Joaquim Silva: “As pessoas, as viagens e, sobretudo, o não haver monotonia” são a grande motivação
28-09-2022
# tags: Rigging , Vida de Eventos
Joaquim Silva é o proprietário e manager da Evil Angels, empresa especializada em rigging, atividade de montagem, suspensão e elevação de estruturas. Sempre teve “queda para as alturas”, pois “sonhava imenso”, avança entre risos.
A história de como chegou à área dos eventos é longa e tudo começou numa altura em que a sua irmã trabalhava na Odisseia, empresa de audiovisuais, por volta do ano de 1995. “Na altura, ia ver uns concertos e ia com ela de vez em quando. Até ser convidado para um dia fazer ‘followspot’ [operar um instrumento de iluminação] num espetáculo de promoção à Expo’98, chamado ‘As 1001 noites para a Expo’98’. Depois disso, o Joca, na altura um dos donos e responsável da empresa, perguntou‑me se não tinha uns amigos para fazer uma equipa de stagehands. E eu, claro, disse que sim. Assim começou tudo”, referiu, explicando que faziam tudo o que a Odisseia fazia, como o primeiro festival Sudoeste, na Zambujeira do Mar.
“E de stagehand, técnico de iluminação, sou hoje um dos riggers mais conceituados a nível mundial e head-rigger da Altice Arena, Campo Pequeno e Super Bock Arena, assim como dono da única empresa de rigging nacional, a Evil Angels”, frisa.
Há várias coisas que o motivam: “as pessoas, as viagens e, sobretudo, o não haver monotonia.” Afinal, “todos os eventos são diferentes”. Do que mais gosta nesta atividade é dos “desafios que nos apresentam nos projetos”, enquanto que do que menos gosta é de “falta de organização”, ou, em “bom português”, como diz, o ser “tudo feito em cima do joelho”. Ainda assim, ressalva, “eu até gosto da pressão”.
“A rir que nem uns perdidos...”
No percurso de Joaquim Silva há imensos eventos que guarda na memória. E entre os tantos que podia nomear, mesmo não sendo os melhores, o dono da Evil Angels escolheu como mais marcantes a Eurovisão e os MTV Awards.
Há também muitas histórias para contar, até aquelas em que as coisas podiam não ter corrido como planeado, mas em que tudo acaba bem, graças às soluções encontradas, como uma vez, há cerca de uma década, no festival Alive. À última da hora, a equipa teve de “mandar vir duas gruas para suspender o teto do palco principal, pois estava em risco de colapso”. E tudo está bem quando acaba bem.
Mas há uma memória relacionada com o seu trabalho, e que já tem alguns anos, que Joaquim Silva destaca. “Eu e o meu amigo e colega Pedro Martins fomos contratados pelo Chapitô para irmos suspender uns acrobatas à Madeira. Era a inauguração do novo shopping Dolce Vita”, começa por contextualizar.
“Tínhamos a coisa toda controlada. Ia ser mais ou menos uma semana no Funchal e tínhamos alguns dias de folga pelo meio, que depressa passaram a ser apenas umas horas. Ou seja, já tínhamos os nossos aparatos todos montados e o dono da empresa de audiovisuais vem ter connosco e pergunta-nos se nós podíamos suspender uns ecrãs de projeção, pois os riggers que tinham contratado não conseguiam fazer o trabalho. Nós olhamos para aquilo e não era realmente fácil, mas não era nada que nós não fizéssemos. Levaria, no mínimo, um dia a fazê-lo. Dissemos que fazíamos por um preço mais elevado, dada a dificuldade e porque íamos estragar os nossos dias de folga…”
O dono da empresa de audiovisuais aceitou o acordo e assim aconteceu. “Depois de várias peripécias e de um dia de trabalho, chegamos cá abaixo e diz o dito senhor: ‘A cliente não gosta da cor dos ecrãs, temos que mudar’. Nós olhamos novamente um para o outro e dissemos que precisávamos de mais um dia e do dobro do dinheiro. E assim foi. Passados dois dias tínhamos os ecrãs montados, mas apenas nos restaram umas horas para passearmos pela ilha.”Esse mesmo evento no Funchal deixou uma outra marca e Joaquim Silva recorda um momento hilariante, que garantiu algumas gargalhadas. O acesso à cúpula do centro comercial era feito por uns desenfumadores, que abriam e fechavam em 30 segundos, explica. “Ora, estivemos ali à espera e a cronometrar até que decidimos entrar. E entramos, ou tentamos. Pelo menos, eu tentei. O Pedro conseguiu entrar, mas eu não, ou seja, fiquei preso pela barriga”, conta.
“Entretanto, o Pedro estava do lado de dentro, entre o riso e o pânico de me tentar ajudar. Como eu, que não me consegui soltar, pois continuávamos a rir que nem uns perdidos. Foram uns segundos super engraçados. Já dentro, e em cima das vigas, estivemos para aí 30 minutos a rir que nem uns perdidos”, conclui.
© Maria João Leite Redação
Jornalista