“O facto de termos tão pouco moldou-nos a capacidade de fazer muito”
22-10-2024
# tags: Gastronomia , Chefs on Fire , Festivais , Eventos , Música
O Chefs on Fire já passou por vários locais. O último fora do país foi em Madrid, numa edição que correu “muito acima” do esperado.
“Vendemos no primeiro ano o que tínhamos no nosso plano de terceiro ano; o feedback de público, chefs e stakeholders foi fenomenal (muitos apelidando o festival como o melhor de sempre em Espanha); e a aprendizagem foi enorme. Mal podemos esperar para começar a produzir o segundo ano”, revela Gonçalo Castel-Branco, produtor executivo do Chefs On Fire, em jeito de balanço.
Realizar um evento fora de Portugal acarreta, naturalmente, desafios. Mas será assim tão diferente organizar um evento na vizinha Espanha? “Muitíssimo diferente. Não só a cultura de produção é dramaticamente diferente, como os custos são 100 a 200% maiores para qualidade de entrega semelhante. O mercado é maior, mais vibrante e mais competitivo, e isso é bom, mas esta experiência veio confirmar o que há muito digo sobre Portugal e os portugueses: o facto de termos tão pouco moldou-nos a capacidade de fazer muito”, sublinha Gonçalo Castel-Branco.
Neste regresso às origens e à cozinha nas brasas, o organizador do evento conta que recorreram a uma “equipa mista” de fornecedores. Por um lado, esteve em ação “a nossa equipa portuguesa e o nosso património”, tendo seguido viagem “mais de seis camiões diretos de Cascais para Madrid”; por outro lado, a organização recorreu também a “fornecedores locais, nomeadamente em posições-chave”.
“O nosso objetivo é que até 2030 seja o melhor festival do mundo”
Em Portugal, o Chefs on Fire já passou por Cascais, Aveiro, Santarém e Vila Nova de Foz Côa, onde decorreu há dias mais uma edição pop-up. Uma descentralização que, de acordo com Gonçalo Castel-Branco, é para manter. “Vamos continuar a usar o modelo pop-up para chegar a novos públicos, apresentar novos talentos e sublinhar a riqueza gastronómica enorme do nosso país. Mas vamos fixar em apenas três por ano (apesar de termos mais de dez pedidos anualmente), para nos focarmos em melhorar cada vez mais os eventos de Cascais e internacional.”
No que toca aos eventos fora de portas, depois das Maldivas, houve a estreia em Madrid no início do mês de outubro. Uma escolha que não foi feita à toa. O responsável explica que a equipa “analisa múltiplos países em função não só da dimensão e interesse do mercado gastronómico, como das leis que nos impactem logisticamente (por exemplo, na utilização de fogo), como em função de oportunidades concretas (uma cidade que tenha manifestado interesse em receber o projeto, ou um player local com experiência com quem estejamos confortáveis), de forma a priorizar os países que mais nos interessam”.
“Fundamentalmente, o que queremos é não só entregar um produto com a qualidade do original em Cascais, mas também continuar a criar versões com relevância local”, frisa o organizador do evento.
A internacionalização é uma aposta que Gonçalo Castel-Branco não tem dúvidas de que é para continuar. “O Chefs on Fire é hoje o melhor festival gastronómico da Europa, mas o nosso objetivo é que até 2030 seja o melhor festival do mundo”, remata.
“A única maneira de nascerem Chefs on Fire é com o apoio público”
Neste percurso, o evento conta com o apoio do Turismo de Portugal. E sobre esse apoio, o organizador reforça o que já disse muitas vezes: “O modelo de festival que o mercado privado suporta em Portugal obriga a escala, não só porque são quase sempre baseados em música (um mercado em que o preço do talento está dimensionado para escala, obrigando o promotor à mesma), mas também porque os diretores de marketing em Portugal continuam a ter mais facilidade em justificar custo por contacto do que qualidade de contacto.”
Assim, Gonçalo Castel-Branco entende que “a única maneira de nascerem Chefs on Fire é com o apoio público – neste caso, materializado no Turismo de Cascais e Turismo de Portugal, que, com o seu apoio, tornaram este projeto não só um destino de eleição para público qualificado (gerando anualmente milhares de dormidas em Cascais), como um dos primeiros festivais nacionais a serem internacionalizados, sendo hoje um dos maiores promotores da gastronomia portuguesa no mundo”.
Gonçalo Castel-Branco considera ainda que, à semelhança do que já tinha acontecido com o The Presidential Train, “os resultados inequívocos do projeto validam totalmente a visão daqueles que os apoiaram, mas ainda assim acho importante agradecer a coragem dos que arriscaram num mercado sem garantias de sucesso”, conclui.
© Maria João Leite Redação
Jornalista
© Cláudia Coutinho de Sousa Redação
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