< PreviousFalou há pouco da pandemia. Como é que foi lidar com esse período? Péssimo, a todos os níveis. Primeiro, ao nível económico, uma vez que ainda hoje estamos a pagar os empréstimos a que nos submetemos para sobreviver. Felizmente, já nos resta pouco, mas ainda estamos a pagar. Péssimo na gestão emocional e de equipa. Conseguimos manter a equipa toda, mas a gestão humana foi muito má. Tínhamos aqui elencos inteiros que vieram contratados, mas os clientes pararam de pagar. E nós tínhamos que alimentar, tínhamos que pô‑los a viver e a sobreviver. E chegou‑se a um momento onde num quarto viviam duas famílias. Esta foi a realidade da pandemia. Ouvi muita gente a dizer que a pandemia foi ótima, deu para parar, para pensar, para refletir. Claro, quando tens o frigorífico cheio, é uma maravilha. Se o frigorífico estiver vazio, a pandemia é um problema. Para vocês nem os eventos virtuais foram uma hipótese… Não. Houve uma ou outra competição virtual que fizemos. Fizemos a Betclic Breaking Battle, foi uma boa competição, teve um efeito positivo muito forte, mas não chega, é um cliente, é um evento. Esperemos que não volte. Por isso é que eu digo, se o mundo não ficar louco, guerras, pandemias, terremotos, se não nos afetar mais ainda, vejo um futuro muito promissor para a MXM. Mas acho que vivemos numa incerteza constante. WWW.EVENTPOINTINTERNATIONAL.COM 30 GRANDE ENTREVISTA Quando fala de equipa, está a falar de quantas pessoas? No núcleo duro MXM Produção, neste momento, seremos umas 12 pessoas. No núcleo duro da restauração, seremos umas cinco pessoas. Mas temos os elencos permanentes. Neste momento, nos casinos do Algarve, temos 11 pessoas a contrato, como elenco. E temos aquilo que são os nossos artistas core, que trabalham semanalmente, eu diria, com a MXM, mesmo que não a contrato, mas a prestação de serviço, e que estão, neste momento ‑ depende dos meses ‑, entre os 80 e os 120 artistas. Numa noite de Réveillon, chegamos a ter mais de 100 artistas ao mesmo tempo, na mesma noite, distribuídos por vários sítios. O The World Battle O The World Battle 2023 é o evento de uma vida, até agora? Até agora, foi o melhor evento que fiz, sim. Pelo menos, no âmbito de competição, festival, foi o melhor evento que fiz. No âmbito de espetáculo, não. Como é que vê o evento evoluir? Tenho muitas ideias para o próximo ano, mas levantam‑se duas questões que me impossibilitam logo de dar uma resposta clara. Os Jogos Olímpicos vão acontecer exatamente duas a três semanas antes do evento, no próximo ano. O que é que vai acontecer a seguir aos Olímpicos? Ninguém sabe. A minha pergunta é, como vai ser a segunda‑feira a seguir aos Jogos Olímpicos? As pessoas vão perceber que existem super‑heróis. Vão perceber que há miúdos, graúdos, que aparecem ali, com um boné na cabeça, com umas calças e uma t‑shirt, que de um momento para o outro giram sobre a cabeça, giram sobre os cotovelos, giram sobre os ombros, como se nada fosse? Haverá quem não goste, mas muita gente vai gostar. Isto vai despertar muita coisa. Da segunda‑feira a seguir aos Jogos Olímpicos até ao meu evento, vão ser duas ou três semanas. Tudo pode acontecer. Tanto posso ter um apoio gigante, e vou ter que fazer um upgrade. Ou, então, não acontece nada e, simplesmente, tudo se mantém. E eu digo‑te uma coisa, se conseguisse manter o que fiz, já era muito grato e achava incrível. Por outro lado, também já não posso fazer uma qualificação Olímpica, portanto, a própria essência e génese do evento já terá que ser diferente. Vai ser um festival giríssimo, isso vai, mas muito diferente do deste ano. Vai ter que ser. O que é que o cansa neste setor dos eventos? Ter que convencer que vale a pena. Acho que é isso. Ter que convencer as pessoas de que vale a pena é desgastante, é esgotante, suga‑te energia, porque a cada pessoa nova, em que vês que há um potencial de parceria, que aquela pessoa tem uma possibilidade de win‑win contigo, com a tua estrutura, tens que voltar a fazer com que aquela pessoa perceba que vale mesmo a pena. E acho que, neste momento, é duro isso, é aquilo que mais cansa. De resto, aquela estrelinha que está lá em cima, ensinou‑me uma frase muito bonita que foi: o meu trabalho não é trabalho, quando eu trabalho eu não trabalho. Portanto, quando se faz algo com paixão, o teu trabalho não é trabalho. E portanto, nada me cansa nesse sentido. Sou muito feliz com tudo o que faço. WWW.EVENTPOINTINTERNATIONAL.COM 32 GRANDE ENTREVISTA É difícil conciliar a vida pessoal com a vida profissional? Muito e não. Muito, porque o tempo é extremamente limitado. Até ao final deste ano, tenho pelo menos 20 viagens. Sou pai, tenho um filho de uma idade em que precisa de mim, precisam sempre, mas três anos é mais complexo. O tempo não se desmultiplica, não há forma de o duplicar, de o triplicar, e é muito difícil gerir a minha agenda e a família. Mas tenho a sorte de ter a família que tenho, que me aceita, me apoia de forma incondicional, exatamente como eu sou, e só por isso é que estou a conseguir o que consigo. Tenho um objetivo muito claro para curto prazo, e eu não sou muito de ter objetivos claros. Não sei como, se a apresentar, se como chairperson, head judge ou technical delegate, mas eu quero muito pisar os primeiros Jogos Olímpicos. E estou a pagar o preço. Estou a fazer o meu apuramento olímpico, estou a fazer a minha qualificação olímpica, porque tu não vais pisar um lugar desses sem passar por isto tudo. E, portanto, eu sei que é o pior ano, por causa disso, porque é um ano pré‑olímpico. Quando eu chego a casa e digo que vou ter 70 ou 80 viagens este ano, a minha própria família diz‑me: ‘força, vai, estamos contigo’. Se calhar, por isso também demorei 40 anos a encontrar esta família. Porque, antes de ter a família que tenho, era uma alma livre a todos os níveis. E continuo a ser, o que é mais incrível, só que com uma família. E também uma coisa é certa: quando estou, estou. Quando estou, estou mesmo com a família. Estas viagens por todo o mundo são também uma inspiração, suponho? A World Battle é como é e as coisas que eu vou fazendo são como são, porque bebo constantemente em mil e uma fontes de inspiração. E, às vezes, em coisas muito simples. É aquela velha história de que viajar é virar uma página do livro que é a vida. E, se não viajas, vais ler poucas páginas. Como é que vê a concorrência? Acha que há boas empresas? Acho que há. Acho que há ótimas empresas. Mas eu não me vejo concorrente de ninguém, nem sinto concorrência. E não é por me achar único, é porque não estou mesmo focado nisso. Mas não lhe interessa saber o que é que outros andam a fazer? Eu acho que interessar, deveria interessar sempre. Mas, devido à vida que levo neste momento, não tenho sequer a oportunidade de me dedicar a isso. Não consigo olhar para o lado. Neste momento, vou fazendo este caminho, o nosso caminho. Sinto que o nosso caminho resulta. E espero que resulte para os outros, que estão a fazer outros caminhos. E estou sempre muito disposto a parcerias, empoderamento entre projetos, sempre, com as devidas cautelas, porque sabemos que o mundo não é cor de rosa e às vezes aparecem pessoas com outro tipo de intenções. Já me aconteceu e aprendi muito. WWW.EVENTPOINTINTERNATIONAL.COM 34 GRANDE ENTREVISTA Oito perguntas a Max Oliveira Viagem de sonho? Todos os sítios a que nunca fui. Cidade para viver? Nesta fase da minha vida, Porto. Um restaurante onde sempre gosta de voltar? Street show. Tens em Madrid e tens em Londres. Há tempo para algum hobby? Tenho três hobbies: boxe, andar de moto e surfar. Uma música que não lhe sai da cabeça, nos dias de hoje? É muito difícil, porque são tantas, mas... ninguém a vai conhecer. Foi a música da apresentação da crew no World Battle, que foi feita para nós, chama‑se mesmo Momentum. E é maravilhosa. Foi feita pelo Solo Gas Records, que é um coletivo de DJs mundial. Um ensinamento da pandemia? Estar pronto para o inesperado. Se pudesse convidar qualquer pessoa, de todos os tempos, para jantar no seu restaurante, quem convidava? O Franco Dragone. Qual é a sua relação com as redes sociais? A necessária. Quem não é visto, não é lembrado. PREPARAÇÃO E ORGANIZAÇÃO © Sebastião Roxo JMJ 2023 WWW.EVENTPOINTINTERNATIONAL.COM 36 DOSSIÊ TEMÁTICO JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE: UMA ENORME MONTRA PARA PORTUGAL A Jornada Mundial da Juventude (JMJ) foi uma enorme montra para Lisboa, que demonstrou estar à altura do maior evento de sempre realizado em Portugal. um sucesso. Um excelente exemplo deste espírito de envolvimento coletivo e de solidariedade também aconteceu na organização das pré‑jornadas que atraíram dezenas de milhares de peregrinos às dioceses de todo o país. No que respeita ao retorno, deixo os números de lado e destaco a dimensão humana e espiritual vivida que, por razões óbvias, são impossíveis de quantificar. Portugal demonstrou a capacidade de acolher um evento desta grandeza, deixando uma imagem de preparação e organização. A sigla JMJ perdurará na memória como um momento de mobilização extraordinária e de capacidade de organização demonstrada ao mundo, com o Papa Francisco a afirmar que “esta foi a mais bem preparada que vi”, a bordo do avião papal que o transportou de regresso a Roma. Com muito profissionalismo, com uma enorme dedicação de muitos voluntários e com a capacidade de concertar esforços e de partilha de responsabilidades entre a igreja, a sociedade civil e o poder público (governo e autarquias), no essencial, a JMJ foi Ao longo da primeira semana de agosto, Lisboa transformou‑se numa cidade em festa, com manifestações culturais, encontros com a população e muitas emoções. A Jornada não foi apenas os grandes eventos que contaram com a presença do Papa Francisco. Foram mais de 500 eventos espalhados pelos concelhos de Lisboa, Loures e Cascais, que fizeram o “Festival da Juventude”, e que tiveram como objetivo dar palco ao talento e expressão artística dos participantes. Não foram só eventos de cariz religioso, embora tivessem alguma ligação com o tema da JMJ. A programação do Festival da Juventude contou com 290 concertos, 27 filmes e documentários, 17 exposições, sete espetáculos de teatro, seis apresentações de dança, dois eventos desportivos, 80 encontros religiosos, 38 conferências, em várias línguas, sobre temas ligados à vocação, missão, desafios da sociedade atual, cidadania, sustentabilidade e o mundo profissional, e 35 museus com entrada grátis para participantes e voluntários. Foram mais de 100 os locais que receberam estes eventos, com destaque para o Terreiro do Paço, a Alameda D. Afonso Henriques, o Largo do Martim Moniz, a Fundação Calouste Gulbenkian, o Centro Cultural de Belém, o Castelo de São Jorge, Cinemateca, Parque da Cidade de Loures, Hipódromo de Cascais, entre muitos outros. Foram três anos de preparação e de organização para a 16ª edição da JMJ, para receber 1,5 milhões de peregrinos, e um papa de 86 anos, debilitado fisicamente, mas que não deixou de ir onde queria ir, não deixou de dizer o que queria dizer, e que, apesar de ter um programa intenso, aproximou‑se de quem o quis ver e recebeu banhos de multidão. Na missa de envio afirmou: “Lisboa vai ficar na memória destes jovens como a casa da fraternidade e a cidade dos sonhos”. WWW.EVENTPOINTINTERNATIONAL.COM 38 DOSSIÊ TEMÁTICO Parque Eduardo VII: Colina do Encontro Os três primeiros grandes eventos da JMJ (Missa de Abertura, Acolhimento e Via‑Sacra), tiveram lugar no Parque Eduardo VII. O palco, com 40 metros de largura e 24 metros de altura, com 14 patamares, ocupando uma área total de 430 metros quadrados, foi da autoria do arquiteto João Matos. Para a concretização deste altar‑palco, foram utilizadas 170 toneladas de ferro e madeira, que foram transportados para o local em 16 camiões TIR. Este palco foi totalmente suportado pela Fundação JMJ Lisboa 2023, com o apoio de uma entidade privada. O altar‑palco do Parque Eduardo VII acolheu cerca de uma centena de sacerdotes e os elementos do coro e da orquestra que atuaram nas três cerimónias. © Bruno Seabra JMJ 2023 Next >