Convention Bureau na região Centro “é, claramente, para lançar em 2022”
07-02-2022
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Reforçar o posicionamento do destino Centro de Portugal na Meetings Industry é um dos objetivos definidos no novo mandato da direção da Agência Regional de Promoção Turística do Centro de Portugal, que toma posse esta segunda-feira, dia 7.
Em entrevista à Event Point, o presidente, Pedro Machado, esclarece sobre a concretização da velha ambição de criar não um ‘Convention & Visitors Bureau’ no Centro de Portugal, mas sim um ‘Business Tourism Bureau’ que poderá ter na cidade de Coimbra a sua base. O responsável destacou ainda o potencial diferenciador que os eventos e congressos podem encontrar na região.
A criação de um Convention & Visitors Bureau é uma ambição antiga da região Centro de Portugal. Espera que a mesma se concretize neste novo mandato da Agência Regional de Promoção Turística (ARPT) do Centro de Portugal?
É uma velha ambição, não tínhamos o que já conquistámos nestes últimos anos: um conjunto de infraestruturas, como é o caso do Convento de São Francisco, em Coimbra, que tem uma capacidade de carga em simultâneo para mais de 5.000 pessoas. Se somarmos outros espaços, como o caso de Aveiro, da Covilhã, das Universidades, dos nossos seis Institutos Politécnicos, dão-nos uma rede muito interessante, muito competitiva, para nos podermos balançar na MI (Meetings Industry) e que fazem com que, hoje, no Centro de Portugal, já tenhamos essas condições reunidas.
Não sei se se vai chamar Convention Bureau, julgo que deveria ser provavelmente algo mais como um Business Bureau, porque estamos associados a uma indústria que quer ser competitiva. Julgo que ‘Business Tourism Bureau’ era a designação mais correta.
[Espero] que ajude a posicionar o Centro de Portugal, não só por aquilo que são as características instaladas, mas pela possibilidade de resolver alguns problemas estruturais no caso da sazonalidade, da estada média. Sabemos bem que a indústria das convenções, dos seminários, dos congressos, das conferências tem, normalmente, uma aptidão para ser realizada durante vários dias, ao longo do ano, fora dos períodos do pico da procura. Esta ambição é, claramente, para lançar em 2022.
A região Centro é constituída por 100 municípios. Onde poderá ficar localizado? Em Coimbra?
Não está fisicamente definido. Está praticamente desenhado. Sabemos, por exemplo, que a lista dos convention internacionais normalmente pontuam por cidades, não por regiões, nem por destinos. Se formos ver os rankings dos Convention Bureaux da ICCA (International Congress and Convention Association), Lisboa é a cidade mais bem posicionada de Portugal, Porto deve ser a segunda. Mesmo assim estão numa vintena no posicionamento daquilo que é o ranking internacional da ICCA.
Iremos procurar traduzir aquilo que é a mais-valia das marcas mais maduras. Coimbra é uma marca madura, que tem um bom posicionamento internacional. Não é a única, há mais, mas não vamos especular. Pode muito bem vir a ser uma das posições que venhamos a assumir, sendo certo que terá de ser sempre algo catalisador das outras cidades e da sua relação com as outras cidades e nunca castradora das possibilidades que devem surgir pela soma das partes. Quando falamos na soma das partes, temos nove estabelecimentos de ensino superior na região Centro, entre as três universidades e os seis institutos politécnicos, e isso é uma força que não podemos descurar.
A sua visão vai mais no sentido de criar um Convention adstrito à cidade de Coimbra e não tanto à região Centro?
Não. Clarificando, será um Convention que há-de traduzir aquilo que é a diversidade e a oferta da região Centro. Provavelmente, terá que estar materializado fisicamente num espaço próprio - provavelmente Coimbra - e terá que obedecer a uma designação que lhe permita posicionar-se interpares do ponto de vista internacional e, do ponto de vista internacional, é feito por cidades, não é feito nem por destinos, nem por regiões. Desse ponto de vista, Coimbra será aquela que tem mais maturidade para acontecer.
Atrativos para a Meetings Industry
A região Centro tem o Convento de São Francisco, em Coimbra, com uma maior capacidade, mas os restantes venues acomodam eventos e congressos de menores dimensões?
Para os grandes eventos, para os grandes congressos internacionais, a região hoje tem poucos espaços. Tem Coimbra, Fátima e eventualmente pouco mais. Para seminários, congressos, de média dimensão, de média elevada, até aos 1.000/1.500 [participantes] tem muitos espaços.
Porém, com a pandemia e as novas tendências pela escolha de eventos e congressos mais reduzidos, os venues da região Centro podem ter uma vantagem competitiva?
Teremos que trabalhar com esse aparente paradoxo. Por um lado, cada vez mais a tecnologia substitui a distância e teremos mais ou maiores convenções em digital, mas simultaneamente qualquer destino, qualquer ‘bureau’ se bate por captar as pessoas para o seu território, porque no fundo o que queremos é tê-las cá a dormir, a comer.
Apesar disso, acredito que há um tempo de ajustamento e que, seguramente, vai substituir muitos desses eventos.
Simultaneamente, quando pensamos na diferenciação, na capacidade de gerarmos espaços que conseguem conciliar o lazer com o trabalho, julgo que teremos condições para nos podermos posicionar. Portugal, e felizmente a região Centro, tem muito presente esta perceção de espaço ao ar livre, de natureza, de segurança, de saúde. Ao contrário das grandes áreas urbanas, como é o caso de Lisboa, em que se percebeu com este episódio da Covid-19, que tiveram mais dificuldades em recuperar, contrariamente àquilo que é a nossa realidade da região Centro.
Ainda assim, o facto de não termos mega espaços pode ajudar a que tenhamos esse conjunto mais diversificado, mais diluído ao longo do ano e, em vez de estarmos concentrados em um ou dois mega congressos, provavelmente vamos bater-nos mais para termos essas realizações médias. Como é o caso já em março, do Concurso Mundial do Sauvignon, em Torres Vedras, que deve juntar 500 pessoas a 600 pessoas. São eventos médios para os quais temos grande acuidade em poder captá-los e em organizá-los.
Que outros atrativos da região Centro podem funcionar como fator de atração para a realização destes eventos?
Hoje, a região Centro tem uma grande apetência para o turismo ativo, para o ar livre, para o pedestrianismo.
Em janeiro, o Turismo de Portugal apresentou o caderno de internacionalização, onde aparecem os novos produtos turísticos em desenvolvimento, em estruturação para a internacionalização: desportivo, literário, cultural, enoturismo, ecoturismo. No fundo, são aqueles que estão na ‘pole’ para Portugal poder continuar, não só a posicionar-se, mas a abrir a sua palete de oferta turística. Nós somos uma das regiões que tem essas características.
Aquilo que foi durante muitos anos um óbice, um constrangimento, comparativamente com os destinos maduros de Lisboa, Algarve, Madeira, é hoje uma oportunidade.
Um caso concreto, o Dark Sky, nós e o Alentejo teremos as melhores condições naturais para a estruturação do ‘dark sky’. Isso deve-se ao facto de, por exemplo, termos condições de privilegiadas, porque não industrializámos, não urbanizámos, não criámos infraestruturas que tivessem constituído hoje ruído, nomeadamente ruído luminoso, naquelas paragens.
Aquilo que foi durante muitos anos o óbice, neste momento, está a gerar oportunidades novas, quer de estruturação de produtos, quer de captação até de novos modelos de negócio.
Em que mercados é que a região Centro poderá estar mais bem posicionada para se promover no segmento da MI?
Essencialmente, coração da Europa. Do ponto de vista daquilo que é a nossa aptidão, quer pela proximidade, quer até pela tradição, há mercados com quem temos um conjunto de relações ao longo dos últimos anos e que podem, e devem, ajudar a captar esses eventos, mas muito em linha com aquilo que são também a estruturação dos nossos produtos.
Por exemplo, no turismo religioso, aí já não vou só à Europa, vou aos Estados Unidos, mercado asiático. Um caso concreto é o Workshop do Turismo Religioso, que temos em Fátima, é esmagadoramente internacional e desse internacional, parte substantiva vem desde o Brasil, Estados Unidos da América, à Ásia e dentro da Ásia uma grande diversidade.
No fundo, estamos a disputar os 27 mercados que estão na palete de aposta do Turismo de Portugal, que resultaram do Conselho Estratégico da Promoção Turística em que a marca Portugal está presente. Disputamos naturalmente esses e abrimos aqui as oportunidades para outras áreas, como a saúde. O facto de termos hospitais-escola – Coimbra e Covilhã -, é por si só um corredor interessante.
Abrimos o leque obviamente para os eventos, mas também para a possibilidade, em áreas específicas que estamos a estruturar a produto, podermos ser tão ou mais competitivos do que outras regiões.
Obviamente, há ‘handicaps’ que não resolvemos, como a questão da acessibilidade aérea. Contamos com os dois aeroportos, o Porto e Lisboa, - e sem estarmos aqui a discutir se seria ou não seria interessante uma infraestrutura aeroportuária, achamos que sim, não em alternativa ao Montijo, porque não é isso que se trata -, mas existe uma vontade firme da região em recuperar a questão de Monte Real, sobretudo para dar resposta àquilo que pode muito bem ser a procura do turismo religioso.
Relativamente ao comboio, como é que como é que vêem esse outro meio de transporte?
O comboio é para nós um instrumento poderoso para a mobilidade da região e para a projeção da imagem de Portugal. Somos um país demasiado pequeno para nos podermos posicionar do ponto de vista internacional e passar uma imagem de um destino, de um país que leva a sério a agenda da sustentabilidade e não está muito apostado naquilo que é chamado a mobilidade suave.
Julgo que para a região Centro, até pela proximidade que temos dos dois aeroportos, se tivéssemos uma boa oferta, estruturada, moderna, daquilo que é hoje a ferrovia, poderia ajudar-nos não só a resolver problemas de atratividade e de mobilidade, mas também de posicionamento enquanto destino sustentável.
Agora temos problemas graves para resolver. O caso da Linha do Oeste, ainda hoje é uma linha que não é eletrificada, funciona por diesel, combustível fóssil do mais poluente que possamos imaginar. A Linha da Beira Alta ainda está a ser discutida a sua ligação internacional, se vai ser feita por Aveiro ou se é mais a sul.
Considero que é decisivo para nós, do ponto de vista do posicionamento, que tivéssemos uma ferrovia. Até porque estamos na ponta da Europa e seria muito interessante termos uma ligação ferroviária.
Privilegio muito desta visão da ferrovia, até podendo elas estarem ao encontro daquilo que são os novos segmentos. Quando hoje vemos turismo ativo e sobretudo quando estamos a discutir a construção da ‘EuroVelo’ (Rede Europeia de Ciclovias) e outras que são vias estruturantes dos destinos cicláveis, o comboio é do, meu ponto de vista, o primeiro amigo para poder fazer deslocar pessoas com bicicletas, e não só, e para depois podermos percorrer o território.
Apoios financeiros aos eventos e congressos
Considera que há melhorias a fazer no que diz respeito aos mecanismos de apoio financeiro à captação e realização de eventos e congressos internacionais no país, e concretamente no Centro?
Temos que ter consciência daquilo que são as competências da Agência. Ela não tem, infelizmente do meu ponto de vista, uma relação direta na capacidade de poder financiar parte significativa da base do processo de internacionalização que são os seus operadores, a requalificação das nossas unidades, a capacitação dos nossos agentes económicos. Essa, infelizmente, não é uma competência da Agência Regional de Promoção Externa, que é para mim uma base absolutamente incontornável.
O primeiro passo que vamos procurar fazer junto da Comissão de Coordenação da Região Centro (CCDR – Centro), junto do Programa Operacional do Centro, é que o processo da internacionalização, que deve ser liderado pela Agência Regional de Promoção Externa, deveria poder ter eco junto dos programas operacionais dos fundos comunitários para que o nosso trade, para que os nossos stakeholders, fizessem trabalho aturado de requalificação, de modernização, de transformação digital. Ainda hoje, muitos dos nossos operadores praticamente batem em Espanha e pouco mais fazem do que isso no que diz respeito à sua ambição para a internacionalização.
Segundo, um maior investimento na promoção externa no ponto de vista daquilo que é a capacidade de podermos chegar a mercados que são muito importantes para nós. Espanha e Brasil estão nos nossos quatro primeiros mercados emissores e temos uma dotação orçamental global anual na ordem de 1,8 milhões de euros. Se quisermos levar a sério a promoção externa em dois mercados como Espanha, com 50 milhões de habitantes, e o Brasil com 200 milhões de habitantes, temos que reforçar a nossa capacidade física financeira. O segundo patamar da Agência vai ter que ser de podermos reforçar a nossa própria capacidade de fazermos a promoção internacional nos mais variados canais, com os mais variados instrumentos, nas mais variadas ações, para que seja compatível com esta ambição.
Terceiro, a questão do Convention que já falámos, o Business Tourism Bureau, que julgo que a Agência não pode deixar de tratar e, obviamente, que precisamos num trabalho contínuo de melhorar a perceção do destino Centro de Portugal, que ainda hoje em muitos mercados acredito que seja visto como conservador, mais tradicionalista. Depois, gostávamos muito de poder captar investimento privado que nos pudesse ajudar a alimentar as três premissas anteriores.
Quando pensamos a fileira do enoturismo, precisamos mais de infraestruturas contemporâneas, modernas, qualificadas. Precisamos de continuar este trabalho que tem sido feito por alguns operadores, o caso do Luís Veiga quando transformou o turismo da Covilhã, quando pensamos o Paulo Romão em Marialva, o João Tomás nas Penhas Douradas. Todos estes são investimentos qualificantes que têm vindo a ajudar-nos a melhorar a performance daquilo que o destino pode oferecer.
Como nos ensinou Hernâni Lopes há uns anos, isto é uma constelação e esta constelação holística pressupõe que é impossível posicionar no mercado externo se não tivermos depois a jusante capacidade de respondermos à ambição que colocamos nesses mercados.
E é desta rede da parte do setor privado que também vai depender o sucesso do Convention Bureau?
Sim. Desde logo porque, quando captamos eventos, é suposto termos a infraestrutura capaz de responder ao desafio, desde o alojamento, a restauração, mas depois com os programas que são precisos criar para visitas para acompanhantes, etc., tudo aquilo que diz respeito à estruturação do produto.
Depois para vencermos barreiras. Uma das barreiras é a perceção da distância, porque Lisboa e Porto estão mais bem posicionados do que nós. Têm dois portões de entrada e nós precisamos que as pessoas passem o portão e venham para a nossa região. Julgo que o conseguimos fazer e seduzir através daquilo que é a excelência dos produtos.
Quando pensamos a fileira do vinho, a região Centro tem cinco regiões vitivinícolas, que estão hoje, claramente, num processo qualificador muito interessante. Há, cada vez mais, o reconhecimento nacional e internacional de muitos dos vinhos que se fazem no Centro de Portugal, dos brancos aos tintos, aos espumantes, etc. Isso é importante se quisermos ser mais apelativos, do que é por exemplo a região de Lisboa, na capacidade de captarmos eventos. Esses eventos têm que ter a jusante essa oferta para se captarmos um grande evento podermos dizer que temos condições únicas para oferecer, desde experiências gastronómicas e enológicas que os outros não têm. É um trabalho sempre de complementaridade.
Já têm identificadas áreas em que gostariam de captar mais eventos? Quais seriam as áreas em que gostariam de ser mais reconhecidos e que gostariam de apostar mais?
Onde é que ainda podemos ser mais promissores? Obviamente neste campeonato que é um campeonato global de podermos também ser competitivos em matéria dos eventos associados à ciência e à tecnologia. Temos bons exemplos na região Centro. Quando pensamos no Instituto Pedro Nunes em Coimbra, na Feedzai, entre outras, são casos de sucesso internacionais. Se virmos as gazelas e outros processos de caracterizações de empresas, nós temos alguns unicórnios que nasceram na região Centro e esse capital está cá. Julgo que podemos e devemos explorar essa vertente. Temos ainda uma Universidade de Aveiro, que é reconhecida internacionalmente como muito tecnológica e com uma fortíssima ligação ao mercado produtivo, às empresas tecnológicas. O próprio Nest, do Turismo de Portugal, veio instalar-se na Covilhã.
Além daquilo que são os nossos produtos convencionais, que podemos e devemos continuar a ser competitivos, julgo que esta é uma camada que também pode ser [desenvolvida] e aqui casando com a tendência dos nómadas digitais, para os quais criámos a plataforma ‘Work From Centro de Portugal’. No fundo, estamos a procurar também reforçá-la, porque se virmos algumas das características que são pretendidas nos nómadas digitais, a região Centro tem-nas, - assim consiga depois ter oferta de banda larga suficiente nalguns dos seus pontos. Podemos também trabalhar e disputar esse campeonato.
Raquel Relvas Neto