A relação entre promotores e fornecedores: um desafio para a sustentabilidade dos eventos

Opinião

22-05-2024

# tags: Desporto , Fornecedores , Eventos , Cultura

A indústria de eventos culturais e desportivos atravessa atualmente um período de certa tensão, causado pelo relacionamento entre promotores, fornecedores e patrocinadores.

O clima de incerteza é alimentado por questões relacionadas com a forma como estas partes interagem, principalmente devido às pressões financeiras e à procura de maximização de lucros por parte dos promotores, que podem estar a prejudicar o equilíbrio necessário para manter a sustentabilidade do setor.

Neste contexto, os fornecedores, que são a espinha dorsal das infraestruturas dos eventos, sentem-se cada vez mais pressionados por condições contratuais desvantajosas, enquanto os patrocinadores enfrentam exigências cada vez maiores para apoiar eventos que, por vezes, apresentam qualidade questionável. Este cenário de conflito interno requer uma revisão cuidadosa das práticas comerciais para garantir que a indústria possa prosperar de forma justa e equilibrada.

Devido à reputação consolidada e ao prestígio acumulado ao longo dos anos, muitos promotores de eventos têm imposto condições cada vez mais rigorosas às empresas que fornecem serviços cruciais para a realização dos eventos. Isso gera um ambiente de negócios instável, no qual os fornecedores se veem obrigados a aceitar contratos financeiramente frágeis, enquanto as cotas de patrocínio continuam a aumentar.

Este cenário suscita preocupações significativas sobre o futuro do setor, na medida em que se cria uma dinâmica insustentável, em que a segurança é frequentemente comprometida em prol de lucros mais elevados. Para evitar consequências negativas e possíveis riscos para o público, é essencial que promotores, fornecedores e patrocinadores encontrem uma abordagem mais equilibrada e sustentável, que garanta a segurança, a qualidade e a viabilidade financeira dos eventos.

Este modelo de negócios instável tem um efeito em cadeia que pode prejudicar a reputação e a sustentabilidade do setor; o público, que tem acesso a uma ampla variedade de alternativas culturais, opta por mercados inovadores e sensíveis. Com o tempo, esta tendência pode provocar um decréscimo do consumo do setor em Portugal e, consequentemente, a perda da viabilidade económica.

O equilíbrio entre os interesses dos players é fundamental para manter a sustentabilidade deste ecossistema. Sem correções, esta dinâmica pode resultar na degradação dos eventos e, em última análise, no afastamento do público, comprometendo a viabilidade do setor.

É vital que os atores envolvidos compreendam que essa exploração não é apenas uma questão de custos, mas afeta diretamente a reputação e a relevância dos eventos culturais e desportivos. Se não houver uma mudança significativa na forma como essas relações são geridas, o setor pode perder seu apelo, reduzindo oportunidades para artistas, fornecedores e patrocinadores, com consequências negativas para a sociedade.

Para assegurar que os eventos culturais e desportivos permaneçam uma fonte vibrante de entretenimento, cultura e crescimento económico, precisamos de um compromisso renovado com práticas justas e sustentáveis.

Promotores, fornecedores e patrocinadores devem trabalhar juntos para criar um ambiente onde todos saiam beneficiados, garantindo que a qualidade e a segurança dos eventos não sejam comprometidas. A comunidade e a sociedade em geral esperam que essa transformação ocorra, para que os eventos continuem a ser um pilar importante do tecido cultural e económico do país.

© Tiago Matos Vital Opinião

Professor, Diretor da Pós Graduação Organização e Gestão de Eventos, Católica Porto Business School

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