50 anos do 25 de Abril: Vivemos efetivamente em liberdade?
24-04-2024
# tags: Eventos
Na comemoração dos 50 anos do 25 de Abril, e para aqueles que como eu já nasceram no pós 25 de Abril, nunca sentimos que o país e o mundo estão tão condicionados pela expressão LIBERDADE, ou como em cada momento sentimos que a LIBERDADE está de alguma forma condicionada!
E como afeta o setor dos eventos?
De muitas e variadas formas... e acredito que na maior parte das vezes nem percebemos o quanto somos afetados por restrições à nossa liberdade pessoal, coletiva, e da indústria, pelo estado de coisas que nos rodeiam, quer sejam guerras, alterações legislativas, imposição de parceiros, condicionamento do que podemos dizer ou fazer, a bem de um status quo estabelecido ou simplesmente pelo contorno de situações que muitas vezes ultrapassam a esfera do mérito, para alimentar interesses que não são os das organizações, mas de quem deles beneficia.
Alguns exemplos:
- Conflitos: assistimos nos últimos dois anos a conflitos/guerras entre países que constituíam alguns dos clientes do nosso setor. Eventos com empresas russas ou israelitas em Portugal eram uma realidade quotidiana. Os conflitos existentes retiraram muito do espaço para negócios com estas latitudes (num futuro próximo poderão ser outros??). Enquanto esperamos que regressem, pois vão regressar, continuamos a ser um país atrativo para outros países, pois Portugal continua a ter uma imagem de país seguro e estável. A diversidade de destinos é sempre uma mais valia, para que o setor não esteja dependente das novas realidades, quer elas sejam referentes a clientes, setores de atividade, ou parceiros... A diversidade de opções pode ser sempre uma solução em momentos de crise.
- Liberdade de expressão: pegando em apenas dois exemplos recentes: Web Summit e campanha IKEA vemos como a compatibilidade entre o que pensamos pessoalmente, o que dizemos/escrevemos em público, ou o que vertemos em campanhas de comunicação com maior criatividade pode afetar decisivamente o nosso negócio. Ser arrojado pressupõe, mais do que nunca, olhar a todos os quadrantes e sensibilidades.... e às vezes parece que temos que fazer malabarismo entre o ser, o parecer e o dever ser....
- Exclusividade de fornecedores, fees extras e condicionamento de com quem podemos trabalhar: Portugal é um país de recursos escassos.... é algo que discutimos há anos, e sem uma clara aposta em meios complementares, deparamo-nos sempre com recursos pré-escolhidos em 2ª, 3ª.... 6ª opção.... Esta é a realidade para quem está na qualidade de “procurement” em qualquer empresa de eventos. Acresce a isto que muitos destes espaços estão condicionados por contratos de exclusividade, preferência ou sujeitos a fee extras para que os parceiros com quem queremos trabalhar o possam fazer.... Conclusão: estas condições pré-impostas trazem consequências diretas: aumento dos preços, e a junção do mercado em grandes grupos (formais ou não). A consequência indireta é a perda de várias oportunidades, quando não a fuga de projetos, quando estas situações se tornam sistemáticas.
- Transparência e ética: qual a política contratual?... O melhor? Com mais garantias? O melhor preço? O mais “amigo”? Abrimos ou não ao mercado determinada oportunidade? Ou condicionamos a sua execução a critérios que inviabilizam o mérito, pois estão condicionados à partida? No nosso mercado podemos encontrar todos os exemplos, e mais algum... mas é de estar atento a determinados cadernos de encargos, assim como a propostas que arrasam, pelas condições, outras oportunidades. Os eventos pela posição que ocupam na economia (apesar de continuarmos sem saber os dados do seu peso quer no emprego, no PIB ou na Balança de Pagamentos... para só citar três exemplos.... pois a verdade é que não sabemos....) têm de ser líderes do que toca a condições laborais, práticas salariais, retenção de talento, proporcionalidade entre vida familiar e vida profissional, estabilidade emocional de quem nesta área trabalha.... Tal só é possível se os contratos que efetuamos com clientes, parceiros, fornecedores e recursos humanos forem transparentes e éticos!
- Público vs privado: O que apoiar? Como apoiar? Será que precisa de apoio? Não sei se é efetivamente uma questão ou se será dirigida apenas a uma parte do nosso setor ou se é mesmo para todos, mas não é exatamente clara a sua forma... A verdade é que há projetos que antes de começarem e ganharem “estatuto” precisam de um “empurrão”.... São vários os exemplos: desde isenções de taxas municipais a programas de apoio à captação de eventos ou fundos que aparecem e desaparecem consoante a ”bondade” governativa. Tenho tentado estar atenta a estas oportunidades, pois acredito realmente que há bons projetos “na gaveta” à espera de uma oportunidade.... No entanto, e lamento dizer, cada vez encontro menos racionalidade na forma como as diversas formas de apoio são geridas.… nomeadamente quando deixam de ser um “empurrão” e passam a ser fontes de financiamento de projetos já bem estabelecidos nos calendários públicos e privados ou apoiam o que já está financiado. Será efetivamente o que se pretende destes apoios? O que ganhamos e o que perdemos nesta forma de gestão de recursos?
Mais exemplos ecoam na minha mente, mas pede-me a cautela (ou condicionamento de LIBERDADE) que não me alongue mais.
Cabe-nos a todos ser agentes da LIBERDADE!
25 de Abril SEMPRE!
Porque os eventos são de TODOS, TODOS, TODOS!
© Ana Fernandes Opinião
CEO da Eventors' Lab