< PreviousPequeno e Super Bock Arena, assim como dono da única empresa de rigging nacional, a Evil Angels”, frisa. Há várias coisas que o motivam: “as pessoas, as viagens e, sobretudo, o não haver monotonia.” Afinal, “todos os eventos são diferentes”. Do que mais gosta nesta atividade é dos “desafios que nos apresentam nos projetos”, enquanto que do que menos gosta é de “falta de organização”, ou, em “bom português”, como diz, o ser “tudo feito em cima do joelho”. Ainda assim, ressalva, “eu até gosto da pressão”. “A RIR QUE NEM UNS PERDIDOS...” No percurso de Joaquim Silva há imensos eventos que guarda na memória. E entre os tantos que podia nomear, mesmo não sendo os melhores, o dono da Evil Angels escolheu como mais marcantes a Eurovisão e os MTV Awards. Há também muitas histórias para contar, até aquelas em que as coisas podiam não ter corrido como planeado, mas em que tudo acaba bem, graças às soluções encontradas, como uma vez, há cerca de uma década, no festival Alive. À última da hora, a equipa teve de “mandar vir duas gruas para suspender o teto do palco principal, pois estava em risco de colapso”. E tudo está bem quando acaba bem. Mas há uma memória relacionada com o seu trabalho, e que já tem alguns anos, que Joaquim Silva destaca. “Eu e o meu amigo e colega Pedro Martins fomos contratados pelo Chapitô para irmos suspender uns acrobatas à Madeira. Era a inauguração do novo shopping Dolce Vita”, começa por contextualizar. “Tínhamos a coisa toda controlada. Ia ser mais ou menos uma semana no Funchal e tínhamos alguns dias de folga pelo meio, que depressa passaram a ser apenas umas horas. Ou seja, já tínhamos os nossos aparatos todos montados e o dono da empresa de audiovisuais vem ter connosco e pergunta‑nos se nós podíamos suspender uns ecrãs de projeção, pois os riggers que tinham contratado não conseguiam fazer o trabalho. Nós olhamos para aquilo e não era realmente fácil, mas não era nada que nós não fizéssemos. Levaria, no mínimo, um dia a fazê‑lo. Dissemos que fazíamos por um preço mais elevado, dada a dificuldade e porque íamos estragar os nossos dias de folga…” WWW.EVENTPOINT.PT 50 VIDA DE EVENTOS O dono da empresa de audiovisuais aceitou o acordo e assim aconteceu. “Depois de várias peripécias e de um dia de trabalho, chegamos cá abaixo e diz o dito senhor: ‘A cliente não gosta da cor dos ecrãs, temos que mudar’. Nós olhamos novamente um para o outro e dissemos que precisávamos de mais um dia e do dobro do dinheiro. E assim foi. Passados dois dias tínhamos os ecrãs montados, mas apenas nos restaram umas horas para passearmos pela ilha.” Esse mesmo evento no Funchal deixou uma outra marca e Joaquim Silva recorda um momento hilariante, que garantiu algumas gargalhadas. O acesso à cúpula do centro comercial era feito por uns desenfumadores, que abriam e fechavam em 30 segundos, explica. “Ora, estivemos ali à espera e a cronometrar até que decidimos entrar. E entramos, ou tentamos. Pelo menos, eu tentei. O Pedro conseguiu entrar, mas eu não, ou seja, fiquei preso pela barriga”, conta. “Entretanto, o Pedro estava do lado de dentro, entre o riso e o pânico de me tentar ajudar. Como eu, que não me consegui soltar, pois continuávamos a rir que nem uns perdidos. Foram uns segundos super engraçados. Já dentro, e em cima das vigas, estivemos para aí 30 minutos a rir que nem uns perdidos”, conclui. Maria João Leite“HISTÓRIAS SUFICIENTES PARA ESCREVER UM LIVRO” WWW.EVENTPOINT.PT 52 VIDA DE EVENTOS JORGE MATIAS UMA VIDA “QUE SE ADORA OU ODEIA... EU FIQUEI APAIXONADO” Jorge Matias é técnico responsável na Upalco, empresa que aluga e monta palcos e estruturas, e soma anos de experiência na área dos eventos. Uma vida pela qual se apaixonou há cerca de 30 anos. Chegou a esta área “de uma forma muito simples”. E explica: “Em 1992, estava na Força Aérea como militar em regime de contrato e tinha necessidade de ter um trabalho extra. Chegou ao meu conhecimento que um companheiro de armas estava a tentar criar uma equipa de stage hands para trabalhar em eventos. E assim, com essa primeira experiência, começou a paixão por esta vida que se adora ou odeia… Eu fiquei apaixonado.” Passados tantos anos, há vários fatores que ainda o motivam. “O facto de todos os dias serem diferentes, o que faz com que não sinta a monotonia de um trabalho comum; também o superar os desafios que, por vezes, alguns trabalhos apresentam; e a qualidade que exigimos de nós enquanto empresa, que, por sua vez, aplicamos em todos os nossos trabalhos”, sustenta. Essa diversidade do dia a dia é, efetivamente, uma das coisas de que mais gosta nesta atividade. Disso e da “sensação de gratificação ao começar um projeto de raiz e ver, após um período de tempo, todo o trabalho investido ser compensado ao testemunhar o resultado final”. No sentido contrário, do que menos gosta é da “desonestidade e falta de respeito de algumas empresas e pessoas”. E remata: “Infelizmente, somos a parte não visível do glamour que muitas vezes fica esquecida, mas sem as nossas e outras equipas nada se conseguia.” “THE SHOW MUST GO ON” São vários os eventos marcantes, pois, “felizmente, tive a sorte de participar e ajudar a realizar eventos de grande complexidade”. Mas na necessidade de destacar algum, Jorge Matias lembra o Festival da Eurovisão, que decorreu na Altice Arena, e ainda o evento mais recente que realizou, a Conferência dos Oceanos da ONU, também no mesmo espaço. Tantos anos a trabalhar em eventos acumulam‑se em memórias e histórias atrás de histórias. “Memórias tenho de todos aqueles que já colaboraram connosco, que ajudaram e que ajudam a percorrer este caminho que, muitas vezes, pode ser penoso e difícil. Tenho histórias suficientes para um livro”, refere, partilhando algumas com a Event Point. Um momento “breve e engraçado” aconteceu durante um concerto dos AC/ DC no Estádio do Restelo, há alguns anos. “Ao entrarmos em palco para executar a mudança da banda de apoio, começou a chover torrencialmente. De repente, começamos a ouvir um burburinho diferente, que nos fez a todos olhar para trás. E, para nossa surpresa, o público aparentava ter desaparecido. No entanto, ao examinarmos com mais atenção, percebemos que, na verdade, eles tinham era levantado as alcatifas que cobriam o relvado para usá‑las como abrigo ‑ daí a ilusão de desaparecimento”, conta. Um outro momento hilariante teve lugar no Campo Pequeno, durante um espetáculo de um cantor, há uns anos. No alinhamento, havia um momento especial planeado, em que entraria em palco uma convidada, para se juntar e cantar também uma música. “Esta aparição seria executada através de um alçapão, numa passerelle que saía do palco. Tudo elaborado e sincronizado”, frisa. “Ao chegar a altura, é‑nos dada ordem para abrir a passagem e, nesse preciso momento, a bailarina que executava uma coreografia graciosa em volta do cantor (que, por sinal, não era a mesma que WWW.EVENTPOINT.PT 54 VIDA DE EVENTOS estaria prevista para aquele momento), não sabendo da abertura, foi apanhada de surpresa, caindo direitinha no colo de um dos nossos colaboradores. Este, chocado com o imprevisto, só conseguia repetir: ‘Eu fiz o que me mandaram! Eu fiz o que me mandaram!’ O público solta um ‘UAU’, pois no momento em que a bela rapariga desaparece surge então a convidada, que começa a cantar.” E é nessa altura que, ao ver o que aconteceu, a emergência médica avança para o local. Mas é barrada à chegada pelo segurança, que lhes diz: ‘É mesmo assim! Eles andaram a ensaiar nos últimos dias’. “Claro que o mesmo disse isto sem nunca ter percebido o que realmente aconteceu. E é assim, ‘the show must go on’.” Uma das coisas pelas quais Jorge Matias sente muito orgulho neste trabalho é o facto de nunca terem sido os responsáveis pelo atraso de um evento. No entanto, recorda um momento em que as coisas podiam não ter corrido como planeado. A situação aconteceu na montagem de um palco orbital de 21 metros, em Portimão, para uma festa de Fim de Ano. “Nessa altura, segundo o Comandante dos Bombeiros de Portimão, fez o maior temporal desde os últimos 20 anos, o que nos causou bastantes dificuldades. A grua que nos dava apoio na montagem foi embora mal começou a trovejar; montamos a restante cobertura com uma plataforma elevatória ‑ isto sempre com chuva torrencial; as micas da cobertura encolheram com o frio e não conseguíamos aplicá‑las… No meio de todo este caos, o produtor do evento estava apenas preocupado com o detalhe do palco ainda não ter saia, o que não ajudou a levantar o espírito da equipa. Quando chegou a empresa de som e luz, eles começaram logo a montar e nós ainda estávamos a tentar colocar as micas…”, enumera. “Mas, mesmo com todos estes contratempos, mesmo quando tudo parecia perdido, no final, o espetáculo começou a horas, sem mais percalços. E, no dia da desmontagem, para contrariar, estava um sol esplendoroso e o céu completamente limpo”, conclui. Maria João Leite WWW.EVENTPOINT.PT 56 VIDA DE EVENTOS “NÓS VENDEMOS SONHOS”PATRÍCIA TELO DA GAMA “AQUILO QUE MAIS ME MOTIVA É VER O RESULTADO FINAL DE UM EVENTO” Patrícia Telo da Gama é sócia-gerente da Food Events Network. Da Economia aos eventos, desde logo se apaixonou por esta área. Nos eventos, costuma dizer, “não vendemos catering, nós vendemos sonhos”. primeiro dia que fiquei apaixonada por esta área dinâmica e nada rotineira, muito mais do que a Economia, que não tinha nada a ver comigo!” Durante uns anos, apenas realizou eventos, contratando para trabalhar consigo algumas empresas de catering. “Tudo corria bem, até que comecei a perceber que, quando realizava grandes eventos, com bons orçamentos, todos os fornecedores estavam disponíveis para Patrícia Telo da Gama vem de uma família alentejana “muito tradicional”. Foi educada pela avó e foi a matriarca da família que decidiu que iria para Lisboa estudar Economia. “Como sempre fui muito independente e casei muito nova, como mandava a tradição alentejana, comecei a fazer alguns trabalhos como hospedeira de eventos para não depender financeiramente de ninguém, nem da família, nem do marido”, conta, sublinhando: “Desde o mim, mas, quando tinha necessidade de caterings mais pequenos ou com menos budget, fechavam as portas e não estavam interessados em ir a jogo comigo. Na altura, não havia muitas soluções de catering em Portugal. E, assim, um dia comecei a fazer os meus próprios cocktails e alguns almoços e jantares para poucas pessoas. A partir daí, com algum receio associado, mas, com muita motivação, chegámos onde estamos hoje”, explica a sócia‑ gerente da Food Events Network. Esta vida agitada dos eventos foi o trajeto escolhido e Patrícia Telo da Gama gosta da adrenalina e dos desafios que vão surgindo no caminho. Contudo, ninguém está preparado para certos obstáculos, como os dos últimos dois anos… E se não bastasse uma pandemia, que afetou toda a indústria, Patrícia viu‑se a braços com um problema de saúde, que abalou a sua vida. Mas, agora, ultrapassado o pior, sente‑se agradecida, tranquila, feliz, e com energia para trabalhar, como constata o regresso em força aos eventos nestes últimos meses. “ADORO DESAFIOS, ADORO FAZER COISAS DIFERENTES” No capítulo das coisas que a motivam, Patrícia Telo da Gama diz que poderia começar pelo dinheiro ‑ “que nos faz falta a todos para viver” ‑, mas essa nunca foi a sua principal motivação. “Aquilo que mais me motiva é ver o resultado final de um evento. Felizmente, temos efetuado todo o tipo de eventos. Grandes, pequenos, uns que começam a ser organizados com muito tempo de antecedência, outros sem qualquer tempo de planeamento. Alguns clientes também recorrem a nós e solicitam‑nos ajuda em múltiplas áreas desse mesmo evento, não somente no catering.” E, nesse sentido, refere muitas vezes: “Não vendemos catering, nós vendemos sonhos.” “Todos os eventos são um desafio”, lembra e, resumindo, adianta “a minha maior motivação é chegar ao fim de um evento e sentir que o resultado final foi de satisfação total; a alegria do cliente, a alegria da minha equipa e a minha satisfação pessoal por termos proporcionado mais um bom momento a algumas pessoas”. WWW.EVENTPOINT.PT 58 VIDA DE EVENTOS Nesta atividade, Patrícia Telo da Gama gosta particularmente “da conceção, do desafio e da adaptação que, muitas vezes, temos necessidade de efetuar em múltiplos eventos.” E acrescenta: “A minha sócia, a minha equipa e alguns clientes têm ideias completamente fora da caixa e depois há necessidade de traduzir isso na comida. Não é nada fácil. Ao início tira‑me horas de sono, mas confesso que adoro! Adoro desafios, adoro fazer coisas diferentes. Confesso que também adoro estar no ‘terreno’” ‑ não como às vezes gostaria, em ambiente social, mas, sim, estar “no meio do ‘furacão’, muitas vezes com um rádio intercomunicador com vários canais, consoante as várias áreas de equipas que tenho no dito evento, e com um telemóvel que constantemente fica sem bateria. A adrenalina de que tudo tem de sair no tempo correto e na perfeição é, sem dúvida, do que mais gosto!” No sentido contrário, não gosta de “não ter vida própria”, de “não ver o marido e os filhos muitas semanas seguidas”, de “não ter uma vida muito saudável” ‑ com a atividade, diz esquecer‑se de fazer algumas refeições, não dormir muitas noites e não conseguir marcar férias com antecedência, por exemplo. “Tenho muita pena de não conseguir conciliar esta área com a família. Os meus amigos também são constantemente postos de parte, mas são opções de vida. A minha foi esta e duvido que algum dia mude.” “TODOS OS EVENTOS SÃO DIFERENTES, TODOS SÃO ESPECIAIS” Patrícia Telo da Gama considera injusto destacar um evento no capítulo dos mais marcantes. “Tive dezenas de eventos marcantes e continuo a ter diariamente. Estamos agora a realizar alguns dos maiores eventos feitos em Portugal e, sinceramente, todos eles deixam a sua marca”, frisa. Mas poderia contar “dezenas de histórias” relacionadas com o seu trabalho. Afinal, “todos os eventos são diferentes, todos são especiais, nunca trabalhei com o ‘chapa 5’. Dizem‑me muitas vezes que não entendem porque fico ansiosa e dedico tanto tempo a eventos que se repetem todos os anos. Supostamente, se correu bem, é só replicar! Mas sou incapaz de fazer isso”, refere. E acrescenta: “Todos os anos tentamos mudar, inovar, acrescentar itens que não existiam, surpreender e fazer um evento Next >