“Protocolo: uma ponte entre culturas, política, religiões e eventos”

Reportagem

09-11-2023

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A 18ª edição das Jornadas de Protocolo da Associação Portuguesa de Estudos de Protocolo (APOREP) ficaram marcadas pela diversidade de assuntos e perspetivas.

O programa das Jornadas Internacionais de Protocolo arrancou com o Embaixador Silva Lopes, Chefe do Protocolo do Estado, que partilhou com a audiência a opinião de que aprender protocolo “é na prática”, tendo apontado algumas das exigências da profissão: “criatividade, imaginação e capacidade de reação”. O protocolo implicar esta sempre a encontrar soluções para os problemas que se colocam. “Se a preparação e planeamento são essenciais, existem sempre imponderáveis e incertezas e temos de estar preparados para reagir”, lembra o Embaixador.

A Embaixatriz de Marrocos Abla Benslimane foi a escolhida para a conferência de abertura e a mensagem que deixou não podia ser mais pertinente face aos tempos tumultuosos em que vivemos. “The world is bigger than us” foi o título de uma comunicação que enalteceu as diferenças culturais entre os povos e a necessidade de respeito pela diversidade. Segundo a Embaixatriz o protocolo é um facilitador, aproxima o que é diferente, e ajudar a navegar neste mundo conturbado, contribuindo para uma sociedade mais informada.

Rámon Peche, da Associação Espanhola de Protocolo, abordou o protocolo de proximidade, dando exemplos práticos da sua atividade enquanto chefe de protocolo de uma autarquia em Espanha. Leia aqui a entrevista à Event Point.

Ademar Vala Marques, consultor de Assuntos Políticos e Sociedade, abordou o tema das coroações reais, num ano marcado pela coroação de Carlos III, em Inglaterra. O orador lembrou que estes são momentos em que se passam mensagens políticas e de poder e que o exemplo inglês mostrou como as tradições procuraram adaptar-se, de alguma forma, ao tempo atual.

O protocolo universitário foi tratado pela mão de Francisca Saravia, chefe de Protocolo da Universidade de Córdova, com casos práticos de abertura de anos letivos. Manuela Azoia, chefe da Divisão de Relações Públicas e Protocolo da Assembleia da República, abordou as especificidades do protocolo naquela instituição. O protocolo parlamentar, referiu, tem por base a Constituição da República Portuguesa, a Lei das Precedências do Protocolo do Estado e o Regimento da Assembleia da República. A responsável centrou muito da sua comunicação a explicar como atuam em situações em que a lista de precedências não responde aos problemas colocados.

José Manuel Araújo, Secretário-Geral do Comité Olímpico de Portugal, falou do protocolo desportivo e lembrou que o desafio principal é o de compatibilizar o protocolo oficial e o protocolo das organizações desportivas nacionais e internacionais.

O tenente-coronel Helder Parcelas explicou o correto uso da bandeira nacional, no interior e exterior e a sua ordenação. Mostrou ainda, com a ajuda de dois militares, a forma como se dobra a bandeira.

A Jornada Mundial da Juventude (JMJ) esteve em destaque nesta edição das Jornadas Internacionais de Protocolo. O Coronel Jorge Barradas, coordenador da equipa de segurança e proteção civil das JMJ, explicou a vertente da segurança, associada à mobilidade e ao protocolo (ver entrevista aqui). A reter algumas ideias: autonomia das equipas no terreno, responsabilidades e tomada de decisão bem definida e cadeia clara de reporte. Isabel Figueiredo, da Renascença, e responsável de comunicação e protocolo das JMJ, lembrou a dimensão “muito humana” do trabalho que teve de desempenhar, e os desafios de um contexto pós-pandemia (lembre-se que o evento era para ter acontecido em 2022), de eleições e mudança de executivo, por exemplo na Câmara de Lisboa, e da divulgação do relatório dos abusos da Igreja. Isabel Figueiredo exalta a capacidade que houve de juntar as mais variadas entidades ao mesmo tempo e elaborar um plano cujo sucesso ficou à vista de todos.

O dia terminou com os eventos corporativos. Cláudia Lopes, da Mud.e, empresa especializada neste segmento, explicou que o protocolo neste tipo de eventos tem de ser “muito flexível”, adaptar-se aos objetivos do evento e do público. A responsável lembra que as agências que se orientam por regras claras trabalham melhor e que estas regras simplificam a vida do organizador. No caso de os eventos contarem com altas entidades, por exemplo, o apoio protocolar, alerta Cláudia Lopes, deve ser pedido desde o início do planeamento.

Balanço “muito positivo”

Isabel Névoa Tavares, presidente da APOREP, partilhou com a Event Point que os presentes gostaram muito do facto de “termos conseguido, em tão pouco tempo, abordar assuntos tão diversos”, e com diferentes abordagens da “maneira como se pode entender protocolo como uma ferramenta de trabalho, comunicação, imagem.”. “O protocolo, como se lia no tema desta edição, é uma ponte entre culturas, política, religiões e eventos e pretendia-se que ali fosse um fórum do entendimento das variantes do protocolo”, explica a presidente.

O programa é preparado todos os anos também com base nos inquéritos realizados pós-jornadas. “Tentamos ir buscar os temas que as pessoas nos pedem, que suscitam mais interesse, por exemplo o protocolo autárquico todos os anos é pedido, tanto que há a sugestão de fazermos um fórum só de protocolo autárquico”, detalha Isabel Névoa Tavares. Há, todos os anos, a preocupação de contar com enquadramentos teóricos que são “absolutamente necessários para fazermos escola, para que as pessoas tenham ferramentas onde possam ir buscar a legislação, por exemplo”, mas também com a apresentação de casos práticos, porque mostram as soluções adotadas.

A presidente da APOREP destaca ainda o Alto Patrocínio do Presidente da República ao evento, o que mostra que as jornadas “têm conseguido manter um nível, um padrão, que o justifica”, e a presença do Chefe do Protocolo do Estado, o que ajuda a posicionar e consolidar a associação, cada vez mais, como “um parceiro a ter em conta no que diz respeito ao protocolo”.

As Jornadas Internacionais de Protocolo da APOREP realizaram-se no Auditório do ISEG, em Lisboa, a 7 de novembro. 

© Cláudia Coutinho de Sousa Redação