Sustentabilidade na arquitetura efémera – um desígnio para o presente
16-12-2022
# tags: Tendências , Sustentabilidade
A sustentabilidade é uma tendência que tem vindo a crescer, fruto não só de estratégias governamentais, mas também da insistência do consumidor, que está cada vez mais atento e informado.
A área dos eventos e da comunicação está particularmente alerta às tendências.
Este push do consumidor tem forçado as marcas a reorientar os seus planos de investimento pois o acesso à informação permite uma transparência dos processos e de todos os envolvidos, seja para uma campanha, produto, evento ou instalação. Para continuar a atrair novos consumidores as marcas devem conseguir passar uma “imagem” autêntica, de investimento e transformação no presente e para um futuro mais sustentável. É aqui que o trabalho do arquiteto pode contribuir com um impacto significativo.
A minha experiência enquanto arquiteto em conjunto com agências criativas e de marketing na criação de estruturas temporárias para a comunicação de marcas – stands, lojas, festivais e outros eventos – tem o desafio da sustentabilidade sempre presente. Qualquer espaço ou estrutura tem como medida inicial os recursos que irá consumir no seu volume de construção e qual a consequente pegada. Quero com isto dizer que, desde a fase de criação até ao fim de vida do objeto físico que construímos, todos os processos podem e devem de forma distinta contribuir positivamente para uma resposta agregadora e consensual no sentido da sustentabilidade, não apenas no photo finish.
Existe uma enorme pressão por parte do cliente/marca em transmitir fácil e rapidamente uma imagem de sustentabilidade, sendo objetivo primordial captar a atenção do consumidor. É, precisamente, nesta fase de materialização dos “novos” objetivos estratégicos da marca que, tanto a agência como o arquiteto podem influenciar o cliente/marca, direcionando-o para as opções que melhor se adequem à mensagem que querem passar. No fundo, tornar essa mensagem verdadeira em todo o processo, ao invés de uma mera camuflagem visual com plantas e paletes reutilizadas, algo que nos habituámos a assistir nos últimos tempos.
Para nós, a sustentabilidade tem alimentado uma paixão por soluções inovadoras – ao nível dos materiais, técnicas e processos -que continuem a ser visualmente apelativas, mas cuja aplicação as permita ser tailored a cada marca e projeto.
A procura por soluções mais sustentáveis também permitiu abrir novas portas e criar redes entre pessoas e áreas de negócios, tradicionalmente de terceira linha (third parties), porque partilham a mesma visão, com claras vantagens na cadeia pós-entrega (ex: marca + agência + Feeders + empresa de reciclagem + artista plástico).
Destas ligações em rede resulta a possibilidade de otimizar a médio/longo prazo decisões que tornam financeiramente sustentável uma estrutura temporária. O caminho passa por criar estímulos para que o cliente/marca diminua a sua pegada através da reutilização de parte da estrutura, ou da sua reutilização por inteiro por mais do que uma vez – permitindo um maior período de amortização do ativo -, através de soluções inovadoras e inteligentes.
A pandemia, a situação geopolítica na Ucrânia e a volatilidade económica que vivemos obrigam-nos novamente a repensar o modo como usufruímos e tratamos os recursos disponíveis. Esta é, novamente também, uma ocasião única para que se possam reinventar algumas atitudes e práticas no meio da arquitetura efémera e comunicação.
Na nossa ótica, o presente período configura uma oportunidade para mudar o paradigma das estratégias de desgaste adotadas por departamentos de compras e clientes que, tal qual são, não permitem a criação e manutenção de empresas e processos sustentáveis.
Como realmente fazer a diferença e comunicar sustentabilidade continua a ser um desafio. Contudo, a aposta deverá ser no “ser” sustentável e não no “parecer”.
É importante que, neste momento de introspeção que nos foi oferecido, aproveitemos para pôr em prática todas as ideias que ajudam a materializar o conceito de sustentabilidade de forma integrada e real, com uma visão partilhada entre todos. Não tenho dúvidas que toda a rede que compõe o nosso setor da arquitetura efémera – clientes, marcas, criativos, fornecedores, indústria e consumidores – está à procura da sustentabilidade.
Precisamos apenas de potenciar o desenvolvimento das soluções para que o processo seja tão apreciado, e reconhecido, quanto o resultado final.
© Joaquim Fonseca e Silva Opinião
Founder & Partner na Feeders