< PreviousPor outro lado, não agrada a Nuno Ribeiro “a falta de valorização e reconhecimento desta indústria”. “Nós, como DMCs, que muitas vezes somos os primeiros responsáveis por trazer grupos e eventos para Portugal, não somos valorizados”, lamenta. “O pico na minha carreira de Hollywood” Nuno Ribeiro não tem dúvidas em apontar a organização das cerimónias do Campeonato Africano das Nações, em Angola, em 2010, pela Realizar, como o evento mais marcante do seu trajeto profissional. “Foi uma experiência única, pela escala do evento e complexidade, mas também pela exigência a nível pessoal. Angola estava a começar a abrir ao mundo e, como tal, muitos serviços e/ou produtos básicos não havia ou eram desmesuradamente caros”, descreve, acrescentando: “Foram vários meses a trabalhar neste projeto, onde tivemos equipas de Portugal, Angola, Espanha, Alemanha e Estados Unidos.” Nuno Ribeiro gostou muito de fazer parte da organização do Realizar um Sonho SIM, um evento organizado na Praça do Comércio, em 2011, que consistia em criar a maior imagem com velas acesas do mundo, alcançando o recorde do Guinness. A ação tinha como objetivo a angariação de fundos para uma instituição de realização de sonhos para crianças com doenças graves. “Foi um evento duro, por ser um evento público, com TV em direto, concertos, atividades paralelas, imensas pessoas, e por ser feito na rua em pleno dezembro. Foram cerca de 50 mil velas acesas nesse dia, que criaram uma imagem impressionante com a praça toda iluminada. Este evento deu‑nos a oportunidade de ajudar várias crianças e teve um impacto tremendo para esta instituição com televisão em direto todo o dia”, afirma. O diretor da One Event recorda o caso de um evento que podia ter corrido menos bem: um incentivo para um grupo de cerca de 360 pessoas, que decorreu no ano passado, “em que fizemos provavelmente o maior voo de balão de ar quente já feito em Portugal”, com 27 balões a voar ao mesmo tempo. “Por se tratar de um voo de balão de ar quente já implica várias incertezas, principalmente pela meteorologia”; além de toda a logística envolvida no transporte dos participantes WWW.EVENTPOINTINTERNATIONAL.COM 100 VIDA DE EVENTOS de Lisboa para o Alentejo. “Em alguns minutos, colocar todos nos balões para levantar foi um desafio grande.” Contudo, o problema chegou no dia anterior ao evento, quando já estava tudo preparado e os participantes levantavam as pulseiras com a informação de autocarro, a zona de embarque, e outros pormenores. Havia erros na lista dos participantes, pelo que, nesse dia e nessa noite, foi preciso “reajustar as pessoas nos balões, o que significa mais do que trocar lugares”; é também “a gestão dos pesos em cada um dos balões, em modo ‘Tetris’, para que tudo encaixe”. “Estes ajustes de última hora criaram alguma insegurança em toda a equipa, mas o evento acabou por ser um sucesso tremendo”, sublinhou. No mundo dos eventos, não há só preocupações. Há também momentos engraçados e inesperados. Para Nuno Ribeiro, um desses aconteceu quando conheceu o duplo do ator Chuck Norris. Tudo aconteceu no Campeonato Africano das Nações. “Para o jogo da final, tivemos uma dupla de ‘rocketmen’ que iam entregar a bola do jogo e a taça de campeão. Tratava‑se de uns jetpacks em que as pessoas realmente voavam. Foi algo impressionante.” Este momento foi feito por uma equipa americana, cujo dono e antigo ‘rocketman’ foi o duplo do Chuck Norris. Nuno Ribeiro foi receber a equipa ao aeroporto. Ao chegarem, o responsável diz‑lhe: “Agora vamos voltar a entrar no aeroporto. Estes dois cameramen ficam aqui a filmar e recebes‑nos como se estivéssemos a chegar.” “Este foi o pico na minha carreira de Hollywood. Depois de assinar todos os documentos de autorizações, explicaram‑me que era a primeira vez que iam ter dois ‘rocketmen’ a voar e estavam a fazer um documentário sobre isso”, explica. A história termina na cerimónia do evento. “No momento em que tinham de voar, um dos ‘jetpacks’ teve um problema e levantou voo fora de timing, retirando o impacto de ter os dois a voar ao mesmo tempo. Por isso, acho que o meu momento ‘Hollywood’ nunca foi para o ar”, adianta Nuno Ribeiro. Maria João LeiteDOMINAR MARKETING ESTRATÉGICO TORNOU‑SE ESSENCIAL WWW.EVENTPOINTINTERNATIONAL.COM 102 OPINIÃO MARKETING E EVENTOS: UM NAMORO QUE VIROU CASAMENTO É certo que o marketing sempre teve um papel de grande relevância nos eventos das marcas, mas arrisco dizer que num segundo plano, com o operacional e a experiência a assumirem os lugares principais. Hoje, ouso afirmar que o marketing passou para primeiro plano e o namoro de longa data com os eventos se afirmou num sólido casamento. Mas não por acaso. É que esta história tem um cupido: as marcas digitais. Se a pandemia trouxe um bloqueio para os eventos e para tantos negócios que tinham no físico a sua essência, potenciou em muito o crescimento das marcas no digital, com empreendedores e pequenas empresas a nascerem e a posicionarem‑se neste meio. Ultrapassada esta época, e com uma concorrência feroz em muitas áreas do digital, a aposta em potenciar a comunidade à volta da marca tornou‑se imperativa e uma ação tem‑se revelado diferenciadora: o evento presencial. Cada vez mais as marcas digitais apostam na transição para o presencial e este tornou‑se até um divisor de águas na afirmação da autoridade e posicionamento como referência no seu nicho. O objetivo do evento continua a ser a conexão, a proximidade e as pessoas, isso é certo, mas passa para além disso e hoje integra a estratégia de muitos negócios pela grande apetência também de conversão. E isto muda o paradigma das competências que são necessárias para trabalhar este formato de eventos: dominar marketing estratégico tornou‑se essencial.Trabalhar hoje um evento de marca digital implica dominar termos como LTV, leads, CAC, escada de produto ou conversão. A componente estratégica passou a conduzir todo o evento, desde a definição do objetivo, do público‑alvo, da transformação, da narrativa, num caminho até à possível integração com a própria escada de serviços e produtos da marca. Os eventos passam assim do pendor maioritariamente qualitativo, com métricas importantes, mas mais difíceis de medir, como posicionamento, proximidade, autoridade ou conexão, para assumirem uma grande faceta quantitativa, com metas de negócio muito claras, como faturação e conversão. Não se confunda, no entanto, com eventos de vendas: essa é a fronteira que nunca pode ser ultrapassada pois o principal mérito do evento estará sempre no conteúdo de valor que o participante recebe, a par da experiência como um todo. Como sempre digo aos meus clientes, o participante do vosso evento tem de sair com a certeza de que pagou pouco para o valor que recebeu. Se assim não for, algo correu mal. Tudo o resto que acontece é consequência da entrega de excelência, da estratégia de narrativa criada e, sim, de alguma competência de oratória de quem assume o palco. Quero com isto dizer que se passou a olhar os eventos como números ou todo o operacional como irrelevante? Não, de todo. Que a experiência, a humanização e a personalização afinal não são pontos importantes? Também não, de todo. Pelo contrário. Continua a ser de extrema relevância que tudo isto seja bem feito. Só assim a nova camada que acrescentamos, o marketing estratégico, pode funcionar. A estratégia de marketing conduz e encabeça o evento, mas de nada servirá se os pilares não estiverem bem firmados. O estímulo é olhar estes eventos de marca pelo seu potencial de criação de valor, de conhecimento, de conexão e de lucro, sem menosprezar as outras áreas. Serão novos desafios que, não tenho dúvidas, vieram para ficar. É que este casamento, entre marketing e eventos, está para durar (e ainda bem!). Margarida Gamboa Gestora de Eventos Estratégicos www.linkedin.com/in/margaridagamboa WWW.EVENTPOINTINTERNATIONAL.COM 104 OPINIÃO OS EVENTOS NAS UNIVERSIDADES E O PROTOCOLO O Protocolo é utilizado de diversas formas e em vários setores de atividade, nomeadamente nas universidades, fazendo parte da sua identidade organizacional. Aqui, o protocolo revela‑se como um elemento de grande importância nas relações‑públicas e comunicação institucional como ferramenta de divulgação do seu posicionamento interno e externo. WWW.EVENTPOINTINTERNATIONAL.COM 106 ESPAÇO APOREP As universidades realizam atos solenes e não solenes, segundo rituais há muito instituídos pelos usos e costumes, sendo a tradição oral e alguma documentação escrita a base fundamental para a sua execução nas universidades portuguesas onde há pouca documentação escrita. A tradição, herdada ou reinventada, tem reflexo nos eventos organizados. “O elemento simbólico do cerimonial pode ter papéis muito diferentes, conforme o momento e as circunstâncias da história. O protocolo – quem é convidado e quem aceita o convite, onde se senta etc. – pode ser considerado a afirmação ou a comunicação para a sociedade, num determinado momento solene, daquilo que são as perspectivas da organização, como se posiciona interna e externamente” disse‑me o antigo Reitor da Universidade de Lisboa, Professor Doutor Barata Moura. As cerimónias universitárias regem‑se por regras protocolares que têm sido transmitidas ao longo das épocas, algumas baseadas em leis e disposições legais, outras baseadas em regras consuetudinárias e outras ainda baseadas tão somente na cortesia das relações entre as pessoas. O cerimonial utilizado nestes atos por vezes consta de alguns guiões escritos que vão, em muitos casos, sendo reescritos e adaptados ao passar dos tempos. É curioso observar que algumas das organizações que ainda subsistem da época medieval são as universidades e o exército. A presidência de uma cerimónia na universidade está regulada pela sua organização interna e por disposições legais como o RGIES e a Lei das precedências do Protocolo do Estado Português – Lei n.º 40/2006. Aqui podemos ver confirmada a autonomia universitária, não havendo lugar para qualquer dúvida como consta no Artigo 39.º da mesma lei e que diz respeito às autoridades universitárias e aos politécnicos:1 ‑ Os reitores das universidades e os presidentes dos institutos politécnicos presidem aos atos realizados nas respetivas instituições, exceto quando estiverem presentes o Presidente da República ou o Presidente da Assembleia da República. 2 ‑ As deputações dos claustros académicos que participem em cerimónias oficiais seguem imediatamente os respetivos reitores ou presidentes. Nos eventos na universidade e estando presentes personalidades que constam da referida lei, esta também terá de ser utilizada. Haverá sempre que ter em conta outros convidados que, pela sua importância para a instituição, terão um lugar de assentamento apropriado para a ocasião. Poderá ser o convidado de honra, o homenageado, o patrocinador de um prémio, de um anfiteatro ou outra iniciativa. Também terá de ser acautelada a disposição legal de atribuição de lugar para os cônjuges ou unidos de facto (desde que expressamente convidados para a ocasião). A tipologia do local do evento é muitas vezes um factor de decisão para a execução de plano de assentamento, com por exemplo: na Universidade de Coimbra (Sala dos Capelos) ou na Universidade de Évora, a disposição dos lugares é influenciada pela existência de lugares elevados nas laterais, destinados antigamente aos coros ou ao clero e que permitem sentar o claustro académico separado dos restantes convidados; na Universidade do Minho a disposição também é influenciada pela menor largura e grande comprimento da sala; na Universidade de Lisboa, tendo a Aula Magna sido construída de raiz para este tipo de cerimónias, já viu algumas alterações da utilização dos diferentes sectores à medida que aumenta o número de professores e de convidados. O Protocolo é formado por regras, preceitos e leis que visam um eficaz e harmonioso relacionamento de quem está presente num evento, sendo o Cerimonial a forma de como todo o ritual é organizado e executado. Isabel Névoa Tavares Presidente da APorEP WWW.EVENTPOINTINTERNATIONAL.COM 108 ESPAÇO APOREP Next >