Congresso da APAVT: “O turismo não destruiu o centro das cidades”

Reportagem

24-10-2024

# tags: APAVT , Congressos , Turismo , Viagens

A APAVT – Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo está reunida em Huelva no seu 49º congresso, que decorre até 26 de outubro.

Na abertura do congresso, Pedro Costa Ferreira, presidente da APAVT, defendeu o turismo – “um setor que cresce e é responsável por metade do crescimento do nosso país” – dos ataques de que tem vindo a ser alvo, por parte de quem está contra a vinda de turistas, com uma narrativa de ‘turismo a mais’.

“O turismo não destruiu o centro das cidades, afastando de lá as pessoas. Antes do turismo não havia pessoas a viver no centro das cidades. Ninguém queria viver em zonas degradadas, sujas e perigosas”, afirmou Pedro Costa Ferreira, acrescentando que “foi o turismo que recuperou as cidades, colocando residentes no seu centro”.

O responsável sublinhou ainda que “o turismo não apagou a genuinidade nem as tradições dos bairros históricos das cidades”, não acabou com as lojas históricas – pelo contrário, “algumas lojas históricas mantêm-se abertas, porque vendem aos turistas” –, nem “desvirtuou os monumentos históricos, que estavam degradados e afastados dos seus verdadeiros donos, que são as pessoas”, tendo recuperado património. “O turismo preserva a história e propaga a cultura”, além de ser o setor que “melhor integrou imigrantes nas suas estruturas de produção”. Esta é, por isso, “uma luta de todos nós”.

Sobre a gestão da mobilidade, o presidente da APAVT não quis falar das dificuldades, tendo preferido salientar que está “focada em construir com as câmaras municipais um espaço de diálogo absolutamente construtivo”, tendo em vista “uma mobilidade que não exclua ninguém, sobretudo que não exclua os operadores turísticos, os grupos de turistas de mais alto rendimento ou os modernos autocarros que menos poluem”. É, assim, “hora de construir”.

Pedro Costa Ferreira mostrou-se satisfeito com o bom momento que atravessa o setor da distribuição, em termos “de vendas, de recuperação de balanços, de resultados, de emprego ou de remunerações pagas”, e sublinhou a recuperação “notável” depois da pandemia.

A propósito da saída da APAVT da BTL – Bolsa de Turismo de Lisboa em 2025, Pedro Costa Ferreira referiu que a organização da feira de turismo “se tornou gulosa e que apenas usa o sucesso do setor para obter mais e mais dinheiro, sem a menor articulação, ou mesmo respeito, pelos diversos stakeholders”. E desafiou Francisco Calheiros, presidente da Confederação do Turismo de Portugal (CTP), a “tomar politicamente conta” da feira de turismo.

Aludindo ao tema do congresso, ‘Cidade APAVT’, Pedro Costa Ferreira espera que o congresso “seja a casa de partida para uma comunidade mais sensível a tudo o que nos une, mais consciente do valor que preserva e propaga, mais pronta para defender o que, num mundo de repente tão antigo, tão cheio de muros, ódio e intolerância, mais nos aproxima da modernidade, da tolerância e da liberdade, o turismo”, concluiu.

O setor do turismo continua a “criar valor”


Francisco Calheiros, presidente da CTP, salientou os bons números do turismo em Portugal, a subida do número de dormidas e das receitas, e o facto de o setor continuar a “criar valor”. Afirmou que a Península Ibérica é o maior destino do mundo e defendeu que Portugal e Espanha devem ser “aliados” na disputa por mercados fora da Europa.

Francisco Calheiros frisou que “não temos turismo a mais, temos, de facto, é economia a menos” e que os outros setores de atividade “devem aprender” com o turismo. O futuro passa por uma “gestão mais inteligente das cidades”, por uma “modernidade sustentável, sobretudo aérea e ferroviária”, pela “valorização dos nossos profissionais” e pela tecnologia ao serviço do setor.

Aludindo ao tema do congresso, Pedro Machado, secretário de Estado do Turismo, lembrou que uma cidade é por si um espaço de conexões, liberdade e tolerância. Sublinhou a importância da sustentabilidade (que “une as agendas” de vários países e organizações), da cooperação ibérica, da consciência das vantagens e dos riscos da inteligência artificial e do alargamento a novos mercados e da aposta em novas rotas.

David Toscano, da Diputación de Huelva, lembrou que o turismo “é uma indústria-chave para o desenvolvimento económico e social das nossas regiões”, sendo o congresso da APAVT uma “oportunidade magnífica” para os profissionais “partilharem experiências, ideias inovadoras e estratégias, que nos permitam consolidar o crescimento turístico que temos alcançado, mas também projetarmos o futuro”.

David Toscano reconheceu o importante desenvolvimento do Algarve, que é “um modelo de êxito e um exemplo de como se podem transformar territórios, através de uma estratégica turística perfeitamente definida”, e defendeu sinergias entre vizinhos.

Yolanda de Aguilar, secretária-geral do Turismo de Andaluzia, referiu que Portugal e Espanha são “bons vizinhos” e que, além de ser a indústria da felicidade, o turismo é também um setor que promove a paz. É uma indústria transversal, que abrange vários setores, e que tem o poder de transformar territórios.

Pilar Miranda, Alcaldesa de Huelva, contou que a cidade que acolhe o congresso está a trabalhar no desenvolvimento das infraestruturas e que é imperativo aproveitar as sinergias.

“Fazer cada vez mais e cada vez melhor pelas pessoas”


No final da sessão de abertura e antes de Paulo Portas, ex-vice-primeiro-ministro e ministro dos Negócios Estrangeiros, dar conta dos ‘desafios de Portugal na Europa e os desafios da Europa no mundo’, Carlos Abade, presidente do Turismo de Portugal, teve dez minutos para falar à comunidade APAVT. O responsável recordou que o turismo é uma das maiores indústrias do mundo, da felicidade, da paz, da tolerância, dos valores e da conexão entre povos.

Carlos Abade falou do bom momento que o turismo atravessa em Portugal e dos números “extraordinários”. No ano passado, o país registou 25,1 mil milhões de euros em receitas turísticas, um valor que está muito perto do que estava previsto para 2027. Em termos de competitividade turística, Portugal é o 12º destino mais competitivo e o 15º destino mais visitado do mundo. “Não foi algo que caiu do céu, foi algo que foi trabalhado durante anos, por muitos”, para tornar estes números uma realidade. E o país continua a crescer: em agosto, Portugal cresceu no número de dormidas, de turistas e de receitas.

Mas a conjuntura é “bastante particular” e desafiante, alertou Carlos Abade, lembrando a diferença de entendimento sobre o contributo do turismo para a comunidade, os conflitos internacionais, a questão das migrações, a falta de recursos humanos, entre outros tópicos.

E, olhando para todos esses desafios, é necessário “sermos mais competitivos, nas nossas empresas, nos nossos destinos, nos nossos territórios”. Mas sempre tendo em conta o reforço da ligação às comunidades, a gestão inteligente da gestão das cidades, a atração e valorização de talento, a capacidade de liderança. No processo de construção da estratégia, a inspiração deve ser “fazer cada vez mais e cada vez melhor pelas pessoas”, frisou.


*A jornalista viajou a convite da APAVT

© Maria João Leite Redação