Filinto Francisco: “Nada é uma rotina”

Entrevista

10-10-2024

# tags: Algarve , Eventos , Vida de Eventos

Os eventos são, para Filinto Francisco, uma oportunidade diária para “crescer tanto a nível pessoal como a nível profissional”.

Em 2001, depois de concluir uma licenciatura em Marketing, conseguiu uma vaga numa empresa de audiovisuais, a Eurologistix. “Era uma pequena empresa com um grande entendimento do turismo de negócios e de um segmento em grande ascensão, os eventos corporativos”, recorda.

Na altura, integrou “uma pequena equipa de vendas” que “tinha muita experiência no segmento MICE” e, com o sócio fundador, Joaquim Inácio, diz ter aprendido “muito do que esta área tem para ensinar”.

“Aprendi com grandes profissionais que me ensinaram as nuances dos eventos corporativos e assim comecei a trabalhar nesta área e a traçar o caminho para a criação, uns anos mais tarde, do meu próprio projeto”, explica.

Mais de duas décadas depois, Filinto Francisco ainda se lembra “de ter de fazer as peças gráficas para muitos eventos, tendo de aprender rapidamente a trabalhar com programas gráficos, modelação em 3D, aprofundar questões técnicas de equipamentos, aperfeiçoar formas de interação com os diferentes clientes”.

“Eu diria que tem sido uma grande escola e uma forma de conhecer bons amigos”, resume assim a ligação ao setor dos eventos, sublinhando que “a realidade é que nesta área nada é uma rotina e, por isso, a novidade, o desafio e a superação são as caraterísticas que tornam este tipo de trabalho tão viciante”.

Senior Project Consultant e Project Director na Rise, empresa de audiovisuais que criou em 2012, do que Filinto Francisco mais gosta nesta atividade é “do facto de cada projeto ser um desafio diferente”.

Os serviços da Rise “incidem bastante sobre os eventos corporativos internacionais” e Filinto Francisco mostra-se satisfeito sempre que “o trabalho feito por profissionais portugueses é elogiado por estas grandes corporações”.

“Habituamo-nos a ser corajosos e também muitos orgulhosos quando mostramos que no nosso país sabemos fazer bem, com muita qualidade e criatividade”, reforça.

Filinto Francisco afirma que, quando começou a trabalhar na área, “o serviço audiovisual era a componente mais importante para o sucesso de uma reunião ou evento. O destino, o local, a comida eram grandezas de importância inquestionável, mas a componente técnica audiovisual era fulcral na transmissão da mensagem”.

Hoje, considera que a realidade é bem diferente e que “o investimento na qualidade perdeu-se um pouco”. “Do que menos gosto é do facto de no nosso setor o conhecimento técnico -o verdadeiro conhecimento técnico -ter vindo a perder importância para o preço dos serviços apresentados”, sustenta.

O milagre da multiplicação

O primeiro grande evento da Rise foi o que mais o marcou até agora. “Era um evento para 400 delegados onde eu, os meus sócios e mais três ou quatro elementos soubemos superar o facto de sermos bastante pequenos enquanto empresa e parecíamos ter um batalhão de colaboradores”, recorda.

“Fizemos zona de exposição, sala plenária, jantar de boas vindas, jantar de gala e salas paralelas sem pararmos um segundo e as pessoas que sabiam da nossa curta existência perguntavam-nos quantos é que na realidade éramos, espantados que estavam de nos ver em todos os espaços e a conseguirmos concretizar todos os pedidos do nosso cliente”.

Os desafios de uma empresa pequena para grandes eventos estão ainda bem presentes na memória. “No início, quando começámos a Rise, tínhamos de parecer que éramos grandes, porque muito do nosso trabalho sempre foi com eventos internacionais e, como tal, os clientes precisavam de ter alguma segurança nos fornecedores que contratavam”.

No primeiro ano da empresa e primeiro trabalho em Lisboa, o cliente “estava um pouco inseguro” e Filinto Francisco recorda-se de ter contornado as adversidades. “Telefonava-me para falar com o nosso designer e com o nosso responsável de produção para esclarecer algumas dúvidas. E eu tinha de fazer uma voz diferente para o designer e para o colega da produção e deixar assim o cliente descansado depois de todas as perguntas esclarecidas”.

“Éramos só quatro pessoas na altura e tínhamos de parecer mais. Sabiamos que conseguíamos assegurar essas necessidades, porque tínhamos o know-how e tínhamos o tempo do nosso lado. Após esse primeiro evento, fizemos mais dois para esse mesmo cliente, mas aí já com mais colegas”, conta.

Episódios misteriosos de uma planta que se mexia sozinha enquanto um orador discursava num congresso médico -e que afinal se tratou de um técnico cansado que “tocava com o pé no vaso e sem se aperceber fazia um espetáculo de movimento com a planta quase sincronizado com a apresentação” -ou do súbito desaparecimento de um vídeo durante a apresentação de uma marca estão entre os imprevistos já vividos em eventos.

‘Desligar’ depois de um evento “nem sempre é possível e só com um grande suporte familiar é que se consegue seguir em frente”. “Aproveitar sempre que possível o tempo em família é a nossa melhor descompressão”, remata Filinto Francisco.