABALHAR COM VÁRIAS PESSOAS DIFERENTES”IVO OLIVEIRA “ADORO O SOLUCIONAR DE PROBLEMAS” Ivo Oliveira é produtor e coordenador de eventos, produtor de televisão e DJ. Na Yvu - soluções corporativas, os serviços passam pela seleção musical em vários tipos de eventos, pelo aluguer de equipamento audiovisual, pelo apoio à produção de eventos e pela coordenação e logística de equipas de hospedeiras, técnicos audiovisuais ou voluntários. “A minha área é de Produção de Televisão”, começa por explicar. E depois de oito anos na Briskman, na produção de programas de televisão, videoclips e publicidade, lançou-se como freelancer. “Através de amigos que já trabalhavam na área dos eventos apareceu a oportunidade de fazer eventos corporativos e coordenação e logística de stands em festivais”, refere. de problemas e toda a coordenação que envolve a produção do evento”. No lado oposto da balança, pesam “as horas longe da família e as pessoas pouco profissionais que estão constantemente chateadas ou aborrecidas, porque já têm um certo estatuto ou idade e acham que não devem fazer certas coisas ou aceitar mais horas de trabalho; quando, por vezes, tudo fica atrasado...”, lamenta. E assim chegou à área dos eventos, onde do que mais gosta é de “poder trabalhar com várias pessoas diferentes, trabalhar conceitos e marcas diferentes”, bem como do “desafio constante de querer entregar o melhor evento possível ao nosso cliente ‑ que tudo corra bem e que o cliente não tenha preocupações com nada!”. Por aqui passa também a grande motivação, “fazer sempre coisas diferentes”, com pessoas e marcas distintas. Além disso, “adoro o solucionar Next >