2022 – Odisseia no espaço de trabalho

Opinião

03-03-2022

# tags: Recursos humanos

Espaço. Precisamos de espaço mental e físico para trabalhar.

De perceber o que nos faz bem e o que nos é nocivo. Mas tem sido uma odisseia. Vivenciar o trabalho nos últimos (quase) dois anos tem sido uma verdadeira experiência sociológica, quase épica, fazendo estremecer os tetos das nossas convicções: “eu nunca seria capaz de trabalhar a partir de casa!”, “o teletrabalho para mim não serve”, “preciso de estar com pessoas, no escritório (ou em eventos!)”, “tenho de ter as minhas rotinas e sair de casa”. Pelo menos para mim, “nunca digas nunca”, é uma das aprendizagens a retirar. Nunca é uma palavra demasiadamente forte e não um eufemismo.

Em 2022, tendo já percorrido uma curva de aprendizagem, percebemos que temos de ser mais pragmáticos nesta nossa jornada. As coisas são o que são e há situações que nos ultrapassam. Continuamos a ter preferências pessoais, é natural, mas temos também a necessidade de nos ajustarmos às situações e ao contexto. Há casos em que o teletrabalho tem condições para funcionar, outros há em que a questão nem se pode colocar. Há quem trabalhe de forma remota desde que “inventaram” esta forma de trabalhar. A ideia do work from anywhere é uma miragem para alguns e a realidade do nomadismo digital é um oásis para outros. É viver e aprender, ou vice‑versa. Oxalá que cada um de nós encontrasse o seu lugar ao sol.

Somos desafiados constantemente num mundo em fluxo, o que torna a vida e o trabalho ainda mais paradoxais. Como alcançar o nosso desejo ancestral de segurança num mundo marcado pela incerteza e pela mudança? Let it be é apenas uma música para os nossos ouvidos? Ou conseguimos marcar o nosso ritmo?

Sem receitas, sem fórmulas, a não ser a do “faça você mesmo”. Há algo que todos podemos fazer, desde que nos habituemos. O poder de definir novos hábitos, ou de saber viver com alguns hábitos que, entretanto, nos bateram à porta, sem tocar duas vezes. Estranhámos ao início, mas arranjámos espaço para eles.

Siga a dança. Queremos estar num palco com outras pessoas ‑ leia‑se no escritório ou em eventos, mas temos a pista só para nós, num home office mais ou menos improvisado. Podemos até ter alguns m2 dedicados, mas mais difícil é arranjar e arrumar o espaço mental: onde reside o nosso “eu social” e a nossa necessidade de pertença. Este sentimento tribal e de alinhamento que a nossa equipa de trabalho nos dá e que o Teams/Zoom/ Webex (ainda) não nos proporciona.

Temos saudades dos “outros” e da vida real, fora do ecrã: sejam eles colegas de trabalho, parceiros de negócio ou clientes. Movemo‑nos por diversas e diferentes razões (risque o que não lhe interessar e acrescente o que possa faltar): segurança, sociabilização, status, poder, autoestima ou partilha de recursos, mas, acima de tudo, somos atraídos e identificamo‑nos com pessoas e grupos. E ficámos sem a nossa tribo, a nossa rede de suporte…

Nesta verdadeira odisseia pelo mundo do trabalho, seguimos num guião que parece não ter ainda um final escrito e que, na dúvida, pode ter vários desfechos. É muito fácil sentir o desalinhamento, a desmotivação, a descrença. O “falta qualquer coisa…”. As nossas emoções não têm saído à rua, parecem também elas confinadas. A ideia do “ir para o trabalho”, aquele sítio mágico com um toque humano, entre lágrimas e gargalhadas nos coffee breaks ou “atropelos” nas conversações mais difíceis nas reuniões. Faz‑nos falta ter e sentir “os outros”.

Que este episódio, que estamos a viver e a visualizar na primeira pessoa, nos sirva para arranjarmos mais espaço para as relações humanas. O trabalho não é um local para onde vamos. É um espaço no qual somos parte de um todo, ao qual pertencemos. E também onde fazemos falta.

© Rita Pelica Opinião

Chief Energy Officer ONYOU

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