< Previous“Acabamos todos o dia a rir da situação” Simão Silva guarda várias histórias relacionadas com o seu trabalho. Uma das mais marcantes passou‑se num evento que era suposto terminar ao final da tarde, mas que, “devido ao furação ‘Leslie’, se bem me recordo, tivemos de encerrar o evento durante a manhã e fazer uma das desmontagens mais rápidas da nossa vida”. Um outro evento marcante que tem na lembrança reporta‑se a quando começou a migrar para a área dos eventos. Simão Silva foi desafiado a fazer as apresentações, sozinho e perante um auditório com cerca de 500 pessoas. “Falta apenas dizer que tinha 21 aninhos e que nunca tinha ficado numa sala tão imponente. Após aquele nervosismo inicial e necessário que nos faz crescer, lá consegui fazer o evento com muito suor”, conta. Em 15 anos de atividade na área, Simão Silva somou muitos momentos hilariantes. “O problema é que não há só um…” Entre tantos episódios, o business unit manager da RXF refere um que aconteceu durante um direto de uma cirurgia de otorrinolaringologia, para um evento que estava a decorrer noutro local, onde estavam os participantes. WWW.EVENTPOINTINTERNATIONAL.COM 60 VIDA DE EVENTOS “A equipa era nova e um dos operadores de câmara não nos tinha dito que era sensível a este tipo de cirurgias e ao sangue. Pouco depois de começar a cirurgia, notamos na realização que uma das câmaras começa lentamente a apontar para o teto da sala do bloco operatório. Entre o caos de tentarmos resolver e comunicar com os restantes operadores, verificámos que o operador daquela câmara tinha desmaiado devido à sua sensibilidade a este tipo de intervenções ao vivo! Depois de alguns minutos lá tivemos de arranjar substituto na equipa e pedir apoio a uma enfermeira do hospital”, relata, acrescentando: “Apesar de ser uma situação aborrecida para o cliente, acabamos todos o dia a rir da situação. Esse operador ainda hoje trabalha connosco, mas deixamos este tipo de projetos com outra equipa.” Sobre aqueles momentos em que as coisas podiam não ter corrido exatamente como planeado, Simão Silva lembra que, “nesta área, costumamos dizer que por muito planeamento que tenhamos e backup de tudo somos sempre ‘reféns do equipamento’”. E explica que, “por vezes, podemos ter o maior e mais complexo setup montado e um cabo falha, mas, aqui, a minha opinião é que tudo pode acontecer. Tendo salvaguarda, é resolver a situação o mais rapidamente possível”. Simão Silva conclui dizendo que “até hoje não temos registo de nada grave que tivesse acontecido que não se tenha resolvido até ao início do evento e esperamos que se mantenha assim por muitos mais anos”. Maria João LeiteENCONTRAR PESSOAL TORNOU-SE EXTREMAMENTE DIFÍCIL WWW.EVENTPOINTINTERNATIONAL.COM 62 OPINIÃO PRECISAMOS DE SI! Ao sair da pandemia, a expectativa geral era de que os negócios voltassem aos poucos, permitindo que as equipas dos centros de convenções voltassem a trabalhar de forma controlada. Bem, isso não aconteceu. Com a aceleração do tipo Tesla, as agendas foram preenchidas com eventos, deixando pouco espaço para respirar e colocando cada vez mais pressão sobre as equipas. Num cenário onde é difícil encontrar pessoal, isso traz desafios específicos. No dia 22 de julho, o GL Events Group apresentou os resultados do primeiro semestre. Com mais de 50 venues em todo o mundo, os resultados podem ser considerados como um bom indicador do que está a acontecer nos centros de convenções. Os resultados foram impressionantes: os níveis de receita do segundo trimestre de 2022 superam os períodos homólogos em 2018 e 2019 e aumentaram 150% em relação a 2021. Em termos de número de eventos organizados, a GL está nos 87% face a 2019. Nem todos os tipos de eventos estão a recuperar da mesma forma. Enquanto os eventos corporativos estão em alta, os congressos e exposições internacionais estão um pouco atrasados. Geograficamente, a China não apresenta os mesmos sinais de recuperação que as demais regiões. Mas isto claramente não é uma recuperação gradual – é um grande salto. Outros grandes saltos podem ser vistos no mercado de trabalho. Os números de agosto do Bureau of Labor Statistics dos Estados Unidos confirmam que a ‘grande demissão’ (great resignation) ainda está em andamento no setor do lazer e hospitalidade: 9% (1,3 milhão de pessoas) da força de trabalho mudou de emprego. E olhando para os perfis com maior risco de sair: pessoas com 5 a 10 anos de empresa e as mulheres a desistir numa taxa mais alta. Encontrar pessoal tornou‑se extremamente difícil. Sessenta por cento dos membros da AIPC dizem que recrutar e reter funcionários adequados é extremamente/muito desafiador – e é mais difícil encontrar gestores de nível médio. 56% dos membros lançaram iniciativas especiais de recursos humanos para atrair funcionários. Este contraste entre a elevada procura do mercado e a perda/ falta de pessoal faz com que alguns centros de convenções tenham, simplesmente, de recusar negócios, quer por falta de disponibilidade, mas também porque a falta de pessoal não permite cumprir os níveis de serviço requeridos. Infelizmente, não existe uma solução mágica para este desafio. Além disso, a indústria de eventos não é a única que enfrenta falta de pessoal e dificuldades para reter talentos. No entanto, a indústria de eventos oferece uma série de vantagens que são importantes para uma WWW.EVENTPOINTINTERNATIONAL.COM 64 OPINIÃO nova geração de profissionais. Quando perguntados sobre o que os faria deixar o emprego, a Geração Z e os Millennials não dão o salário como razão principal. Em vez disso, os seguintes aspetos estão no top 5 (ao lado do equilíbrio entre vida profissional e pessoal e risco de esgotamento): falta de propósito, falta de desafio e falta de oportunidades de aprendizagem. Essas são tipicamente coisas em que a indústria de eventos é realmente ótima. Pessoalmente, acredito que o mesmo nível de esforço que foi colocado no que diz respeito à sustentabilidade na indústria de eventos – via a Zero Carbon Events Initiative – deve ser colocado agora para tornar a nossa indústria atrativa para os futuros talentos. Especialmente porque precisaremos desses talentos para alcançar as nossas ambições quando se trata de sustentabilidade, integração de novas tecnologias ou entrega de experiências aos delegados. Definitivamente algo para discutir durante os próximos eventos da indústria. Sven Bossu CEO da AIPC2023: UM ANO DE DESAFIOS E INCERTEZAS Chegados ao final de 2022, o cenário de incerteza é uma realidade que veio para ficar. Estamos perante uma nova realidade mundial. Este novo ciclo iniciou-se com a pandemia e foi reforçado com a guerra na Ucrânia. O mundo está em mudança, novos alinhamentos geoestratégicos estão a ocorrer criando um contexto de ainda maior incerteza. Perante esta situação, como vai reagir o setor do turismo, as suas empresas e clientes? Os empresários estão atentos e têm feito um esforço de mudança e ajuste às novas realidades, procurando rentabilizar os seus programas, de acordo com as dificuldades logísticas, o aumento exponencial dos custos, sem perder a aposta na qualidade e na sustentabilidade. No atual contexto sociopolítico é muito importante juntar sinergias e ter a capacidade de continuar a operar competitivamente. Este caminho não tem sido fácil, mas é mais uma prova de resiliência dos empresários do setor dos Congressos/ Eventos e da Animação Turística. WWW.EVENTPOINTINTERNATIONAL.COM 66 ESPAÇO APECATE Para melhorar ainda mais a capacidade operacional, a qualidade e sustentabilidade do setor, há muito que a APECATE trabalha para que as instituições do Estado e o governo alterem o seu comportamento e sejam mais eficazes no trabalho com os empresários. Muito se tem evoluído, mas ainda subsistem muitos problemas, barreiras e constrangimentos. O principal, que depois serve de base para a disseminação dos outros problemas, é a mudança de cultura, sair de um modelo de Estado que é autista e que “acha” que sabe tudo, para um mais democrático, em que a sociedade civil, nomeadamente os empresários, participem, desde o princípio até ao fim, nos processos de resolução. Só assim continuaremos competitivos e poderemos ultrapassar as dificuldades do contexto atual. Temos a noção de que aprender a trabalhar em parceria, com transparência, cumprindo prazos e objetivos, não é fácil para um sistema pesado, burocrático, muitas vezes sem meios e centralizado, com uma cultura de não prestar contas do que faz e como faz. É importante não desistir e continuar a lutar, resolvendo as questões que nos afetam, e este tem sido o objetivo da APECATE desde a sua criação. São muitas as áreas em que temos intervindo, desde o quadro legal, ordenamento, formação, promoção, projetos de desenvolvimento, resolução de problemas locais, entre muitas outras, sem esquecer o papel de suporte e apoio durante a pandemia. Todo este cenário torna determinante que os próximos quatro anos sejam de mudança e implementação de nova cultura, que o governo olhe com mais cuidado para este setor e comece a resolver os problemas de fundo (a médio prazo) e alguns problemas de contexto (a curto prazo). A APECATE, como sempre o fez, tem trabalhado na defesa, clarificação e construção destes dois subsetores: o dos Congressos e Eventos e o da Animação Turística. Apesar de terem decorrido mais de seis meses, os nossos objetivos pouco se alteraram, reforçando a necessidade de aumentar a luta na resolução de problemas. Como exemplo de más práticas referimos o extinto Grupo Interministerial de Acompanhamento da Animação Turística, que não cumpriu os seus objetivos, sendo uma das causas o facto de não envolver diretamente a APECATE e outras associações. Esta posição de não envolver diretamente as associações e os empresários, que é transversal a quase todas as instituições do Estado, é o primeiro passo para o insucesso. Esta é uma das lutas da APECATE: aumentar a participação das associações no processo de construção de soluções, colocando as instituições públicas e as autarquias a dialogar com as associações representativas do setor. Em tempo de novo ano com novo orçamento, reafirmamos os nossos objetivos: Curto prazo MEDIDAS FISCAIS IVA ‑ Dedução a 100% do IVA na organização e participação em eventos para as empresas nacionais (atualmente essa dedução é de 50%) ‑ esta medida poderá ser transitória WWW.EVENTPOINTINTERNATIONAL.COM 68 ESPAÇO APECATE em fase de recuperação da crise. ‑ IVA a 6% na inscrição e bilhetes para Eventos e Congressos (à semelhança da cultura). ‑ Redução da taxa de IVA para IVA reduzido (6%) na atividade de Animação Turística, visto que é o único setor do turismo com a taxa máxima (o alojamento, táxis, transportes turísticos com TP, TVDE com 6% e restauração 13%). ‑ Dedução a 100% do IVA nos custos com combustíveis (gasóleo e gasolina) nos setores da Animação Turística que utilizem viaturas e embarcações. Se não para todo o setor, pelo menos para a gasolina verde, à semelhança do Gasóleo verde para os OMT – é mais amigo do ambiente e menos poluente do que o Diesel. IRS ‑ Dedução em sede de IRS de despesas em Animação Turística e Eventos, em equivalência com outras despesas em subsetores do turismo, como a Hotelaria e a Restauração, assim como na Cultura. FORMAÇÃO Para elevar a qualidade do setor, uma das apostas mais fortes é a formação. Neste campo, com a publicação do Decreto Regulamentar que possibilita a Formação Modular Certificada, assim como o RVCC para o nível 5, para os técnicos de Turismo de Natureza e Aventura, foi dado um grande passo e, brevemente, será possível aos empresários e sua equipa técnica terem acesso à certificação (o processo iniciado pela APECATE, com a ANQEP, para ajustar a atual qualificação a estas necessidades está na sua fase final). OUTRAS MEDIDAS ‑ Criação de um registo para o setor dos Congressos e Eventos, no âmbito do Registo Nacional do Turismo, possibilitando a organização do setor, assim como a sua avaliação. ‑ Melhoria e clarificação do diploma da Animação Turística e legislação conexa – É importante atualizar este diploma e expurgá‑lo de itens que são herança do passado (como é o caso de alguns aspetos da atividade marítimo‑turística), assim como rever a legislação para a qual remete (entre outros, os Planos de Ordenamento das Áreas Protegidas e as portarias que fixam as já referidas taxas e taxinhas). ‑ Alteração das Leis do Trabalho ‑ Não adianta ter normas que não são exequíveis por ramos da atividade Next >