< Previousvalores também, sermos uma nação aberta, inclusiva, por aí fora. Obviamente há muita coisa para mudar dentro do setor, socialmente e ambientalmente. Não tenho dúvidas. Há belíssimos exemplos, mas há muita coisa para mudar. Sentem recetividade a essa mudança? Uma enorme recetividade. Quando falamos de sustentabilidade há muita ligação ao ambiental, ao planeta, e às vezes esquecemo‑nos da componente da sociedade, da igualdade de género, de nos preocuparmos com os nossos colaboradores, e com quem está dentro de casa, tanto quanto nos preocupamos com um turista. De nos preocuparmos com a comunidade onde estamos inseridos, de que quando fazemos qualquer coisa de novo, seja um hotel, um restaurante, ou uma atividade, tem algum efeito positivo na comunidade… Acho que temos muito mais a preocupação do ambiental, até porque é o que nos dá visibilidade. Curiosamente, é aquilo que as mais pessoas mais acham que o outro reconhece. E também por uma questão de tradição: há quantos anos vemos a chapinha no quarto a dizer: ‘Se quiser que troquemos as toalhas, por favor vire ao contrário’? Lançámos a Academia Digital durante a pandemia, com mais de 170 mil inscritos. E os cursos que têm mais inscritos são os da sustentabilidade ‑ o marketing digital também ‑, mas há uma enorme procura. As pessoas querem saber o que é que podem fazer, como é que podem medir, como é que podem melhorar. E, finalmente, como é que podem ganhar alguma coisa com aquilo que estão a fazer. Obviamente já ganham porque estão a ser positivos para o planeta e para a sociedade, mas o que é podem fazer mais no fim da linha, que é a componente da promoção e da comunicação? O programa 360 é um exemplo disso. O facto de termos as 50 maiores empresas, e agora queremos alargar e queremos ter muitas mais, que representam quase 20 mil trabalhadores e dois mil milhões de euros de receita, é um exemplo de como há esta preocupação. Até porque, se não houver… Por que é que incluímos © António Camilo WWW.EVENTPOINT.PT 30 GRANDE ENTREVISTA a banca, a Ordem dos Contabilistas e a Euronext como fundadores do Portugal 360? São eles que vão ter a cenoura e o pau. Quando um investidor tiver um qualquer projeto, a primeira coisa que lhe vão pedir é: ‘Mostre‑me lá a sua pegada, ambiental e social’. Aliás, nós já há três anos que não apoiamos nenhum projeto que não seja sustentável. Do lado das empresas há uma sensibilidade completamente diferente. Ainda não estamos naquela fase de perfeita harmonia, mas isso tem que ver também com o nosso histórico enquanto sociedade, as tradições, o facto de termos poucas mulheres nas associações… Não há mulheres, quase, quando mais de 55% das pessoas que trabalham no setor são mulheres. Que representatividade é esta? Como é que vamos ser atrativos para jovens mulheres que queiram vir trabalhar para o setor quando quem está à frente das grandes empresas são homens? Podem dizer que são empresas familiares, e que eles é que decidem, mas se não conseguimos mostrar aquilo que dizemos que somos dificilmente vamos convencer as pessoas a virem para este lado. Há aqui um trabalho ainda a fazer.Setor MI: “Podemos ir um bocadinho mais além” Que balanço faz da decisão de criar uma equipa interna dedicada à Meetings Industry? Apesar de não haver dados oficiais, reconhecemos o valor do setor, que é importantíssimo numa ótica de experiência, de diversificação da procura, de preenchimento de lacunas, não só de tempo, mas também de espaço: redução de sazonalidade, distribuição pelo território… Acho que tem sido um trabalho muito feito em ligação com todas as áreas do Turismo de Portugal. Não é só um trabalho de promoção, como muitas pessoas pensam, tem sido um trabalho muito ligado com a área de investimento, com a área da formação, da promoção, do desenvolvimento da oferta… Acho que temos colhido alguns frutos desse trabalho, e o Portugal Events é um bom exemplo. O Fundo de Captação de Congressos também ‑ temos cerca de 350 congressos que ao longo destes anos foram captados com o apoio do Turismo de Portugal, para todo o território. Agora, acho que estamos numa fase de mudança ‑ e eu sei que é difícil, depois de dois anos de grande luta, estar a pedir isso ‑, e precisamos de responder de maneira diferente, antecipar aquilo que os clientes querem. Mas eu acho que WWW.EVENTPOINT.PT 32 GRANDE ENTREVISTA estamos tão bem posicionados ‑ basta olhar para os recentes rankings da ICCA: o país em sexto na Europa, sétimo no mundo, Lisboa em segundo lugar, o Porto a subir uma quantidade de posições ‑, que podemos ir um bocadinho mais além. E isto tem a ver muito com aquilo que o setor quer, e com a velocidade que quer imprimir à mudança e à adaptação para os novos clientes e os novos mercados. É uma situação cruel, porque há muita incerteza, ainda, muita indefinição. O que dantes eram os problemas da covid agora são os problemas dos aeroportos. Ainda na semana passada estávamos a falar, numa reunião da European Travel Comission, justamente desse tema: como é que se cria confiança dentro das grandes empresas para mandarem 500 trabalhadores para ficarem cinco dias por lá porque o aeroporto não funciona, ou a companhia aérea reduziu os voos… mas também é nestas alturas que podemos lançar o isco, em colaboração com outras áreas. Por exemplo, a componente da formação. Acredito que há aqui um gancho enorme entre toda a área de formação de recursos com a componente de MICE, permitindo que as pessoas fiquem mais tempo, em parcerias com as universidades, com escolas profissionais, com workshops… Dar qualquer coisa mais para quem organiza um evento em Portugal, para quem quer fazer uma ação com os seus colaboradores, através de outras parcerias, é muito importante. © António Camilo Da mesma maneira que é importante estimularmos todos estes produtos novos, como o turismo literário, a arte contemporânea, a arquitetura, e por aí fora, que deviam ser incorporados também no trabalho de qualquer empresa organizadora de eventos. Porque é uma maneira diferente de criar valor para quem vem. As pessoas querem muito mais, mas de uma maneira diferente. Sim, é mais tecnologia, é mais serviço, mas querem de uma maneira completamente diferente, mais autêntica. E temos que ganhar esta confiança de vendermos tudo isto de uma maneira completamente diferente, e com mais valor acrescentado para essas empresas. Claramente, é uma questão de juntar as peças. Que tipo de eventos queremos atrair para o país? Essa é uma ótima pergunta! Temos que conseguir atrair eventos, não só pelo resultado imediato, as dormidas, as refeições, o passeio, o palco, o técnico, mas que acrescentem também qualquer coisa ao nosso país, ou que deem visibilidade ao nosso país de uma maneira diferente, que nos posicionem de uma maneira diferente, não só pelas experiências que as pessoas que vêm recebem, mas porque nós, de facto, conseguimos dar qualquer coisa de volta. Temos que caminhar para esses eventos. Isso implica sermos capazes de ajudar o cliente nesse exercício... Somos nós que temos que dar isso, levar o cliente para um outro nível, superior, que tem a ver com tudo aquilo de que temos estado a falar: o respeito pelo planeta, pela sociedade, pela autenticidade do que nós temos. Não pode ser uma coisa do toca e foge: posso fazer aqui porque tem um bom clima, e a comida é boa e eu divirto‑me, mas temos que ser capazes de dar mais qualquer coisa. Do nosso lado, estamos muito bem preparados para dar esta resposta. Há uns meses, falámos da constituição de um conselho para a área dos eventos, mas a velocidade com WWW.EVENTPOINT.PT 34 GRANDE ENTREVISTA que estamos a voltar ao ativo, não diria que nos faz esquecer, não nos permite dar a atenção que gostaríamos a certos assuntos. E este é um tema que para nós é prioritário, que é perceber, tanto do lado da procura como do lado da oferta, mas sobretudo do lado da procura, como é que nos conseguimos posicionar para trazer os melhores eventos. E os melhores não são aqueles que ficam mais noites, são aqueles que trazem qualquer coisa de valor acrescentado, e em que nós sentimos também que conseguimos passar uma imagem do país que temos estado a construir. Que balanço faz do Portugal Events? Faço um balanço positivo. Tivemos mais de 70 candidaturas, mas, mais uma vez, não podemos olhar para o Portugal Events só como uma fonte de financiamento, puro e duro. Estamos muito focados na componente da comunicação, porque também é isso que nos interessa: mostrar Portugal para captar eventos. Percebo que depois destes dois anos os apoios sejam necessário, mas, como em tudo na vida, temos que evoluir e adaptar‑nos. A verba que foi inicialmente atribuída, cinco milhões de euros, não foi suficiente para responder a todas as candidaturas, mas o dinheiro não estica. A nova edição, e acredito que haverá nova edição, vai ter que ter esta preocupação: ajudar a captar os eventos que sejam os melhores para o nosso país. © António Camilo O transporte aéreo está a enfrentar problemas sérios, com voos cancelados, aeroportos paralisados. Como é que se pode ultrapassar tudo isto? Estes desafios ultrapassam‑se, mais uma vez, com pessoas. O problema é nós acreditarmos que as coisas, em qualquer área, se resolvem sem pessoas. Na componente da aviação as pessoas são importantes, principalmente numa fase em que as restrições às viagens estão a cair ‑ e aí temos as mesmas questões que em qualquer outra área do turismo: salários, planos de carreira, formação ‑, mas é, também, uma questão de tecnologia. E tenho quase a certeza de que aqui tem que haver mudanças, e de modo muito urgente. Não é normal que hoje continuemos a passar no raio X de um aeroporto e tenhamos que tirar as bolsinhas com as embalagens de 100ml, como fazemos há 20 anos, ou o controlo de passaportes não ser feito através de dados biométricos, ou até a ser feito antes de entrarmos no avião ‑ porque depois dificilmente vamos a algum lado. É uma questão de vontade e de entendermos o que é importante. E, hoje, isso passa por assegurarmos viagens fluídas, que as entradas e saídas de um país não têm que ser um fator de vigilância permanente, mas sim de controlo simplificado e facilitado. É a transição que era precisa para melhorarmos muito daquilo que estamos a ver hoje em dia. Há uma boa notícia, agora, de que vai começar a ser avaliado um novo sistema de vistos temporários para a Europa, mas, por exemplo, os vistos de trabalho, que são uma componente tão importante, têm ficado um bocadinho aquém. © António Camilo WWW.EVENTPOINT.PT 36 GRANDE ENTREVISTA O que pode o TdP fazer mais pela indústria de eventos? Fazer tudo aquilo de que a indústria precise! Essa era a minha ambição! (risos) Temos que conseguir que a indústria aproveite muito mais as oportunidades, mas isso tem que ver com o sermos muito compartimentados, é a hotelaria, é o alojamento local, é a restauração, é a animação turística, são os eventos, e acho que algumas destas áreas já perceberam que o trabalho em rede facilita, e ajuda muito. Não é só a ligação entre nós, é a ligação com os outros. Aquilo que eu disse de irmos buscar as universidades e trabalhar com elas na organização de eventos, e vendermos produto dos dois!, o trabalharmos com áreas de fora, com a indústria, a cultura, e conseguirmos juntar as duas coisas, acrescenta muito mais valor. E acho que estarmos à frente, ter esta competitividade face a outros destinos, começa por aí. Temos que ter a capacidade de baixar um bocadinho as nossas barreiras e criarmos estas sinergias. Esse é o grande objetivo desta casa, estimular estas colaborações e estas parcerias, mas também é preciso que do lado dos eventos haja essa vontade ‑ e eu percebo que estes dois anos, e a velocidade a que se está a recuperar, não deixem margem para grande disponibilidade. Rui Ochôa OITO PERGUNTAS A LUÍS ARAÚJO De que mais se orgulha quando fala de Portugal? Orgulho‑me da resposta da outra pessoa. Cidade para viver? Funchal, por razões óbvias. Restaurante que recomenda sempre aos amigos? O Bar do Peixe, no Meco. Viagem de sonho? Por realizar não tenho nenhuma, mas as boas viagens são sempre com boa companhia. O resto é conversa. O que não pode faltar na sua mala de viagem? As minhas aguarelas. Instagram ou Tik Tok? O que é o Tik Tok? Quem traria a Portugal, se pudesse? Alguém que nunca tivesse visto o mar. Uma figura da História que gostava de convidar para jantar? Adoraria jantar com o Nelson Mandela. É das poucas pessoas que passaram por tudo, e resistiram.UM DOS EVENTOS DO ANO WWW.EVENTPOINT.PT 38 DOSSIÊ TEMÁTICO CONFERÊNCIA DOS OCEANOS: UMA OPERAÇÃO EXIGENTE E COMPLEXA Foi um dos eventos do ano no país até ao momento, em termos de projeção internacional, de exigência e complexidade. A Conferência dos Oceanos decorreu de 27 de junho a 1 de julho, na Altice Arena. Promovida pelas Nações Unidas, com o apoio dos governos de Portugal e Quénia, a Conferência dos Oceanos tinha como objetivo chamar a atenção e apelar para a necessidade de envolver líderes e decisores mundiais na proteção dos oceanos. E isso só é possível mobilizando a comunidade científica, tecnológica, para a criação de soluções inovadoras que revertam o estado atual dos oceanos. No evento, que esteve marcado para 2020, mas que só se realizou este ano devido à situação pandémica, estiveram presentes delegações de 140 países, 25 chefes de Estado e do governo, ministros, 38 agências especializadas e organizações internacionais, quase 1.200 organizações não‑governamentais e outras entidades, mais de 400 empresas e centena e meia de universidades. O número de participantes foi de cerca 7.000. A Altice Arena recebeu os trabalhos da conferência. Uma operação gigante em termos de conectividade e de segurança das redes. Ao todo foram 12 terabytes de tráfego e mais de 47 mil horas de sessões ativas. Isto exigiu a colaboração de mais de 140 técnicos, que garantiram o acesso a redes Wi‑Fi, serviço de televisão, comunicações móveis e fixas (com abrangência nacional e internacional) e duas war rooms. Nestas salas estavam concentrados os especialistas responsáveis pela segurança e qualidade do serviço. Next >