Congresso da APAVT: “Melhor turismo e não mais turismo”
09-12-2022
# tags: Açores , APAVT , Turismo de Negócios , Sustentabilidade
A afirmação de Filipe Silva, diretor do Turismo de Portugal, marcou a primeira sessão do segundo dia de trabalhos do Congresso da APAVT, em São Miguel, nos Açores, garantindo que quer “melhor turismo e não mais turismo”.
Esta ideia de “melhor turismo e não mais turismo” perpassou aliás em diversos momentos pela conversa sobre os grandes desafios do turismo português, que incluiu também Eduardo Caetano, diretor executivo da Portimar, Margarida Almeida, CEO da Amazing Evolution, e Thierry Ligonnière, CEO da Ana Aeroportos, moderada por Carlos Baptista, administrador da Bestravel.
Margarida Almeida defendeu que, enquanto grupo hoteleiro, é importante criar uma marca, mas é igualmente importante criar uma marca enquanto entidade empregadora. Isto para dizer que se por um lado é fundamental aumentar os preços dos hotéis, é igualmente necessário pagar melhor às pessoas, dar-lhes formação, e garantir perspetivas interessantes de carreira. E alertou para o facto de que não vai ser possível reter os clientes se ao aumento dos preços não corresponder um serviço de qualidade.
A responsável e fundadora da Amazing Evolution disse ainda que é difícil reter talento, e que isso se deve muitas vezes à pouca competitividade de Portugal em termos fiscais – “um assunto que tem que vir para cima da mesa”. Partilhou mesmo com a plateia esta ideia que lhe ocorre com frequência, de que paga dois salários por cada pessoa que emprega, um ao colaborador e outro ao Estado, concluindo que face a outros mercados os salários brutos não são assim tão díspares, mas o que conta, no final do dia, é o dinheiro que as pessoas levam para casa pelo seu trabalho.
O aeroporto, sempre o aeroporto
Thierry Ligonnière, a propósito do aeroporto de Lisboa, recordou que neste momento, na Europa, a Portela e Gatwick, em Inglaterra, são “os dois aeroportos mais eficientes”. Ainda assim, há mais que pode ser feito, e existe um plano pronto de melhorias, que implicam um investimento de 200 a 300 milhões de euros, e que, se tudo corresse pelo melhor, poderia arrancar em 2023.
O responsável da ANA alertou para a situação mais dramática e gravosa, que é “o risco de não termos uma solução”, esclarecendo que a empresa fará “aquilo que o governo decidir”. E destacou ainda que construir um novo aeroporto é algo muito complexo, que demorará sempre vários anos. É um processo muito delicado, “A consciência ambiental é hoje muito maior”, e é necessário conduzir estudos aprofundados neste âmbito.
Filipe Silva elencou os cinco pilares de atuação do Turismo de Portugal: informação, procurando conhecer o mercado; formação; financiamento, nomeadamente para a gestão da dívida das empresas e para novos projetos; aprofundar o conhecimento do território, todo ele, em articulação com as regiões, para conseguir depois inovar na oferta; e, finalmente, apoio à venda, com promoção internacional.
Ainda a propósito do aeroporto de Lisboa, o diretor do Turismo de Portugal, lembrou que nenhuma rota, nenhuma operação está a acontecer neste momento a 100%, e que por isso há logo aí uma margem de progressão e de melhoria, “Vamos trabalhar todos para preencher essa diferença que existe, até aos 100%”. E importa também desenvolver estratégias para reter em Portugal, pelo maior número de dias possível, os passageiros que passam pelo nosso país em trânsito, por exemplo entre as Américas e a Europa.
Filipe Silva referiu outros dois desafios, junto dos visitantes, que são gerar repetições e recomendações. Apesar de todas as campanhas que se possam fazer, a recomendação de um turista à família, aos amigos, continua a ter um valor tremendo.
Nota ainda para a atenção a destinos de longa distância, que têm vindo a crescer, como o México, o Japão, a Coreia do Sul, a Índia e mesmo a Austrália, que representam novas oportunidades, embora, garante Filipe Silva, “não nos interessa ter novas rotas que não sejam sustentáveis financeiramente”.
Eduardo Caetano reconheceu que a inflação é uma ameaça real para 2023, porque “já é uma realidade” e vai afetar os principais mercados emissores. A esse propósito, o responsável da Portimar destacou que dos 11 milhões de dormidas no Algarve, entre janeiro e setembro deste ano, 20% são do Reino Unido, e continua a existir por isso uma grande dependência de três ou quatro mercados tradicionais, europeus, embora outros, como o americano, tenham tido crescimentos significativos.
* A Event Point viaja a convite da APAVT