Lviv: esperança em tempos de guerra

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Com um conflito nos braços, a Ucrânia está a viver tempos difíceis. Mas está a resistir, a tentar não parar de viver. E foi este o espírito do Lviv Convention Bureau na Conventa.

Lviv é uma cidade localizada na área mais ocidental da Ucrânia e, por ser relativamente segura, acolheu mais de 150 mil deslocados de outras zonas do país, desde o início da guerra. É lá que se encontra o centro de ajuda humanitária, o maior hub de voluntariado, é lá o ponto de encontro para a diplomacia e imprensa internacional, é lá que muitas empresas estão a tentar de novo manter-se erguidas. E é também em Lviv que decorrem, mesmo durante o conflito, alguns eventos nacionais e internacionais.

“Lviv está a tentar andar para a frente, a tentar viver. E, claro, a nossa indústria também”, afirmou Yuliia Katynska, do Lviv Convention Bureau. Aquando do início da guerra, os profissionais dos eventos “transformaram todo o seu trabalho e tentaram usar as suas skills para ajudar as pessoas”. Por exemplo, contribuíram para a logística na estação de comboios, na chegada das pessoas de outras regiões do país, tentaram arranjar-lhes hotéis, abrigos, transporte, mapas da cidade, alimentação…

“Os nossos restaurantes e empresas de catering uniram-se e organizaram espaços para as pessoas poderem ter refeições quentes”, contou Yuliia Katynska, sublinhando a união entre todo o setor MICE, indústria que tenta avançar e organizar diferentes tipos de eventos, que passam por áreas como a saúde, a diplomacia e o voluntariado, por exemplo.

Realizaram-se, e realizam-se, várias reuniões diplomáticas (encontros oficiais, mesas redondas, fóruns) e eventos médicos – pequenas conferências e sessões de formação, nas quais os médicos ucranianos partilham com outros profissionais estrangeiros a sua experiência no tratamento dos ferimentos causados por situações de combate. E o mesmo com os jornalistas. “Os jornalistas ucranianos explicam como lutam contra a propaganda russa, o que estão a fazer, que tipo de rede social utilizam, que tipo de conteúdo… Os jornalistas internacionais estão interessados não apenas em contar as histórias das pessoas, mas também em perceber como os jornalistas ucranianos estão a lidar com toda esta situação.”

Ainda assim, nem tudo é simples e por vezes em Lviv há alarmes aéreos, altura em que é necessário procurar abrigos de segurança, até para a realização desses encontros. “As pessoas fazem o seu melhor para organizar este tipo de coisas, mesmo durante a guerra”, vincou.

“Oportunidade de mostrar ao mundo quem somos”

Já passaram mais de seis meses desde o início do conflito na Ucrânia e Yuliia Katynska fala de exaustão relativamente a esta situação. Mas fala também de esperança e fé no presidente, nos soldados, nos voluntários. “Os ucranianos estão unidos.”

E o Lviv Convention Bureau cruza os dedos com esperança de que, terminada a guerra, tudo volte a ser como antes na meetings industry. “Temos aqui uma enorme oportunidade de mostrar ao mundo quem somos”, dando a hipótese a quem visita o país de “sentir que temos os mesmos sonhos, que temos a mesma rotina, que queremos viver num país normal”, referiu. “Acho que vão adorar!”

Ainda assim, a recuperação ainda deverá demorar “um ano ou dois”. Muitos participantes da Conventa mostraram-se curiosos por visitar a Ucrânia e a entidade espera que isso aconteça o mais brevemente possível.

Para a indústria MICE, Lviv tem semelhanças com algumas cidades europeias. Segundo Yuliia Katynska, Lviv não tem venues muito grandes, mas tem como vantagens o facto de ser muito ‘walkable’, histórica, simpática e com várias estruturas para o setor.

A cidade conta com 1.500 restaurantes e cafés (com distintas gastronomias), 122 hotéis (de gamas variadas e para diferentes tipos de grupos), 110 venues para eventos (entre os quais uma enorme arena, apta para vários tipos de eventos) e 41 hotéis com espaço para a meetings industry. Durante a guerra, houve mesmo a abertura de dois hotéis: o Best Western Plus Market Square Lviv e o Emily Resort.

No capítulo dos incentivos, destaque para os diferentes tipos de tours que se podem fazer na cidade e para a transformação de espaços para eventos. “Temos fábricas que foram transformadas nos últimos anos.” Lviv tem também um festival de jazz, um festival retro, filarmónicas, ópera, exposições…

“Também temos um belo património natural. Não temos mar, como Portugal, mas temos muitos rios, lagos e florestas”, apontou. E ao redor de Lviv é possível encontrar muita coisa por explorar. Experiências que Yuliia Katynska espera também que sejam usufruídas por turistas portugueses.

A presença do Lviv Convention Bureau na Conventa é prova da esperança. E além do mais, este não é um negócio de um dia ou dois. “Estamos a falar do futuro”, referiu, sublinhando a importância de “manter o contacto com os nossos parceiros” para a construção de “uma relação de futuro”.

Lviv a 3D e em realidade aumentada

“A nossa Lviv é muito bonita…”, disse. E é com este amor à cidade que cidadãos, empresas e entidades tudo fazem para voltar a uma vida normal. E até para salvaguardar o património, no caso de a guerra destruir edifícios e monumentos, está a ser feito um trabalho de scanning, para que fiquem digitalmente a salvo.

A utilização da tecnologia para preservar e divulgar a memória e o património arquitetónico da Ucrânia foi algo que fez a Skeiron ao desenvolver o Pocket City AR, um projeto que consiste num conjunto de postais a três dimensões e em realidade aumentada do país e de algumas cidades.

Aparentemente são postais normais, mas a experiência pode ser bastante diferente e especial. Depois de fazer o download da app referente ao projeto, só é necessário fazer a leitura do postal com o telemóvel, através da aplicação. A partir daqui, o edifício ou monumento ganha dimensão e é ainda possível ouvir a descrição e a história sobre ele.

A série referente a Lviv é composta por oito postais, que apresentam o Lviv Theatre of Opera and Ballet, Dominican Church, St. Olga and Elizabeth Church, Potocky Palace, Boim Chapel, Emil Dunikovsky’s Villa, Monument to Taras Shevchenko e Monument to Mykhaylo Hrushevs’ky. Há também postais da Ucrânia, de Kiev, Kharkiv, Odessa e Chortkiv.

*A jornalista viajou a convite da Conventa