< Previouse das nossas regiões e que tenham a capacidade de atrair visitantes para participarem nesses eventos. Somos um país que tem crescido muito do ponto de vista dos eventos. Os campeonatos de surf são um bom exemplo de como não só tivemos capacidade de os organizar, e somos reconhecidos por isso, como de transformar os destinos, as próprias localidades. É um papel transformador não só naquilo que está diretamente relacionado com o evento, mas de todo o negócio que está à volta. Temos um calendário de festivais de música extraordinário e somos reconhecidos internacionalmente por isso. Começamos a ser um espaço, um destino, para eventos na área da arte, das exposições. Quando digo ‘temos’ estou a falar do ponto de vista das empresas. E naturalmente esse é um trabalho do qual o Turismo coleta, mas isso inclui um esforço grande e muito interessante para podermos colocar Portugal no mapa mundial neste tipo de eventos. Quando surgem eventos de grande dimensão, que conseguem mobilizar apoios substanciais, levanta-se sempre a dúvida sobre se seria mais interessante concentrar esforços em eventos tão grandes ou disseminar esses apoios por eventos de menor dimensão, mais dispersos. O que é que se pode responder a esse tipo de comentário? Todos têm cabimento. Olhando para a oferta nacional, há vantagens em termos grandes eventos internacionais, como o MotoGP no Algarve, que acaba de ser novamente confirmado, até um pequeno evento no interior do país. Sobre essa matéria, o nosso programa de incentivo à captação de eventos, o Portugal Events, está organizado de forma a bonificar justamente os eventos que são realizados fora dos grandes centros urbanos, em territórios de baixa densidade. E, portanto, todos têm cabimento e têm funções diferentes e razões de existir diferentes. Se por um lado os grandes eventos permitem colocar Portugal nos media internacionais, serem motivo de visita ao país, os pequenos eventos têm um impacto direto nos territórios, um impacto direto na capacidade destes territórios terem visitantes ao longo do ano, em diferentes localidades e de melhorar a experiência turística. WWW.EVENTPOINTINTERNATIONAL.COM 30 GRANDE ENTREVISTA Há eventos que vivem só por si, que são a razão da visita, mas há eventos que vivem para melhorar a experiência turística das localidades e, portanto, nós não podemos descurar uns em relação a outros. No caso dos eventos, fala-se muito na escassez de espaços, mesmo em Lisboa. Quem é que deveria assumir aqui este papel? São os privados? Como é que eventualmente poderia ser desatado este nó? Portugal tem, de uma forma geral, uma oferta de venues muito interessante. E muitas vezes a captação dos eventos não tem tanto que ver com os venues que eu tenho disponível ‑ claro que é importante ‑, mas sim com um conjunto de outras valências que são muito importantes e que Portugal desde logo tem e isso é reconhecido. Mas se nos concentrarmos nos venues, julgo que depende sempre da circunstância e do local onde estamos. Haverá necessidades a que provavelmente as autarquias têm capacidade de responder. Haverá outras situações em que provavelmente as parcerias público‑privadas são interessantes, há outras em que os próprios privados podem ser eles a colmatar essa dificuldade. E temos todos estes exemplos em Portugal, porque temos venues que são das autarquias, temos venues que são totalmente privados e foram criados pela iniciativa dos privados e existem outros que são, de alguma forma, parcerias público‑privadas. Acho que em cada situação temos que ver qual é a melhor maneira de darmos resposta a uma necessidade. É certo que em Lisboa se tem sinalizado essa necessidade e julgo que a própria autarquia também tem estado envolvida nessa discussão. A que mercados vale a pena estar atento? Os nossos mercados emissores principais são: o Reino Unido, a Espanha, a França, a Alemanha. Os Estados Unidos são, hoje em dia, um mercado que tem tido uma capacidade de crescer para Portugal muito interessante. E são interessantes para o turismo generalista, mas também © António Camilo para os eventos. É um mercado com valor acrescentado e a nossa perspetiva é a de que o mercado vá continuar a crescer. Os mercados europeus, no seu conjunto, são para nós mercados muito importantes. Sentimos também um interesse acrescido dos países nórdicos pelo nosso país, no seu conjunto. A Ásia está a abrir, portanto temos aqui algumas oportunidades no que diz respeito à Ásia. Este ano vai acontecer a Expo Osaka, no Japão, que é uma janela de oportunidade para nos podermos mostrar também naquele território. Definimos alguns mercados de novas aberturas, como é o caso do México, um mercado que tem vindo a crescer para Portugal quase que organicamente. Temos durante o ano de 2025 programadas um conjunto de missões de operadores mexicanos a Portugal e também de empresas portuguesas no México. O Brasil continuará a ser um dos mercados que vamos reforçar e é uma boa oportunidade para todo o turismo nacional. Acrescentando aqui a Argentina. Verificámos que o trabalho feito em 2024 na Argentina teve logo impacto, apesar de não termos uma ligação [aérea] direta com a Argentina, o que é muito interessante. Depois, temos mercados mais longínquos e que têm crescido, mais ou menos organicamente, como é o caso da Austrália, por exemplo, que tem números muito interessantes de visitantes vindos deste mercado. E faremos, durante o ano de 2025, um conjunto de missões e de ações de prospeção, juntamente com operadores e com companhias aéreas, para o mercado da Austrália, que alimenta algumas das ligações aéreas que temos, por exemplo, na Península Arábica. O sucesso turístico que Portugal tem tido também apresenta desafios. Como lidar com eles? Eu acho mesmo muito importante gerir o sucesso do turismo. É, hoje em dia, um compromisso de todos nós. Das empresas, do Turismo de Portugal, das autarquias, dos agentes locais para permitir que não haja, por um lado, uma experiência menos positiva em Portugal e, por outro, para que as empresas não percam o seu negócio, porque já não encontram capacidade suficiente para a procura que têm. WWW.EVENTPOINTINTERNATIONAL.COM 32 GRANDE ENTREVISTA Todas as nossas principais estratégias têm sido, e vão continuar a ser, de olhar para o território no seu conjunto e encontrar oportunidades. É certo que a procura é maior nos grandes centros urbanos ou nas regiões mais conhecidas, como no caso do Algarve ou da Madeira, por isso mesmo somos obrigados cada vez a dar maior visibilidade aos territórios do interior, dotando‑os com mais oferta para justamente poderem responder a outros projetos, a outro tipo de eventos que podem muito bem passar a ser feitos em Coimbra, em Viseu, na Covilhã, em Bragança. Vemos alguns mercados, como é o caso dos Estados Unidos, que nunca ficam só nas grandes cidades. Para eles, as distâncias em Portugal são muito pequenas. Continua a ser muito importante olharmos para a possibilidade de se organizarem os eventos em todo o território, dotando esses territórios com oferta adequada para poderem receber os eventos. Tudo tem um limite, não é? Temos de começar a olhar para o território de uma forma integrada, e fazendo também ao longo de todo o ano, aproveitando que há momentos em que há menos procura do turista generalista. E continuar a ter as nossas empresas sustentáveis, do ponto de vista económico, também, e poderem estar em operação durante todo o ano. Julgo que esses são, sem dúvida, os dois grandes eixos em que nos temos que concentrar. Como podemos imaginar Portugal daqui a cinco anos, enquanto destino turístico? Estamos neste momento num processo de construção da nova estratégia, que terminaria em 2027, uma vez que muitas das metas foram atingidas em 2024. O contexto mundial mudou, o contexto do turismo também mudou desde há sete anos. Estamos hoje neste processo de construção da nova estratégia para dez anos. E este processo de construção, novamente, é um processo © António Camilo Dez perguntas a Lídia Monteiro Uma cidade para viver? Lisboa. Uma viagem para fora de Portugal que ainda lhe falta fazer? Japão. Mas há mais. Uma banda, um artista que não pode faltar na sua playlist? Prince. Que livro é que tem na cabeceira? ‘O livro dos cinco anéis’, de Miyamoto Musashi. Um prato absolutamente irresistível? Arroz de míscaros. Uma série ou um filme? Homeland. Rede social que usa mais? LinkedIn. Quando era criança o que é que queria ser? Queria ser atriz. Se pudesse convidar qualquer pessoa para jantar, quem gostaria de convidar? Se estivesse vivo, a pessoa com quem eu gostava de falar alguma vez era o Nelson Mandela. Evento mais marcante? O concerto ‘Madame X’ da Madonna, no Coliseu. que não é feito aqui fechado nas salas do Turismo de Portugal, estamos pelas sete regiões, temos reuniões, estamos a concluir neste momento workshops temáticos sobre alguns dos pontos mais relevantes que foram identificados nessas reuniões regionais. Acredito que vamos ter uma estratégia que, por um lado, possa refletir aquilo que de melhor existe em Portugal e, acima de tudo, uma estratégia que responda às novas tendências do consumo, mesmo aquelas que nós ainda não sabemos quais são. WWW.EVENTPOINTINTERNATIONAL.COM 34 GRANDE ENTREVISTA CONHECER O PÚBLICO PARA MELHOR TRAÇAR A JORNADA DO PARTICIPANTE WWW.EVENTPOINTINTERNATIONAL.COM 36 OPINIÃO O DESAFIO DE ORGANIZAR EVENTOS CORPORATIVOS PARA CINCO GERAÇÕES DIFERENTES Enquanto gestores de eventos, é normal, e até importante, que o nosso estilo, a nossa estética e as nossas referências artísticas se reflitam nos eventos que planeamos. Contudo, os eventos são um bocadinho nossos, mas não são para nós. Com cinco gerações a jogo ‑ Silent Generation (nascidos antes de 1945), Baby Boomers (1946‑1964), Gen X (1965‑1980), Millennials (1981‑1996) e Gen Z (1997‑2012) – as marcas e os gestores de eventos enfrentam em 2025 o desafio de desenhar eventos que envolvam todos. A percentagem de colaboradores que pertencem à Silent Generation é muito reduzida, contudo não é tão improvável assim depararmo‑nos com convidados desta faixa etária em eventos. Têm gostos mais convencionais e respeitam as tradições, preferem comunicação cara a cara, têm algumas limitações físicas, preferem formatos sentados e têm gostos ao nível de catering mais específicos. Os Baby Boomers estão na fase da reforma, ainda assim bastante ativos na vida das empresas. Têm algum à vontade com a tecnologia, mas continuam a preferir formas físicas de documentos, gostam de reviver o passado através de bandas de tributo e valorizam comida tradicional com um toque gourmet e de boa qualidade. A Gen X ocupa agora os cargos mais altos de liderança nas empresas e estão na fase de conjugar vida pessoal e familiar com o trabalho. Estão muito confortáveis com o uso da tecnologia, priorizam venues que ofereçam possibilidade de conjugar o trabalho e lazer, gostam de eficiência e estrutura na construção do programa e valorizam opções de comida saudável.Os Millennials são a geração que valoriza a experiência única. Gostam de venues improváveis, como galerias de arte ou espaços industriais, são claramente movidos por temas de sustentabilidade e gostam de sentir que têm voz e fazem parte, por exemplo, através de momentos de Q&A com os oradores da sessão ou workshops interativos. Já a Gen Z nasceu numa era completamente digital. Vivem a par com a tecnologia, são influenciados pelas redes sociais e têm um attention span mais curto pelo que preferem shots de apresentações e conteúdos. Apreciam a personalização e variedade de escolhas de catering para vários regimes alimentares e optam pelo consumo de bebidas não alcoólicas. É impossível ignorar esta geração - é expectável que a idade dos convidados dos eventos continue a diminuir. Ora, com base nas especificidades de cada geração, é fundamental compreender o que valorizam, como comunicam, como se expressam, como olham para a construção de carreira e para o equilíbrio entre o trabalho e a vida pessoal. Planear um evento para cinco gerações diferentes requer um equilíbrio entre tradição e tecnologia, simplicidade e modernidade, inclusão e personalização. É sobre compreender as diferenças e encontrar pontos de interesse comuns. Voltamos a um dos aspetos fundamentais na abordagem aos eventos – a importância de conhecer o público para melhor traçar a jornada do participante e criar experiências autênticas e memoráveis, que perdurem na memória dos nossos convidados. Ana Félix Partner & Event Manager at MUDE www.linkedin.com/in/affelix WWW.EVENTPOINTINTERNATIONAL.COM 38 OPINIÃO Next >