< PreviousIvo Oliveira gostaria que essas pessoas “fossem mais prestáveis” e diz ser “cada vez mais difícil encontrar bons profissionais”. UMA AVENTURA EM LUANDA São muitas as memórias em eventos. E os mais marcantes onde Ivo Oliveira trabalhou foram os festivais Rock In Rio e Meo Sudoeste. Mas há outros, até para lá da fronteira. Um deles aconteceu em Luanda, em Angola; uma “história engraçada” que decorreu num evento corporativo de uma grande marca de retalho, um evento para os funcionários da empresa, onde Ivo Oliveira fazia stage management e produção. Era um espetáculo para crianças realizado por atores, que vestiam fatos muito quentes, recorda, começando assim a enumerar a sequência de momentos inacreditáveis. “Não tivemos eletricidade até uma hora antes do começo do espetáculo e, por isso, nem sequer ensaiamos. Algumas coisas não correram tão bem, maioritariamente questões técnicas.” E explica que, quando, finalmente, regressou a eletricidade e se deu início ao espetáculo, caiu uma chuvada inesperada. “Ficou tudo encharcado, inclusive o material técnico que ficou à chuva, porque os técnicos fugiram para as suas casas como se se tratasse de uma tempestade.” Ivo Oliveira acrescenta que a chuva passou uma hora depois... “Conseguimos fazer apenas uma sessão num palco cheio de poças e com um sistema de som sempre a falhar, porque a mesa de mistura estava encharcada”, conclui o produtor de eventos. Uma memória que vai ficar para sempre guardada. Maria João Leite WWW.EVENTPOINT.PT 60 VIDA DE EVENTOS “NÃO EXISTE NADA QUE ME ALICIE MAIS DO QUE CONHECER NOVAS PESSOAS”MARIANA MORAIS “PAIXÃO POR PORTUGAL” Desde “muito cedo” que Mariana Morais tem contacto com o setor do turismo e o universo que o envolve. “O meu pai trabalha nesta indústria há já vários anos e desde pequena que tive a sorte e a oportunidade de viajar e conhecer o mundo, novas culturas e, consequentemente, conhecer novas pessoas, pelo que desenvolvi um especial interesse na comunicação e relações internacionais”, explica. E este “amor pelo mundo do turismo” fez com que fosse “desenvolvendo competências e orientação para o negócio, inicialmente na vertente da venda e da comunicação”, pelo que, quando concluiu o curso, decidiu seguir esta área. “O mundo dos eventos, da sua gestão e desafios envolvidos nesta dinâmica sempre foram aliciantes para mim e, quando surgiu a oportunidade de poder ‘vender’ o meu país como destino MICE, não tive dúvidas em avançar”, conta Mariana Morais, que é atualmente sales & operations manager MICE & Leisure no Clube Viajar. O que a motiva é a “paixão por Portugal”; é “ter o prazer de o ver crescer com o enorme potencial que tem, seja como um paraíso para férias, seja como um destino perfeitamente preparado para acolher eventos e turismo de negócio”. Para Mariana Morais, “não existe nada que me alicie mais do que conhecer novas pessoas com diferentes aéreas de negócio, mesmo dentro da indústria do turismo, e com quem podemos trocar ideias e perceber como se adaptam e atualizam face às novas tendências de mercado todos os anos. O amor que tenho pela área comercial e pela sua componente comunicativa, ou até mesmo o facto de poder inspirar os que me rodeiam, sempre foi algo que me cativou. Sem dúvida que o que mais me motiva no meu trabalho é conseguir transmitir aos meus clientes não só a minha WWW.EVENTPOINT.PT 62 VIDA DE EVENTOS dedicação, mas também o entusiasmo por esta área e fazê‑los perceber o enorme potencial que Portugal tem antes mesmo de o visitarem”. E há várias coisas de que gosta na área dos eventos. Mariana Morais lembra que “o que move a área dos eventos são as pessoas, daí as ações presenciais, as vendas one‑to‑one e as relações que criamos e que ditam o futuro desta área, serem absolutamente essenciais”. Destaca também “a versatilidade e originalidade com que se pode criar um programa, o ultrapassar eventuais obstáculos que surgem durante todo o processo, o desafio de fazer mais e melhor e de nos conseguirmos superar, é definitivamente o melhor que levo da área dos eventos”. Por outro lado, do que gosta menos nesta atividade são “os deadlines/ tempo de resposta e o stress que daí advém”, sustentando serem “o pior inimigo quando queremos apresentar a melhor proposta possível e ao mesmo tempo a mais criativa mas o tempo não nos permite, e neste aspeto penso que falo em nome da maior parte dos colegas do trade. Somos third parties num mundo de clientes e fornecedores, com imprevistos e riscos ‑ muitos deles de força maior ‑ que nem sempre conseguimos controlar ou contornar e que goram tanto as nossas expectativas como as dos clientes. Quem trabalha com gestão de eventos, por norma, ambiciona idealizar um programa perfeito e conseguir controlar tudo ‑ quando tal não acontece, e principalmente quando se deve a motivos alheios à nossa vontade, a sensação de frustração é enorme”. “TODOS OS EVENTOS ACABAM POR SER MEMORÁVEIS” Para encontrar aquela que é, talvez, a memória mais marcante no seu percurso, Mariana Morais recua a 2016, ano em que trabalhava no Porto Convention Bureau. Com Mariana Sousa, coorganizou a sua primeira Fam Trip multimercados, na qual participaram 45 convidados; a iniciativa “incluiu o primeiro workshop de one‑to‑one meetings entre buyers e associados”, recorda. “É uma memória muito boa, por ter sido o primeiro grande programa/pequeno incentivo que tive de gerir durante todo o processo e in loco. Foi um sucesso e ainda hoje mantenho contacto com esses clientes.”Para Mariana Morais, quando o sucesso é “notório” e o feedback do cliente transmite isso mesmo, “todos os eventos acabam por ser memoráveis”, defende. Ainda assim, destaca um dos eventos mais marcantes e desafiantes, a conferência Vertex, no Centro de Congressos da Alfândega, “pela sua dimensão (quase 1.500 pessoas) e pela logística e serviços envolvidos, já que foi o primeiro grande evento a nível digital e de live streaming que organizei”. Quando desafiada a contar um momento em que as coisas poderiam não ter corrido tão bem ou como planeado, Mariana Morais lembra um dos episódio mais stressantes que experienciou. Estava com uma cliente do Reino Unido em visita de inspeção final para um evento, um jantar de gala, na noite seguinte. “Fomos visitar o venue que tinha sido selecionado pela cliente pela sua escadaria e, quando chegámos ao local, deparamo‑nos com a dita em obras, coberta de andaimes e com um cheiro insuportável a tinta. Fez‑se o possível e o impossível para decorar o espaço como se as obras fizessem parte do plano e, felizmente, dentro do pior tudo acabou por correr bem. Mas ainda hoje sinto um aperto quando me recordo...” E depois também há eventos onde não falta a boa disposição. E, neste contexto, Mariana Morais confessa sentir que todos os seus colegas do trade têm alguma história caricata ou hilariante consigo ou que a inclui... Como exemplo conta um episódio ocorrido no primeiro Capítulo Ibérico da ICCA em que participou, em Marbella. “Estávamos no cocktail dinatoire de abertura do evento e a aproveitar para fazer networking, quando, de repente, as pessoas com quem estava a falar começam a dizer que cheirava bastante a queimado. Olho para o chão e vejo fumo a sair dos meus sapatos... Estavam a arder! Resumindo: o venue tinha uns focos de luz no chão (pelos vistos, bem fortes) e como as minhas solas eram de borracha acabaram por derreter”, relata, concluindo: “Claro que fui a única ‘incendiada” do grupo, não me chamasse eu Mariana Morais!” Maria João Leite WWW.EVENTPOINT.PT 64 VIDA DE EVENTOS “GOSTO DE CHEGAR E SENTIR O NERVOSISMO QUE ANTECEDE O EVENTO”JOÃO VASCO “NÃO HÁ DIAS IGUAIS E ISSO TORNA TUDO MAIS INTERESSANTE EM TERMOS DE CRIATIVIDADE” Nem sempre João Vasco esteve ligado à indústria dos eventos. Ser fotógrafo não passava de ‘hobby’, para o qual aprofundou conhecimentos com um curso pós-laboral, e era no setor bancário, vestido de fato e gravata, que pensava estar o seu futuro. Mas, há cerca de uma década, quando o banco onde trabalhava fechou, decidiu aproveitar os conhecimentos de fotografia e tentar descobrir se o seu olhar surpreendia. E os feedbacks não foram de todo negativos, o que deu motivação extra para continuar, conta João Vasco. “Passados dois meses de ter saído do banco, comecei a trabalhar na empresa smiletogether, onde permaneço até hoje; uma empresa pequena, mas com a dimensão do mundo em ideias”, que fornece vários serviços para eventos e que conta com um serviço de fotografia e vídeo também muito direcionado para o setor. “Sou responsável por este departamento, do qual tenho um orgulho imenso.” Na área dos eventos, “aquilo que mais me motiva é, sem dúvida, o storytelling daquele dia, ou daquelas horas. Gosto que as pessoas olhem para as fotografias WWW.EVENTPOINT.PT 66 VIDA DE EVENTOS e sintam o evento num todo, do início ao fim do mesmo, principalmente quem não esteve presente no dia e não conseguiu acompanhar”. João Vasco tem um cliente e amigo que lhe diz, muitas vezes, que as suas fotografias “conseguem ser mais do que aquilo que o evento foi na realidade” e o fotógrafo revela que ouvir isso “é muito motivador para continuar a fazer mais, melhor e, acima de tudo, diferente; e é nessa diferença que está a nossa identidade”. Do que mais gosta nesta atividade é “a surpresa do evento em si”. E explica: “Todos os eventos são diferentes, em tamanho, em espaço, em quantidade de pessoas, em localização, decoração, meios técnicos, oradores, etc., e muitas vezes, salvo exceções, só vejo o espaço no dia. Gosto de chegar e sentir o nervosismo que antecede o evento e, acima de tudo, ser surpreendido. Nesta área não há dias iguais e isso torna tudo mais interessante em termos de criatividade.” E tendo de destacar algo menos positivo, João Vasco indica o desgaste físico; as vezes em que, no final de um evento, o corpo pede para abrandar. “O peso das máquinas, lentes, flashes, baterias, é sempre um fator a ter em conta para quem anda quilómetros em eventos. E, se queremos planos diferentes, não vamos conseguir tê‑los se ficarmos no mesmo lugar. Por isso, será esta a parte menos glamorosa do meu trabalho.” “NÓS SOMOS PESSOAS DE AFETOS E ISSO NÃO SE PODE PERDER...” No capítulo dos eventos marcantes, João Vasco destaca dois: os Encontros EDP, evento organizado pela Desafio Global, que decorreu na Altice Arena em fevereiro de 2020, e o Velo‑city, organizado pela GR8.Events, em setembro do ano passado, em Lisboa. Do primeiro, diz ter sido “um evento de uma ambição enorme e com um resultado visual sem precedentes em Portugal”, lembrando o enorme túnel de 180º e as projeções 3D nos leds ao redor. “Visualmente, era fascinante ver 6.000 convidados sentados a olhar para o teto e paredes laterais com animações a passarem de um lado para o outro e a perguntar: ‘isto está mesmo a acontecer?’. E o melhor de tudo é que estava...”Do segundo, já durante a pandemia, numa altura “em que o digital era a tendência” e em que nos estúdios “o verde chroma era rei e senhor”, João Vasco recorda que a conferência mundial sobre mobilidade em bicicleta “veio quebrar um bocadinho esta tendência”, trazendo um pouco “da normalidade do passado”. Foi um evento com várias conferências ao mesmo tempo, onde os participantes ouviam a sessão escolhida nos auscultadores. “Estava um silêncio absoluto; gostei muito desta sensação”, frisa, revelando ter‑se sentido, algumas vezes, emocionado durante este trabalho. “Foi um longo e penoso caminho até conseguirmos estar outra vez num evento com pessoas, em que se sente aquele ambiente de partilha, de sorrisos e de emoções, porque, afinal, nós somos pessoas de afetos e isso não se pode perder...” Com tantos anos de eventos, é sempre difícil destacar alguns momentos, embora se somem as boas histórias. João Vasco recorda uma experiência, no primeiro ano da Web Summit em Portugal. “Estava a trabalhar dentro do evento para a BMW, quando me pediram para ir fotografar o Paddy Cosgrave num dos automóveis em destaque na altura, um i8, daqueles que não passam despercebidos nem aos mais distraídos.” A ideia era acompanhar o fundador do evento até ao Palácio de Belém, em hora de ponta, num percurso que João Vasco imaginava longo... “Saímos da Altice Arena com muita calma, com dois batedores da GNR na frente da pequena comitiva de dois carros. A minha função seria fotografar o carro em andamento durante o percurso e, se possível, apanhar o Paddy a dizer adeus. E em segundos, as filas apareceram, um trânsito impressionante... Num ápice, os batedores acenderam as sirenes e começaram a abrir uma passagem que mais parecia uma estrada vazia; não havia sinais encarnados, nem prioridades nas rotundas ou cruzamentos. Entrámos na segunda circular parada, com os condutores dos automóveis furiosos a buzinar (e eu até entendo), mas a verdade WWW.EVENTPOINT.PT 68 VIDA DE EVENTOS é que a emoção era muita e experienciar isto uma vez na vida valia muito a pena”, conta João Vasco, elogiando o trabalho dos batedores da GNR, que os levaram ao destino em 15 minutos. “Ah, e as fotografias também ficaram boas...” Nesta quantidade de episódios memoráveis há também aqueles em que se apanham grandes sustos. João Vasco lembra um, que lhe serviu de lição. “Fui fotografar um evento de manhã, que terminou ao princípio da tarde. Normalmente, vou direto ao escritório, descarrego os cartões e sigo a minha vida. Se editar o trabalho logo é o procedimento a fazer; se isso não acontecer tenho o trabalho todo em discos e pego nele quando for oportuno.” Mas nesse dia, o fotógrafo tinha ido trabalhar de mota e, aproveitando o dia de sol e o facto de ter a máquina consigo, decidiu visitar umas falésias na zona oeste. “Quando lá cheguei, montei o set todo. Mochila no chão, bolsa dos cartões da máquina no chão (com o trabalho da manhã). Fotografei até não haver luz, já escuro, de sorriso no rosto. Arrumo tudo e vou para casa...” No dia seguinte, ao chegar ao escritório, repara que não tem a bolsa dos cartões. Depois do pânico inicial, lembrou‑se do episódio da falésia, situada a 60 quilómetros de Lisboa. “Cheguei e a falésia parecia toda igual e da mesma cor.” Surgiram as dúvidas do local certo, as pernas tremiam... João Vasco já só queria o trabalho realizado no evento e, depois de muito procurar, a bolsa dos cartões foi encontrada. “Foi um alívio enorme naquele momento e a sorte esteve do meu lado. Há lições que aprendemos da melhor maneira e esta foi uma delas”, sublinha. Maria João LeiteNext >